- Além do consenso entre especialistas de que o importante era manter a calma e não sair “vendendo tudo”, outro ponto de destaque foi como a estratégia de ter caixa poderia ser vencedora
- Fazer caixa pode ser tanto juntar recursos para fazer investimentos em um momento mais oportuno quanto para utilizar em emergências ou imprevistos
Bruna Camargo – Quando a guerra entre Rússia e Ucrânia estourou no fim de fevereiro, a dúvida sobre o que fazer com os investimentos tomou conta do mercado. Mas, além do consenso entre especialistas de que o importante era manter a calma e não sair “vendendo tudo”, outro ponto de destaque foi como a estratégia de ter caixa poderia ser vencedora. Afinal, em meio ao cenário de incertezas e volatilidade que um conflito bélico traz, oportunidades devem aparecer – e quem vai aproveitá-las é o investidor que já garantiu alguma liquidez.
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“No momento de aflição do mercado, quando parece que tudo vai desmoronar, há fuga de capital tanto estrangeiro quanto doméstico. Se tem liquidez, o investidor vai descobrir coisas baratas, como de quem ‘vendeu tudo’. A oportunidade estará naqueles papéis que continuam com bons fundamentos e tudo funcionando. Essa é a hora de tirar o dinheiro do caixa e alocar”, afirma Heitor de Nicola, assessor de renda variável da Acqua-Vero Investimentos. Ele ressalta que nada precisa ser “apressado” – a ideia é ter a liquidez para quando fizer sentido “de acordo com o perfil e a estratégia do investidor”.
Segundo Rodrigo Friedrich, chefe de renda variável da Renova Invest, o investidor deve ter em mente que “o que está acontecendo agora no mundo é temporário”. “Quando [os mercados] têm oscilações fortes, não é o momento de fazer caixa, mas de comprar um pouco de ações. Não entrar com 100%, mas comprar ‘parcelas’. Claro que você nunca vai acertar o ‘fundo do poço’, mas consegue se posicionar, comprando as ações mais baratas, e não ficar de fora quando subir”, diz Friedrich.
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Entre tantos papéis na Bolsa, como saber o que olhar? Nicola, da Acqua-Vero, destaca Vale e Petrobras como atrativas no atual cenário. “As grandes gestoras estão se posicionando em papéis de liquidez, até para que eles não fiquem ‘presos’ nos que sofram mais, e também onde possam se aproveitar desse momento. Vemos, por exemplo, o preço das commodities subindo, pela questão da oferta e da demanda em meio às restrições [contra a Rússia]”, justifica.
As blue chips também estão no radar de Friedrich, da Renova Invest, uma vez que são papéis com grande potencial de valorização e que pagam mais dividendos. “As commodities estão disparando, então prefiro olhar para esse setor do que para os de consumo, por exemplo”, acrescenta. Mas Friedrich ainda aponta as small caps como possíveis entradas: “Historicamente, quando a Bolsa tem a retomada depois de uma crise, as ações de small caps tendem a se recuperar em primeiro lugar, pois são as mais voláteis”, explica o especialista.
Para quem é da renda fixa, também há o que olhar. Christiano Clemente, diretor de investimentos do Santander Private Banking, diz que os ativos indexados à inflação, com prazo médio de três a cinco anos, estão “bem atrativos” para quem quer fazer alocações agora. “Há instrumentos com liquidez diária e rentabilidade muito boa”, afirma. Joni Vargas Corrêa de Barros, economista na Zahl Investimentos, acrescenta que também há “taxas interessantes” nas aplicações prefixadas de curto vencimento, pós-fixadas de médio vencimento e atreladas à inflação de longo vencimento.
No entanto, isso vale para quem tem um caixa excedente e que pode ser usado. “Não ter caixa é ruim. Todo mundo tem que saber qual é seu caixa médio”, pontua Clemente, do Santander Private Banking, acrescentando que tampouco é a hora de aumentar o caixa. “O mercado está muito volátil, a gente ainda não sabe o que vai acontecer no curtíssimo prazo”, diz.
Quem não tinha caixa, deve se preparar para a próxima
Fazer caixa pode ser tanto juntar recursos para fazer investimentos em um momento mais oportuno quanto para utilizar em emergências ou imprevistos, explica Barros, da Zahl Investimentos. “É preciso separar uma parte da receita independentemente do cenário que for”, destaca Barros. Os demais especialistas ouvidos pelo Broadcast Investimentos também dizem que a hora de montar o caixa é quando há calmaria e a Bolsa vai bem, não em momentos de crise, como nesta guerra entre Rússia e Ucrânia.
Friedrich, da Renova Invest, diz inclusive que o caixa pode ser feito na própria renda variável. “Há como fazer caixa com algumas operações estruturadas, com derivativos ou opções. Um exemplo é quando o investidor tem uma ação e não quer se desfazer dela, mas precisa montar caixa. O investidor vende a posição à vista e compra as mesmas ações a termo. Com isso, se forma o financeiro para o caixa”, diz. Já na renda fixa, papéis com liquidez diária e de curto prazo, como CDBs, LCIs e LCAs, cumprem a função de fazer caixa, destaca Clemente, do Santander Private Banking.
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Esta reportagem foi publicada no Broadcast Investimentos no dia 04/03/2022, às 15h27.