Pesquisa Febraban de Economia Bancária e Expectativas divulgada nesta segunda-feira (02) mostra uma leve queda na projeção para a expansão da carteira de crédito no País em 2023, para 8,2%, ante a pesquisa anterior, de novembro, que previa alta de 8,4%. O ritmo é menor que o de 2022, com taxa de 14,8% (ante 14,1% esperados anteriormente). O levantamento mostra também que a preocupação dos bancos com a política fiscal gerou um atraso no período esperado para o início do processo de flexibilização da política monetária.
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O ajuste na projeção para a carteira de crédito é resultado da expectativa de menor crescimento da carteira com recursos livres (de 10,0% para 8,6%), enquanto a expectativa para a carteira com recursos direcionados subiu (de 6,1% para 7,7%). Apesar da leve queda, o crescimento acima de 8% em 2023 estará acima do observado no período pré-pandemia (6,5% em 2019).
Para 2022, por sua vez, houve melhora na expectativa em relação à carteira total de crédito, o que se deve principalmente às surpresas positivas com os números mais recentes da economia, especialmente nas linhas de crédito com recursos direcionados, como os programas públicos.
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Outro fator que influenciou a elevação da projeção da carteira total em 2022 é a expansão esperada para a carteira com recursos direcionados, cuja expectativa subiu de 10,2% (novembro) para 13,3%. A projeção para a carteira PF direcionada passou de 13,1% para 16,7%, diante do forte desempenho do crédito rural. Já a expectativa de alta da carteira PJ subiu de 5,3% para 7,3%, diante da nova rodada dos programas públicos de crédito (Pronampe e PEAC-FGI), ainda de acordo com a pesquisa.
A projeção para a carteira com recursos livres caiu, passando de uma alta de 17,3% para 16,3%. A piora foi puxada pela carteira PJ (de 14,3% para 12,9%), que tem mostrado menor dinamismo recentemente, provavelmente, por conta da maior oferta de crédito direcionado e sinais de desaceleração da atividade.
“Enquanto isso, a projeção para a expansão da carteira PF livre subiu de 18,2% para 19,0%, refletindo o forte desempenho das linhas atreladas ao consumo, como o cartão de crédito e crédito pessoal”, explica Rubens Sardenberg, diretor de Economia, Regulação Prudencial e Riscos da Febraban. Os números do ano serão divulgados pelo Banco Central no final de janeiro.
Fiscal e Selic
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Incertezas quanto ao cenário fiscal fizeram com que a expectativa de uma queda da taxa de juros fosse adiada para os últimos trimestres de 2023 e houvesse uma revisão da tendência de crescimento da economia.
A maioria (75%) dos entrevistados espera que o início da flexibilização monetária ocorra apenas a partir do terceiro trimestre de 2023, nas reuniões de agosto ou setembro, enquanto na pesquisa anterior, 60% dos analistas apontavam que isso ocorreria no segundo trimestre. Ainda, 20% dos participantes indicam que a Selic deve começar a cair só no quarto trimestre, algo não apontado na pesquisa de novembro.
A mediana das projeções das instituições financeiras passou a projetar que a Selic fique estável em 13,75% ao ano até junho de 2023. Apenas a partir de agosto seria iniciada a flexibilização da política monetária. Os participantes ficaram divididos se o corte inicial seria de 0,25 ponto porcentual ou 0,50 pp.
“A pesquisa é um alerta sobre a necessidade de rigor na política fiscal e no controle dos gastos públicos”, avalia Isaac Sidney, presidente da Febraban. “Com o cenário externo ruim com inflação elevada, juros altos e atividade em desaceleração e o quadro doméstico igualmente desafiador, temos de buscar uma âncora fiscal forte e crível e firme controle da inflação. Não enxergo outra direção senão perseverar nesses fundamentos econômicos para arrumar a casa.”
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Para a maior parte dos entrevistados, a tramitação da PEC da Transição resultou em alteração tanto do início da flexibilização monetária quanto em uma elevação da taxa terminal da Selic em 2023, aponta Sardenberg. “Apenas 25% afirmaram que não alteraram suas projeções para a taxa Selic. Esse resultado reforça a importância de que o novo governo defina o mais rapidamente possível a nova âncora fiscal da economia”, diz.
PIB e Inflação
Na pesquisa, a fatia de bancos que esperam um aumento do Produto Interno Bruto (PIB) entre 0,5% e 1,0% no ano caiu de 70% para 65% dos entrevistados. Já o porcentual daqueles que acreditam que a economia brasileira não deve crescer mais de 0,5% passou de 25% para 30%. No câmbio, a expectativa é que o valor do dólar se mantenha na faixa de R$ 5,30 no primeiro semestre de 2023, ante entre R$ 5,20 a 5,25 no levantamento anterior.
A Febraban também captou uma piora das projeções para a inflação. Agora, 70% dos entrevistados acreditam como improvável o cumprimento da meta de inflação em 2023, ante 60% em novembro. Os demais 30% acreditam que o IPCA ainda deve ficar dentro do intervalo de tolerância, cujo centro é de 3,25%, podendo variar entre 1,75% e 4,75%. Houve ainda uma piora das expectativas para a inadimplência na carteira livre. Para 2022, a projeção subiu de 4,3% (em novembro) para 4,4%, enquanto para 2023 avançou de 4,4% para 4,7%.
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Mercado americano
Sobre o aperto monetário nos Estados Unidos, os entrevistados ficaram divididos quanto ao patamar final dos juros. Para 55%, o Federal Reserve terá que ser um pouco mais agressivo e levar os Fed Funds até 5,5% ao ano. Os outros 45% não veem necessidade de os juros ultrapassarem os 5,0% ao ano dada a recente desaceleração dos preços e da atividade.