(Gabriel Bueno da Costa, Estadão Conteúdo) – Membro do conselho do Banco Central Europeu (BCE), Fabio Panetta realizou discurso hoje, na qual discute a possibilidade de adoção de um euro digital, atualmente em discussão na entidade.
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Em sua apresentação, o dirigente considerou que essa modalidade “não deveria ser ‘muito bem-sucedida'”. Um risco, segundo ele, é que o euro digital pudesse ser usado como investimento, retirando depósitos bancários. Sem esse dinheiro, a oferta de crédito seria prejudicada.
Pesquisas recentes, porém, apontam que não necessariamente isso ocorreria. Segundo a argumentação citada por Panetta, a maior competição poderia encorajar bancos a oferecer contratos mais atrativos, e inclusive elevar os volumes depositados. Além disso, salvaguardas evitariam uma tomada excessiva de euro digital, disse ele.
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Panetta acrescentou que um eventual euro digital teria de ser “bem-sucedido o suficiente”. Para isso, teria de ser adotado por consumidores e vendedores. O status de moeda de curto legal poderia facilitar essa aceitação, “mas deve ser insuficiente”, acredita. Do lado dos vendedores, questões como o custo baixo e a facilidade de uso e integração com sistemas existentes são fatores positivos, enquanto entre os consumidores a ampla aceitação, a facilidade de uso, o baixo custo, a velocidade, a segurança e a proteção oferecidas por essa opção são fatores importantes, acrescentou.
O dirigente do BCE enfatizou a questão da privacidade, que precisa ser atendida por um eventual euro digital. Ao mesmo tempo, citou a importância da inclusão financeira nessa alternativa. Como potenciais fatores positivos, ele citou também que um euro digital melhoraria a autonomia estratégica da zona do euro, ao reduzir a dependência de entidades estrangeiras.
Por outro lado, Panetta também enfatizou em sua apresentação a importância de se salvaguardar a soberania monetária. A tecnologia permite a criação de novas formas de moeda digital, e as chamadas stablecoins – atreladas a um ativo – emitidas por grandes empresas de tecnologia poderiam se tornar dominantes, ameaçando o controle público. Isso poderia inibir a capacidade dos bancos centrais de conduzir a política monetária e agir como emprestador de último recurso, em última análise reduzindo o bem-estar público. “Um argumento similar poderia ser feito para moedas emitidas por bancos centrais CBDCs estrangeiros”, advertiu.
Apesar das ressalvas em parte da apresentação, Panetta argumentou que a emissão de um euro digital poderia ter um papel para preservar o papel do dinheiro público como a âncora do sistema monetário, proteger a soberania monetária e apoiar a competição e a eficiência nos pagamentos.
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