Mercado

Lula toma posse: o que o mercado financeiro espera do novo governo

Para especialistas, processo de transição mostrou que não deve haver mudanças abruptas na economia

  • Aos 77 anos, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumiu neste domingo (1) o cargo de presidente do Brasil pela terceira vez
  • Para Erich Decat, head do time de análise política da Warren Renascença, terceiro mandato de Lula não teria espaço para implantar uma agenda mais à esquerda
  • Leandro Petrokas, diretor de research e sócio da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação para investidores, afirma que empresas do setor de construção civil, especialmente aquelas voltadas ao público de baixa renda, devem ter bom desempenho na gestão de Lula

Aos 77 anos, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumiu neste domingo (1) o cargo de presidente do Brasil pela terceira vez, substituindo Jair Bolsonaro (PL).

Durante a campanha, muitas dúvidas surgiram sobre qual linha o petista seguiria em um novo mandato: uma postura de centro e alinhada aos desejos do mercado financeiro, semelhante à de quando ocupou o Executivo (de 2003 a 2010), ou mais ligada a pautas defendidas pela esquerda, com possibilidade de revogações de reformas feitas a partir da gestão de Michel Temer (MDB).

Para especialistas, o processo de transição mostrou aos investidores que não deve haver nenhuma mudança abrupta em relação à economia ou à estabilidade do País, principalmente em função do contexto político.

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Muitos cargos do Legislativo foram ocupados por representantes do bolsonarismo, o vice Geraldo Alckmin (PSB) foi protagonista durante a transição e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), recebeu acenos do PT de que a sigla não impedirá sua reeleição para o comando da Casa.

Com isso, o terceiro mandato de Lula não teria espaço para implantar uma agenda mais à esquerda. Erich Decat, head do time de análise política da Warren Renascença, diz que Lula “entendeu o recado das urnas”, já que ele teve 50,90% dos votos válidos contra 49,10% de Bolsonaro no segundo turno das eleições. “Ele tem maioria, mas não um cheque em branco”.

Dalton Gardimam, economista-chefe da Ágora Investimentos, lembra que quando Lula assumiu o Executivo pela primeira vez, em 2003, não havia uma regra como o teto de gastos. O que existia era o tripé macroeconômico, uma promessa de manter um superávit primário.

Na visão dele, a gestão do petista ainda não decidiu que caminho seguir com a questão fiscal, o que preocupa os investidores. “Não está claro se vamos enveredar para o caminho do superávit primário, para uma regra de gastos ou uma regra de dívidas. Essas definições serão dadas ao longo do tempo. A credibilidade se ganha na execução ou no arcabouço institucional, no regramento e tudo mais. O mercado vai olhar com lupa cada uma das visões ao longo do tempo”, ressalta.

O mercado esperava um nome tido como técnico e ortodoxo no Ministério da Fazenda. Lula, no entanto, optou por um nome político do próprio PT: Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação, para o posto. Juan Espinhel, especialista em investimentos da Ivest, diz que o mercado precisa ter mais claro qual será o papel da Fazenda nesta gestão petista e o nível de interferência de Lula na pasta. Para ele, o mercado precisa entender como Haddad irá lidar com a trajetória fiscal e qual será a proposta para a nova âncora fiscal.

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Para Espinhel, apesar da mudança de governo, não deve haver uma deterioração dos investimentos no Brasil. “Os investidores devem ficar de olho nas oportunidades, que estarão agora em outros setores e empresas. O novo governo fará uma mudança relevante na condução do País e isso sem dúvidas impulsiona mais algumas empresas do que as outras”.

Leandro Petrokas, diretor de research e sócio da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação para investidores, afirma que empresas do setor de construção civil, especialmente aquelas voltadas ao público de baixa renda, devem ter bom desempenho, já que é de se esperar que sejam concedidos benefícios e incentivos a esse setor, como ocorreu nos mandatos de 2003 a 2010.

Empresas do setor de varejo também devem ir bem na visão de Petrokas, assim como as exportadoras que possuem receita em dólar. “Se houver um descontrole fiscal e medidas populistas forem adotadas, o câmbio pode sentir e empresas que geram caixa em dólar e possuem custos em reais, podem se beneficiar”, diz o especialista. Para ele, estatais e companhias ligadas ao setor elétrico e rodoviário devem ser evitadas pelo investidor, pelo risco de ingerência política.

Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, afirma que ações ligadas a companhias de educação devem se valorizar, já que Lula tem um histórico ligado ao crédito estudantil. As varejistas também podem se beneficiar pela perspectiva de facilidade de crédito, assim como os bancos. “Com Lula, não sabemos se os juros vão cair tão rápido assim. Dessa forma, os bancos ganham com o spread”, afirma. Ele vai na mesma linha de Petrokas e diz que as estatais não seriam boas opções para a carteira.

O investimento estrangeiro no País é outro ponto que precisa ser observado de perto. Petrokas diz que o volume do fluxo gringo na Bolsa vai depender das ações concretas do governo a partir de 2023.

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“Se tivermos um governo mais parecido com o primeiro mandato Lula, com responsabilidade fiscal e uma equipe econômica pró-mercado, há uma boa possibilidade de o investidor estrangeiro continuar interessado nos ativos brasileiros de renda fixa e variável. Por outro lado, caso o governo acene a uma política menos responsável com os gastos, concedendo benefícios, isenções e incentivos sem contrapartida, há uma boa possibilidade de o estrangeiro deixar de aportar recursos e até retirá-los do País”, diz.

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