- Eu, Mercado, faço parte das maiores economias do mundo, e garanto que em outros lugares eu não sou tão julgado quanto aqui no Brasil
- Ultimamente ganhei mais fama porque bati de frente com algumas decisões políticas que não agradaram as pessoas do meu meio
- Você, que me critica, quer ver o que acontece se eu não fizer mais parte do seu dia a dia? Experimente me tirar do jogo
Nas últimas semanas, choveram declarações e críticas sobre o mercado financeiro. Por isso, imagino como ele poderia se defender em meio ao caos de juros altos, um novo governo e acusações de desigualdade social, dizendo:
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Prazer, o meu nome é Mercado Financeiro.
Desde os debates eleitorais, o meu nome tem sido comentado por aí. Já vi gente falando que eu não faço parte da economia, que sou uma mistura de “60 famílias herdeiras brancas” e outros absurdos que não valem o meu tempo. Já que estão falando de mim, venho aqui me apresentar.
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Você deve escutar praticamente todo dia o meu nome por aí, geralmente acompanhado do que eu espero ou como devo reagir à algum tipo de notícia, seja ela econômica ou política. Geralmente, também me associam à aumentos de preços, crises e até como “percursor da desigualdade social”. Sim, mal me conhecem e vivem me acusando de ser o culpado por tudo que acontece.
Desde já eu quero deixar claro que eu sou tão importante que não existe nenhuma economia desenvolvida sem a minha presença. Eu faço parte das maiores economias do mundo e garanto que, em outros lugares, eu não sou tão julgado ou discriminado quanto aqui no Brasil. Aceito a ignorância, leia-se falta de conhecimento da existência ou funcionalidade de algo, do brasileiro sobre quem sou eu, visto que ainda não fui convidado para o BBB 23 ou outros programas que parecem ser o centro das atenções aqui.
Eu não estou sozinho nesse mundo de ativos financeiros e minha opinião sobre alguns fatos é um consenso, não de 60 famílias, mas de mais de 4,5 milhões de pessoas que investem comigo em ações.
Quando eu vejo meu grupo de investidores em renda fixa esse número pula para mais de 12 milhões de pessoas. Sabe quando o governo me critica? É por minha causa que hoje temos mais de 2 milhões de pessoas que investem nos títulos deles, os famosos “títulos públicos” no Tesouro Direto.
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Não tenho habilidades sobrenaturais para adivinhar o que pode acontecer com a economia de um país, mas eu tento, junto das pessoas que convivem comigo, traçar cenários e ajustar preços dos ativos de todos com base no que esperamos da economia para os próximos meses e ano. Minha opinião é sim muito importante e é considerada um termômetro sobre como a economia está andando e para onde ela vai.
Recentemente, ganhei destaque porque bati de frente com algumas decisões políticas que não agradaram as pessoas do meu meio. Se achamos que uma decisão vai fazer mal à economia, ajustamos os preços dos nossos ativos para baixo, estressando todos os ativos financeiros da economia.
Você já deve ter ouvido falar de juros futuros certo? Ele é uma referência para contratos de juros de longo prazo e, quando eu acho que algo vai mal, resolvo que quero mais juros lá na frente para valer o risco de emprestar dinheiro, simples assim. Esse é um belo recado ao governo de que uma decisão não foi bem recebida e por isso vai ter que pagar mais juros.
Entenda o seguinte, o governo é deficitário, ou seja, precisa de dinheiro para cobrir as contas. Quem empresta esse dinheiro são os investidores que fazem parte de grupos como o meu e, sem isso, o governo não teria dinheiro para continuar funcionando. Entende como eu sou importante para o funcionamento da economia?
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Sou importante para as empresas do país como um todo também. Se o valor dessas empresas cai, elas valem menos e assim a capacidade delas de pegar dinheiro emprestado diminui já que o valor delas também caiu. O inverso também é verdade. Falando nas empresas e nos meus amigos, acho que posso me autodenominar o “elo”, o “líder do grupinho”, o bam bam bam que todo mundo quer conhecer. Bom, não sou eu que falo isso, mas todos meus amigos e amigas, Veja o depoimento desta investidora:
“Ah, o Mercado. Depois de conhecer ele, o meu networking aumentou e virei sócia de várias empresas que eu já era cliente. Hoje sou cliente, sócia e acionista de diversas marcas e lojas. Sem o Mercado eu estaria apenas gastando, sem participar do lucro que elas dão”, diz Giovanna Negri, uma pessoa física que investe comigo há mais de dez anos.
Esse é um belo exemplo de uma das vantagens de me conhecer. Eu junto a galera! Coloco credores, investidores, empresas e todo mundo em um mesmo ambiente e deixo o pessoal fazer networking à vontade. Emprestar dinheiro, virar sócio de empresas, ganhar visibilidade e muito mais. Há quem diga que eu sou o responsável pelo “fluxo da economia” e que tudo passa por mim…
O governo me usa para pegar dinheiro emprestado. As empresas me usam para ganhar visibilidade, pegar dinheiro emprestado, para ter valor de mercado “on-line”, os investidores me usam para diversificar seu dinheiro e acessar ativos que sem minha presença seria praticamente impossível.
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Além disso eu gero empregos, diretamente e indiretamente. Aqueles que trabalham diretamente comigo são exigidos ao máximo todos os dias, são pessoas de currículos fortes, dedicadas, informadas e que passam um nervoso maior do que o que deveriam por causa do governo, que a cada dia traz uma novidade.
O João Luiz Braga, analista e sócio da Encore Asset, tem uma definição simples, mas muito completa sobre quem eu sou, o Mercado:
“Todo mundo é o mercado. Eu, você, o padeiro que compra o trigo, importado, para fazer o pão. Se você é um funcionário público, sua aposentadoria está em um fundo de pensão que oscila de acordo com o humor do Sr. Mercado. Todos que participam de alguma forma da economia, comprando bens e serviços, oferecendo ou precisando de dinheiro, todos que tem algum dinheiro guardado, ou seja, todo mundo. De quem tem dinheiro à quem está endividado. Hoje o mercado afeta muito mais a classe mais baixa do que as famílias ricas como dito por aí. Se o mercado cai e o dólar sobe, por exemplo, a classe mais baixa sofre muito mais com a inflação, a escassez de dinheiro”, diz.
Ou seja, você que me critica, quer ver o que acontece se eu não fizer mais parte do seu dia a dia? Experimente me tirar do jogo e tente captar dinheiro para seu déficit fiscal ou para sua expansão. Eu garanto que vou continuar existindo, de um jeito ou de outro, com ou sem você.
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Ah, para rebater aquela declaração infeliz de que sou formado por um número de famílias brancas, gostaria de dizer que sou aberto à todos, sem fazer diferença por raça, cor, idade, peso e nada. Se há desigualdade e nem todos podem vir p,articipar do meu mundo, a culpa é de outros, àqueles que mal entendem como funcionam meu dia a dia, mas, quando podem, vivem me criticando.
Depois eu volto para apresentar alguns parentes como a CVM e CMN, já que parece que “alguns” parecem não conhecer eles também…