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Início do governo Lula é caótico, mas era esperado, diz CEO da Genial

Ao E-Investidor, Rodolfo Riechert explica porque a casa tem um dos targets do Ibov mais conservadores em 2023

Início do governo Lula é caótico, mas era esperado, diz CEO da Genial
CEO da Genial, Rodolfo Riechert explica motivos para visão mais conservadora do Ibov em 2023. (Foto: Divulgação)
  • A primeira semana do mercado financeiro no novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi turbulenta
  • Movimentações em direções variadas que ilustram o que Rodolfo Riechert, CEO da Genial Investimentos, considerou como um início de governo “caótico, mas esperado” do Lula 3
  • Ao E-Investidor, o CEO explicou sua visão do mercado para 2023, disse que não acredita em uma forte entrada de capital estrangeiro na B3, e e destacou boas opções de investimento do período

A primeira semana do mercado financeiro no novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi turbulenta. Na segunda (2) e terça-feira (3), o Ibovespa cedeu 3,06% e 2,08% respectivamente, à medida que investidores reagiam com pessimismo às primeiras sinalizações dadas pela nova gestão. Falas contra o Teto de Gastos, a retirada da Petrobras do plano de privatização do governo, e ministros defendendo rever reformas, por exemplo, intensificaram a volatilidade.

Aqui, contamos com detalhes a queda generalizada do primeiro pregão.

No meio da semana, porém, o humor virou. Houve declarações na direção de maior estabilidade fiscal e contra a interferência na Petrobras; sinalizações que fizeram o índice de referência da B3 encerrar com altas de 1,12%, 2,19% e 1,23% na quarta (4), quinta (5) e sexta-feira (6). No acumulado, o Ibovespa cedeu 0,70%, encerrando a primeira semana de 2023 aos 108.963,70 pontos.

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Nesta segunda-feira (9), um outro elemento entrou na conta: a invasão da Praça dos Três Poderes, em Brasília, por radicais, golpistas e apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Nesta reportagem, contamos como o mercado financeiro acompanhou o ataque anti-democrático do domingo (8).

As movimentações em direções variadas ilustram o que Rodolfo Riechert, CEO da Genial Investimentos, considerou como um início de governo “caótico, mas esperado” do Lula 3.

Para o executivo, a equipe do petista está cumprindo o que prometeu em campanha: priorizar os gastos com o lado social. Como consequência, faz a Bolsa patinar enquanto não desenha a nova regra do arcabouço fiscal e garante maior credibilidade entre investidores.

“Quando o mercado vê que a pauta social justifica qualquer tipo de coisa, parece que não vai dar muito certo. É esse discurso que ainda está parecendo antagônico: para o pobre, a justiça social. Para o empresário, o imposto de renda”, afirma.

A Genial tem um dos menores targets para o Ibovespa em 2023 entre as principais corretoras do mercado, de 109,7 mil pontos. Nesta reportagem, mostramos que há quem veja o índice acima dos 130 mil pontos no fim do ano.

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Riechert explica que a visão mais conservadora para a Bolsa brasileira passa por um “efeito dominó” que um governo mais gastador causaria. Benefícios e programas de distribuição de renda colocam mais dinheiro na economia, o que inevitavelmente aumenta a pressão inflacionária. Isso obrigaria o Banco Central a manter os juros elevados por mais tempo do que o previsto, e acabaria afastando investidores da renda variável. Na percepção da Genial, a Selic deve permanecer em 13,75% ao ano por todo 2023.

Em entrevista ao E-Investidor, o CEO explicou sua visão do mercado para este primeiro ano de governo Lula, disse que não acredita que será um período de forte entrada de capital estrangeiro, e destacou quais são as boas opções de investimento do período. Confira:

E-Investidor – Na primeira semana do novo governo Lula, o Ibovespa teve pregões mistos. Ora de queda acentuada, ora de altas. Qual é a leitura que o sr. faz?

Rodolfo Riechert – Não deveríamos analisar apenas essa primeira semana, já que o mercado vem acompanhando o novo governo desde novembro, quando a eleição foi decidida. Mas olhando só para essa semana, diria que foi um início bem caótico, mas esperado. Os discursos depois da posse são até menos relevantes nesse sentido, porque o governo foi eleito por uma determinada plataforma e nesse primeiro momento tem que seguir isso. Acho até estranho o mercado achar que seria diferente.

O antigo governo era muito pautado pela economia, tinha até um superministro. Nesse governo, são as pautas sociais. E obviamente o mercado vai gostar muito mais daquele que foi eleito com foco na agenda econômica. A conversa agora é não deixar que a pauta da justiça social seja muito antagônica ao que chamamos de mercado. A recepção foi ruim e a perspectiva, por enquanto, é ruim também.

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Qual é o principal temor do mercado em relação ao Lula 3?

Riechert – Me chamou a atenção que, quando o Lula subiu a rampa, subiram junto todo tipo de personagem que deveria representar a sociedade brasileira. Mas faltou um, faltou empresário classe média alta, que emprega um monte de gente e está preocupado com o desenvolvimento; e isso não está presente no discurso do novo governo, como não esteve presente em nenhum momento da campanha.

