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Por que Aloizio Mercadante no governo Lula assombra o mercado?

A indicação do economista foi confirmada nesta terça-feira (13) pelo presidente eleito Lula da Silva

Por que Aloizio Mercadante no governo Lula assombra o mercado?
Aloizio Mercadante é conhecido por ser um economista de viés mais "heterodoxo". Foto: André Dusek/Estadão
  • Nesta terça-feira (13), o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmou que o economista e ex-ministro Aloizio Mercadante (PT) será o novo presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)

Nesta terça-feira (13), o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) confirmou que o economista e ex-ministro Aloizio Mercadante (PT) será o novo presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) durante a sua gestão.

“Não é mais boato”, disse Lula. “Nós estamos precisando de alguém que pense em desenvolvimento, de alguém que pense em reindustrializar esse país, em inovação tecnológica, na geração e financiamento ao pequeno e médio empresário para que esse País volte a gerar emprego”, afirmou o presidente eleito.

Desde a segunda (12), os rumores sobre a indicação circulavam no mercado. No fechamento de ontem, o principal índice de ações da B3 encerrou o dia em queda de 2,02%, aos 105.343,33 pontos. Com a derrocada, a carteira teórica zerou todos os ganhos acumulados em 2022. A notícia também azedou o humor dos investidores e afetou os ativos da petroleira, que também cederam 3,24% no pregão.

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Para entender a reação do mercado, é necessário relembrar quem é Mercadante. Atual coordenador de grupos técnicos da transição, o economista formado na Universidade de São Paulo (USP) liderou três ministérios durante os mandatos da ex-presidente Dilma Rousseff (2011 a 2016): Ciência, Tecnologia e Inovação, Educação e Casa Civil.

“Ele teve participação protagonista durante os mandatos de Dilma Rousseff. Ele foi uma presença efetiva em diversas tomadas de decisão importantes do governo, que não foi bem avaliado pelo mercado”, afirma Matheus Pizzani, economista da CM Capital.

O governo Dilma foi marcado por atitudes consideradas irresponsáveis do ponto de vista fiscal. As sucessivas interferências nas estatais, o controle artificial dos preços da gasolina e energia elétrica, e a chamada “contabilidade criativa” nas contas do governo resultaram na alta da inflação e em recessão.

O ex-ministro também tem mestrado e doutorado em Economia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), considerada de viés mais “heterodoxo” – pensamento econômico antagônico ao tradicional, geralmente associado à política de maiores investimentos públicos para fomentar o crescimento econômico.

“Ele é lido como um economista heterodoxo, o que não é bem visto pelo mercado, considerando a percepção de que isso pode envolver retomada de políticas de caráter desenvolvimentista”, afirma Pizzani.

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Na visão de Flávio Conde, analista de ações da Levante Ideias de Investimentos, a escolha de Mercadante significa que Lula está descartando o suporte de economistas liberais. Figuras respeitadas como Pérsio Arida, Armínio Fraga e Henrique Meirelles chegaram a manifestar apoio ao líder do Partido dos Trabalhadores (PT) durante a corrida eleitoral.

“Ele está desconsiderando, para posições-chave da economia, colocar alguém desse grupo ou apoiado por esse grupo (de liberais). A decepção maior do mercado é em relação a isso. Não é apenas o nome do Haddad ou Mercadante, por si”, diz Conde. “Lula desconsiderou as ideias deles e está apenas colocando pessoas que defendem um lado da moeda, que é o lado do ‘PT raiz’.”

Mercadante no BNDES

A indicação de Mercadante ao BNDES, divulgada pelo Estadão, assusta o mercado financeiro pela perspectiva de um retorno às práticas da gestão de Dilma. Na época, a instituição foi muito utilizada para direcionar crédito com juros abaixo do mercado, por meio do forte endividamento do governo.

“O governo se endividava para fazer com que o BNDES pudesse fazer empréstimos com juros baixos, porque o BNDES não podia ficar operando no prejuízo, então o prejuízo ficava para o Tesouro. Só que hoje não temos essa capacidade de endividamento”, diz Mário Lima, analista sênior de política e macroeconomia da Medley Advisors.

A consequência dessa política é o aumento dos gastos públicos e do risco fiscal, fora a interferência na política monetária. Em outras palavras, a medida provocava distorções no mercado de crédito – enquanto o Banco Central tentava controlar a inflação subindo os juros, o BNDES continuava fornecendo crédito com juro baixo, estimulando o consumo na ponta final.

Durante o governo de Michel Temer (MDB), o programa foi reduzido. Logo, o BNDES pagou a dívida com o governo e os juros dos empréstimos passaram a andar em linha com o mercado. “Isso fez com que as grandes empresas fossem buscar financiamento também via mercado, melhorando o mercado de crédito no Brasil com esse novo desenho”, afirma Lima.

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O analista político ressalta que a formação acadêmica de Mercadante na Unicamp e a possibilidade de que ele apoie maiores gastos públicos para financiar crescimento provoca a dúvida sobre o modelo que será adotado no BNDES caso o ex-ministro assuma o comando da instituição. “Retomar esse modelo de o BNDES promover uma enxurrada de dinheiro no mercado, de forma subsidiada pelo governo, pode criar mais distorções e dificultar o trabalho do Banco Central no combate à inflação”, diz Lima.

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