- Desde o início do mês até esta terça-feira (12), as três titãs do e-commerce figuram entre as maiores altas do Ibovespa
- Magazine Luiza (MGLU3), Via (VIIA) e Americanas (AMER3) valorizaram 25,6%, 32,8% e 26,2% no período, respectivamente
- Apesar das recuperações, analistas ainda olham os papéis com cautela
Em julho, o varejo on-line voltou ao jogo. Desde o início do mês até esta terça-feira (12), as três titãs do e-commerce figuram entre as maiores altas do Ibovespa. Magazine Luiza (MGLU3), Via (VIIA) e Americanas (AMER3) valorizaram 25,6%, 32,8% e 26,2% no período, respectivamente.
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O repique das ações de e-commerce brasileiras na bolsa estaria acontecendo em função de um movimento de rotação de setores. Isto é, os investidores estão migrando de empresas que já sofreram grandes altas no ano para companhias mais descontadas, como é o caso das varejistas.
No acumulado de 2022, MGLU3, VIIA3 e AMER3 cedem 59%, 51% e 45,2% respectivamente.
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É importante lembrar que os dois últimos anos foram uma montanha-russa para as empresas de e-commerce. Embaladas pelo isolamento social e a maior tendência a compras on-line, as ações de Magalu e Via chegaram aos picos históricos de cotação em 2020, no auge da pandemia do coronavírus.
Naquele ano, Magalu chegou à máxima de R$ 28,28. Já Via atingiu os R$ 22,36. O pico de Americanas (antiga B2W) foi de R$ 70,69 em agosto de 2021, um mês depois que a antiga BTOW3 deixou de ser negociada em bolsa para dar lugar aos papéis AMER3.
Contudo, o avanço dos juros e da inflação jogou o varejo on-line na lona. A taxa Selic passou de 2%, em março de 2021, para os atuais 13,25%, o que significa um ajuste agressivo de 11,25 pontos percentuais em pouco mais de um ano.
Já o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação no País, acumula alta de 12,48% em 12 meses (junho de 2021 a junho de 2022). Hoje, mesmo após as valorizações dos últimos dias, os papéis das varejistas estão bem longe dos preços máximos. MGLU3 está cotada a R$ 2,93, VIIA3 a R$ 2,55 e AMER3 a R$ 16,90, conforme o fechamento de terça-feira (12).
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Um dos fatores para a alta das varejistas na Bolsa é a percepção do mercado de que o aperto monetário no Brasil pode estar próximo do fim. De acordo com o Boletim Focus, o consenso de mercado aponta para uma Selic de 13,75% até o fim deste ano e um juro menor, de 10%, para 2023.
Para o IPCA, as perspectivas é de que o índice chegue a 7,67% em 2022 e fique em 5,09% no fim do próximo ano. Com isso, as varejistas podem ter resultados melhores.
Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, aponta o cenário de possível recessão nos EUA como um dos principais fatores para o retorno das varejistas ao topo do Ibovespa. Com a desaceleração econômica no principal mercado do mundo, as expectativas são de que a inflação por lá ceda, pela diminuição do consumo, e os juros acompanhem essa queda.
As quedas dos preços do petróleo no exterior também puxam para baixo as expectativas de inflação no mundo e, com isso, trazem fôlego para as varejistas da Bolsa. O barril de Brent cai 9% no mercado internacional em julho, com os temores de desaceleração econômica e consequente diminuição de demanda pelo combustível.
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“O que vemos é muito a leitura do mercado em torno das expectativas de inflação”, afirma Waldir Morgado, sócio da Nexgen Capital. “Caso o petróleo continue nessa tendência de queda, a visão é de que os bancos centrais possam aliviar o aperto monetário, sem precisar acelerar a alta dos juros.”
Danniela Eiger, head de varejo da XP, reforça que uma possível aprovação da PEC Kamikaze, que eleva o valor do Auxílio Brasil, também deve impulsionar os papéis na bolsa. Com a ampliação do benefício do governo, pode haver aumento de receita das varejistas.
É o momento de comprar?
Recentemente, as companhias de varejo entraram no centro de uma polêmica envolvendo o megainvestidor Luiz Barsi. Ele disse em um podcast que o setor não tem perspectivas promissoras e que as companhias do segmento estão fadadas à falência.
Porém, diferente do que pensa o bilionário, os analistas consultados pelo E-Investidor não enxergam uma possibilidade de quebradeira iminente – mas estão cautelosos com os papéis.
Apesar do breve alívio para as varejistas, Flávia Meirelles, analista da Ágora, ainda não recomenda o investimento em nenhuma das três empresas. Para ela, o curto prazo ainda deve reservar muita volatilidade para as ações e, do ponto de vista de questões macro, a conjuntura ainda não mudou efetivamente.
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“Mantemos nossa recomendação neutra desde o ano passado”, afirma Meirelles. “Mesmo com as expectativas de corte de juros no segundo semestre do ano que vem, devemos ver as taxas de juros altas por algum tempo, porque a inflação ainda está em níveis altos. Não achamos que agora será o momento de virada para essas empresas.”
A especialista da Ágora Investimentos recomenda as ações de companhias mais ligadas ao varejo físico e a produtos essenciais, que tendem a ser mais resilientes contra a inflação. As principais indicações da casa são em Renner (LREN3) e Arezzo (ARZZ3), que atendem públicos voltados a classes mais altas e que não sofrem tanto em períodos de baixa da economia.
O atacarejo Assaí (ASAI3) também é uma recomendação de Meirelles. “São ativos de qualidade, que tem boa liquidez, boa gestão e que executam muito bem”, diz a analista.
Victor Bueno, analista da Nord Research, afirma ver com bons olhos especialmente a performance do Magazine Luiza. Ainda assim, mantém recomendação neutra não só para a companhia da família Trajano, mas para a Via. A research não tem cobertura para Americanas.
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“É uma empresa (Magazine Luiza) que faz movimentos interessantes dentro dos seus fundamentos, uma empresa que vem criando um ecossistema completo dentro do varejo, diferente das concorrentes. Temos visibilidade de crescimento”, reforça Bueno. “Porém, por conta do cenário, não acreditamos ser o momento ideal para comprar.”
Danniela Eiger segue essa mesma linha de raciocínio e mantém recomendação neutra para as varejistas Magalu, Via e Americanas. “Elas estão inseridas em um contexto macro que, na nossa visão, é bastante desafiador. Tem também essa questão da acomodação do digital no pós-pandemia, além do cenário competitivo acirrado”, afirma.
Já Crespi, da Guide, vê as grandes quedas no ano como oportunidades e tem recomendações de compra para os papéis da Magazine Luiza e Americanas. Na visão do analista, a Via ficou para trás em questão de market share e resultados no 1° trimestre, enquanto as duas concorrentes apresentaram recuperações.
“Acreditamos que Magazine Luiza e principalmente Americanas devem continuar no movimento de repique (alta). Já Via, tanto a parte operacional, quanto de business, está ficando para trás”, diz Crespi.
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A Via também anunciou esta semana a aprovação de uma remuneração de R$ 105 milhões para executivos (um volume 60% maior em relação aos proventos do ano passado), mesmo com a empresa passando por um momento delicado. O fato pesou nas perspectivas do analista da Guide em relação aos papéis VIIA3.