- Corretoras e casas de investimento têm notado que a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, no fim de outubro, causou um aumento na procura por internacionalização dos investimentos
- A diversificação internacional ajuda a proteger o patrimônio dos riscos ligados à economia doméstica
- Segundo especialistas, o investimento no exterior faz sentido para além das questões políticas, mas é preciso ser feito com conhecimento e não impulsionado pela incerteza do momento
Corretoras e casas de investimento têm notado que a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, no fim de outubro, causou um aumento na procura por internacionalização dos investimentos. Brasileiros que, com receio principalmente da condução econômica no novo governo, chegam aos especialistas querendo mandar grande parte de seu patrimônio para o exterior e fugir do que consideram um risco intrínseco à realidade do País.
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É o que conta Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora. “Nós temos notado dois movimentos. Não só quem já tem uma conta no exterior querendo mandar mais dinheiro, como também o pessoal perguntando sobre como fazer a abertura pela primeira vez”, diz. Na casa, esse fluxo foi mais forte principalmente nas duas primeiras semanas após o segundo turno.
O mesmo movimento também foi visto na Avenue. “Em uma janela de 30 dias, voltamos a bater recorde de captação. Tem muito investidor que estava esperando o resultado das eleições para mandar dinheiro para os Estados Unidos”, afirma William Castro Alves, estrategista-chefe da corretora.
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Nesta entrevista, o chefe da área de investimentos do C6 Bank, Igor Rongel, relata que também notou um aumento do interesse dos clientes do banco digital por ativos internacionais.
O motivo principal que geralmente leva investidores a buscarem mercados internacionais é a diversificação, que permite não só acesso a uma variação maior de produtos de investimento, mas ajuda a proteger os portfólios das movimentações no mercado doméstico. E é esse último fator que tem feito muita gente pensar em tirar parte da carteira do País.
“A eleição foi o empurrão para o pessoal querer lastrear uma parte do patrimônio em dólar e se proteger dessa incerteza sobre os gastos públicos, tributação e taxações; todas essas inseguranças que acabam fazendo as pessoas mandarem o dinheiro para fora”, explica Castro Alves.
Na direção contrária, os gringos estão voltando à B3. Veja nesta reportagem.
Mas é preciso cuidado – e principalmente conhecimento – antes de fazer esse movimento. Para Jansen Costa, sócio fundador da Fatorial Investimentos, muitos dos investidores podem estar agindo na “irracionalidade”, o que abre espaço para decisões menos acertadas. “A grande maioria dos que chegam aqui não sabem nada sobre os riscos de mandar o dinheiro para fora. Não entendem como funciona o câmbio, as aplicações no exterior”, pontua.
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Em um momento em que a Selic está a 13,75% ao ano e a cotação do dólar está elevada, o custo de oportunidade fica duas vezes maior. Por isso, a importância de deixar de lado a “emoção” e entender bem no que está investindo e como está montando essa posição, explica Costa.
“A pessoa pode acabar dolarizando um dinheiro caro e comprando um produto que vai cair lá fora; um cenário horroroso. Ter uma parte do patrimônio no exterior é super importante, a questão é começar devagarzinho, aprenda como funciona a tributação, os títulos”, diz o sócio da Fatorial.
Por onde começar
A parcela internacionalizada do portfólio deve ser uma posição estrutural, independentemente do cenário político e econômico do País, dizem os especialistas. Isso pode proteger o investidor daqueles riscos ligados à economia doméstica, além de oferecerem certa proteção por estarem atrelados a uma moeda forte.
Para quem quiser começar a enviar dinheiro ao exterior, seja incentivado por razões políticas ou outras estratégias, duas coisas precisam ficar no radar: a cotação do dólar e o momento do mercado nos EUA.
A moeda americana encerrou esta terça-feira (29) cotada a R$ 5,28, um patamar relativamente mais baixo se comparado aos R$ 5,48 visto há cerca de duas semanas. A oscilação é um exemplo de como a volatilidade vinda da política tem pressionado o câmbio, tornando difícil dizer o momento ideal para montar posições dolarizadas. Por isso, uma boa opção pode ser fazer aportes graduais, destaca Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora.
“Temos um monte de incerteza e o câmbio tanto pode ir para R$ 5 quanto para R$ 5,50, a depender de qual será a postura do próximo governo”, diz. O economista explica que, dada a dificuldade de prever a trajetória da moeda no curto prazo, baixas como a desta terça-feira podem abrir uma oportunidade. “De repente, pode fazer sentido usar esses picos para mandar aos poucos o dinheiro para lá e ir fazendo a carteira”, pontua.
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Quanto ao cenário nos EUA, também é preciso ficar atento para não sair do “risco Brasil” e acabar caindo desavisado no meio de um mercado tomado pela aversão ao risco. Em 2022, as bolsas americanas estão bastante penalizadas pelo início do aperto monetário. Desde março, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) já fez seis ajustes consecutivos na taxa de juros americana para conter a maior inflação em mais de 40 anos no país.
Mas, se por um lado a renda variável sofreu, por outro, a renda fixa ganhou destaque – e é aí que estão as oportunidades do momento para os investidores brasileiros que quiserem investir por lá, na visão de William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue.
O especialista explica que os ativos que mais tem sugerido para o atual momento são os bonds, os títulos de renda fixa no exterior emitidos por empresas ou um país. Não só porque o brasileiro já possui a cultura de investimentos desse tipo, mas porque há uma boa janela de oportunidade no mercado.
“A alta de juros precificada pelo mercado fez com que o preço de diversos bonds sofressem uma queda significativa via marcação a mercado, que não víamos há muito tempo. As ações também caíram, mas já vimos quedas até piores”, afirma. Com a queda dos preços, o investidor pode lucrar de duas formas: com os yields entre 5% a 8% em dólar e eventualmente com a valorização do título via marcação a mercado, no médio prazo quando o Fed iniciar o movimento de corte nos juros, destaca Alves.