Um levantamento realizado pela Economatica apontou quais são as empresas da carteira do Ibovespa que hoje possuem mais chances de se tornarem insolventes e, eventualmente, quebrar: Gol, Azul, CVC, TIM e Hapvida. Cada uma com 55%, 42%, 37%, 30% e 28% de probabilidade, respectivamente, de não conseguir pagar os próprios custos.
O cálculo da Economatica foi feito por uma fórmula que inclui valores do capital circulante líquido, ativos totais, reservas de lucro, Ebit (lucro antes de juros e imposto de renda), patrimônio líquido e ativos passivos.
Motivos
Régis Chinchila e Luis Novaes, especialistas da Terra Investimentos, afirmam que essas companhias não tiveram tempo de se preparar financeiramente para o impacto dos juros altos.
Com o mercado especulando que os juros seguirão no mesmo patamar até metade do próximo ano – a 13,75% -, e com possibilidade de queda apenas no final de 2023, empresas com grandes passivos continuarão tendo seus resultados pressionados, o que aumenta o risco de insolvência, destacaram os especialistas.
Fabiano Vaz, sócio e analista de ações da Nord Research, afirmou que as aéreas seguem sem capacidade de gerar caixa e com um risco de endividamento elevado pelo fato da deterioração do cenário doméstico e da perspectiva de uma recessão global.
A Gol e a Azul são empresas que dependem de um cenário doméstico favorável, com baixo desemprego, inflação controlada, juros baixos e crescimento da renda para conseguir elevar os resultados. “A perspectiva ruim para a economia e custos ainda elevados, principalmente do combustível, devem ser fatores cruciais para [prejudicar] as finanças das companhias”, diz Vaz.
A CVC sofre com a desaceleração da atividade econômica do País, o que impacta a sua capacidade de geração de caixa, explica Felipe Pontes, COO da Economatica. Como o negócio é atrelado à demanda de passageiros, a pandemia e a inflação pesaram. Já a TIM, segundo ele, apresenta dificuldades de crescimento das receitas nos últimos anos, o que trouxe uma maior complicação no momento de pagar as despesas financeiras. “Quanto menor o caixa, mais complicado é de quitar os débitos e, assim, a probabilidade de insolvência fica maior”, diz o especialista.
A Hapvida, por sua vez, perdeu margens do Ebit nos últimos trimestres, destacou Pontes. O do 4º trimestre de 2019 era de 18,34% e caiu para 0,50% no terceiro trimestre deste ano. O termo é usado para aferir o lucro operacional da empresa.
“Ou seja, quando a Hapvida gerava no passado sua receita, 18% dela sobrava como lucro operacional, que servia para ter capacidade de caixa e, consequentemente, quitar as dívidas”, ressalta o especialista. Como essa proporção reduziu para 0,50%, o montante para pagar as despesas ficou menor, o que potencializou, assim como a TIM, a possibilidade de insolvência.
Vale investir nas empresas com risco de insolvência?
Heitor De Nicola, especialista de renda variável e sócio da Acqua Vero Investimentos, acredita que os investidores precisam entender a fundo as teses de investimentos, os modelos de negócios, os riscos e para onde as empresas caminham. “[No caso da Gol, Azul, CVC, TIM e Hapvida], caso o investidor veja vantagens competitivas e entenda que essas empresas possuem uma boa perspectiva no futuro, por que não investir?”, diz.
Atualmente, o BTG tem sugestão de compra para Gol, Azul, TIM e Hapvida, e recomendação neutra para CVC. Já o Santander tem indicação de manutenção da Gol, CVC e Azul e de compra para TIM e Hapvida.
Régis Chinchila e Luis Novaes, analistas da Terra, afirmam que o ideal é comprar ações na baixa, quando há perspectivas de que vão se valorizar, mas esse não é o caso de nenhuma delas. “São poucas empresas que se beneficiam de uma economia com altos juros. Vale aportar apenas naquelas que sofrem pouco impacto, como as seguros e energia elétrica.”
Rafael Barros, analista da XP, ressalta que é preciso analisar os motivos da desvalorização das companhias antes de comprar os papéis. Ele explica que é preciso verificar se há um mau humor do mercado no curto prazo ou se realmente os fundamentos da empresa e puxaram a cotação para baixo.
Na prática, segundo o especialista, é preciso olhar a qualidade dos balanços financeiros, se a companhia consegue honrar com suas obrigações com a remuneração dos acionistas e o endividamento da empresa.
Outro lado
A CVC, procurada pelo E-Investidor, afirma que vem honrando todos os seus compromissos financeiros e fazendo a gestão de caixa de forma eficiente e rigorosa. “No meio do ano, a empresa concluiu um aumento de capital de R$ 400 milhões e segue proativamente trabalhando na reavaliação de sua estrutura de capital/dívida que tem vencimentos no primeiro semestre de 2023, conforme informado publicamente”.
A empresa também informou que, apesar do fluxo de caixa ainda negativo, o EBTIDA ajustado foi de R$ 72 milhões no terceiro trimestre deste ano, o maior desde 2019.
A Azul, por sua vez, afirmou que acompanha continuamente a posição de liquidez e continuará adotando medidas para fortalecer a posição de caixa, trazer eficiência nos custos e conter as despesas operacionais. “Tais ações têm se mostrado eficientes para a continuidade e sustentabilidade dos negócios.”
Após a publicação da reportagem, a Hapvida enviou uma nota informando que os indicadores operacionais e financeiros da companhia são “monitorados constantemente pela agência de rating Fitch” e que “todas as emissões de dívida receberam a classificação de grau máximo de investimento (AAA ou Investment Grade)”.
A Hapvida diz ainda que “desconhece a metodologia usada pelo estudo que serviu de base para a reportagem e ressalta que ao final do terceiro trimestre de 2022 possuía mais de R$ 4,88 bilhões em caixa”. A metodologia do cálculo que estima a probabilidade de insolvência, porém, foi enviada pelo E-Investidor para as empresas citadas no estudo.
A Gol informou que não irá comentar o estudo e a TIM não se pronunciou.