- Quando comecei a dar aulas de educação financeira para jovens de escolas públicas, lá em 2019, me lembro que a maior parte dos rostinhos eram de curiosidade
- A pandemia mudou e muito a forma como vemos o dinheiro e deixou muita gente desmotivados e desesperançosos.
- Outro sentimento que se intensificou com a pandemia é o imediatismo
Desemprego, informalidade, fome, inflação… infelizmente, essas palavras voltaram a ser comuns no noticiário brasileiro nos últimos anos. E ao contrário de muitos termos da economia que são abstratos para boa parte da população, estes são sentidos diretamente por muita gente.
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Quando comecei a dar aulas de educação financeira para jovens de escolas públicas, lá em 2019, me lembro que a maior parte dos rostinhos eram de curiosidade. Estávamos vivendo um boom sobre o tema nas redes sociais e todo mundo queria entender o que é o Tesouro Selic e como investir na Bolsa de Valores.
O maior desafio, naquela época, era ensinar as pessoas a filtrar as informações da rede e mostrar a elas que, ao contrário do que muitos diziam, não existe uma “receita de bolo” que funciona invariavelmente para todo mundo.
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Hoje, quando entro em sala de aula, a maioria dos alunos já entende a importância de se ter uma reserva de emergência e tem preocupações mais concretas, como conseguir uma renda extra e aprender a “driblar” os efeitos da inflação para manter o sustento das famílias.
A pandemia mudou e muito a forma como vemos o dinheiro e deixou muita gente desmotivada e sem esperança.
Muitas pessoas perderam o emprego ou tiveram um familiar provedor que faleceu por conta da Covid-19. Ao mesmo tempo, a inflação tem prejudicado principalmente os mais pobres, os colocando em um estado de instabilidade.
Tudo isso tem pressionado os jovens a se tornarem cada vez mais responsáveis pelo sustento familiar e alertado ainda mais para a importância de aprender a lidar da melhor forma possível com o dinheiro.
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“A pandemia e a inflação aumentaram o sentimento de impotência das pessoas e prejudicam principalmente os mais pobres, que têm mais dificuldades em se manter em situações de crise”, comenta André Massaro, professor de finanças, analista de investimentos e membro do Conselho Consultivo da Multiplicando Sonhos.
É preciso falar a língua das pessoas
Tendo em vista todas essas mudanças na vida das pessoas, acredito que o papel da educação financeira é se adaptar. Entender as novas necessidades de cada grupo e criar mecanismos de aprendizagem para cada um é essencial.
Na Multiplicando Sonhos, por exemplo, trouxemos mais conteúdos sobre inflação, renda extra e endividamento. Tornamos as aulas mais dinâmicas e começamos a debater situações reais dos próprios alunos.
Dessa forma, conseguimos não só tornar as aulas mais palpáveis, como também engajar mais os adolescentes, que voltaram para a escola muito mais desanimados e com sentimento de impotência.
As armadilhas do imediatismo
Outro sentimento que se intensificou com a pandemia é o imediatismo. Com o psicológico abalado pelas perdas, as pessoas começaram a buscar formas de recuperar o dinheiro de maneira rápida.
Isso foi um prato cheio para esquemas de pirâmide financeira, quando se promete um retorno rápido e alto após um investimento inicial. E também para o crescimento de pessoas inexperientes investindo na Bolsa de Valores.
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Tivemos um excesso de promessas sobre investimentos arriscados e muita gente investiu na Bolsa e até se tornou day trader com a expectativa de conseguir reverter todo o prejuízo e conseguir dinheiro fácil e rápido.
Mas, como sabemos, não existe “fácil e rápido” quando o assunto é construir uma vida financeira saudável e sólida. Por isso, para André Massaro, teremos uma nova geração de investidores ressentidos com a Bolsa.
“O estigma de que Bolsa de Valores é como jogo de azar tende a voltar por conta desse despreparo das pessoas que entraram nesse mercado ao longo do período da pandemia. Se na última década nós educadores financeiros lutamos para acabar com esse estigma, ele tende a voltar com força agora”, diz Massaro.
Só educação financeira não faz milagre
Infelizmente, o aumento da preocupação dos jovens com a educação financeira não se deu por vontade própria, mas sim por necessidade.
É importante lembrar que, apesar de a educação financeira ser capaz de mudar a vida dos brasileiros para melhor, ela sozinha não faz milagre. Ao saber gerenciar de forma eficiente suas finanças e utilizarem o dinheiro a seu favor, certamente as pessoas viverão melhor, mas para isso, elas precisam ter uma renda mínima para viver com dignidade.
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Precisamos de políticas públicas que favoreçam o surgimento de novos negócios e empregos e que incentivem a educação, a profissionalização e a saúde, afinal, sem um corpo e mente saudável, ninguém consegue trabalhar.
Por isso, pressionar as autoridades, em especial agora neste período de eleições, é fundamental. Leia os projetos de governos dos seus candidatos, se aprofunde no debate. Por mais chato que você ache a política, lembre-se que ela afeta diretamente a nossa vida e a vida daqueles que estão à nossa volta.
E, para finalizar, se quiser fazer a diferença no mundo, torne-se um multiplicador. Venha somar com a gente e ajudar a levar educação financeira para as escolas públicas do Brasil.
Colaboração: Giovanna Castro
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