Quando o mercado vê que a pauta social justifica qualquer tipo de coisa, parece que não vai dar muito certo. É esse discurso que ainda está parecendo antagônico. Para o pobre, a justiça social. Para o empresário, o imposto de renda. Não deveria ter esse tipo de confronto, o ideal é uma sociedade única desenvolvendo o País.

Tem muitos investidores, gestores decepcionados, como se o discurso agora estivesse muito diferente do que foi a campanha inteira. Eu nunca achei isso e para mim a postura está correta, porque ele foi eleito com a promessa de trabalhar as pautas que são mais caras ao eleitor dele. Diria até que o Lula está sendo extremamente verdadeiro ao que foi na campanha. Agora, o pessoal mais ligado ao mercado que acreditava que não seria isso daí, talvez esteja caindo a ficha.

O target da Genial para o Ibovespa em 2023 é um dos mais baixos do mercado (109 mil pontos). Quais fatores levam a essa visão mais conservadora da bolsa brasileira?

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Riechert – Levamos em consideração alguns temas. Primeiro, é um governo que está se dizendo gastador. Se isso acontecer, não vamos ter uma queda da inflação, porque é mais dinheiro em circulação. Isso provavelmente fará com que os juros, que as pessoas estavam imaginando que começariam a cair no primeiro trimestre, não caiam no ano que vem; essa é a nossa premissa.

O segundo evento é que a Bolsa é muito impactada pelas commodities e estamos vendo uma desaceleração global, que faz reduzir a demanda e deveria fazer com que os preços dos insumos caiam. Isso impacta a Vale (VALE3), a Petrobras (PETR4), empresas de papel e celulose, por exemplo.

O outro grande setor, que seriam os bancos, podem sofrer com a alta da inadimplência, causada pela continuidade dos juros altos e o crescimento baixo da economia. É um ciclo que hoje se mostra mais negativo. Vai ter pouco interesse para tomar grandes posições aqui, ainda mais com o atual patamar da renda fixa, fica difícil de competir. Por isso acreditamos que o fluxo vai ser baixo e o nosso cenário é a Bolsa encerrar 2023 mais ou menos no patamar onde está.

Algumas casas têm dito que o aperto monetário no exterior, somado ao momento pior dos emergentes, poderia atrair o capital estrangeiro para o Brasil. Outras, dizem que a incerteza fiscal poderia afastar os gringos de vez. Qual a sua visão?

Riechert – Acho muito difícil ver empresas lá fora querendo fazer grandes investimentos no Brasil. Eles também têm os problemas deles lá fora, então não parece que dali virão grandes novidades. Estávamos realmente em uma trajetória de queda da inflação, o que faria com que o juro real ficasse interessante no Brasil, o que poderia atrair os estrangeiros. Mas nas primeiras declarações do novo governo, o mercado que mais sofreu foram os de DIs, a curva passou a ficar inclinada para frente.

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O investidor estrangeiro que estava entrando aqui para pegar esse movimento, hoje consegue aproveitar as taxas de juros nos Estados Unidos, que vai chegar provavelmente perto de 5%. Entre aplicar em reais a 13,75% ou em dólar a 5%, no curto prazo, eu sinceramente acho que o investidor deve colocar o dinheiro todo lá fora.

Então este começo agora não parece ser o caso de termos uma entrada forte de capital estrangeiro, nem para investimento direto, nem para investimento de portfólio de Bolsa ou de arbitragem de juros.

Enquanto essa volatilidade perdurar, quais são as melhores oportunidades de investimento?

Riechert – No Brasil, a oportunidade sempre esteve em uma carteira mais diversificada. Mas para o investidor pessoa física hoje existem títulos de renda fixa que são relativamente curtos, de empresas boas, que não têm impostos no rendimento, um negócio quase imbatível em termos de aplicação. O cara mais animado poderia olhar para a aplicação nas DIs longas, um papel IPCA +6 ou +7, por exemplo, parece no longo prazo algo maravilhoso a se fazer.

Na Bolsa, sempre tem empresas que me parecem baratas, mas para ser um bom investimento vai ter que ganhar quase 14% na renda fixa. Agora, aqueles que não têm investimentos internacionais e já tem um determinado portfólio deveriam olhar para a diversificação geográfica e colocar um pouco de dinheiro em dólar. Não é nada que precise ser feito da noite para o dia, mas é sempre bom ter um pouquinho de dinheiro lá fora, para dormir tranquilo.

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Sobre essa alocação no exterior, foco em ações ou vale aproveitar o momento de alta dos juros nos Estados Unidos e ir para a renda fixa?

Riechert – Hoje em dia, as ações lá estão tão voláteis quanto aqui. Com juros tão atraentes lá fora, você coloca seu dinheiro e, depois que o cenário clarear, você consegue realocar tudo e com liquidez. Eu não faria nenhum movimento em Bolsa, olhando para a diversificação para a pessoa física.

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