- No total, mais de 50 mil profissionais foram desligados das gigantes da tecnologia nos últimos três meses
- Contudo, se por um lado as demissões geram - com razão - incertezas entre os profissionais de tecnologia, por outro tiveram impacto positivo nos papéis das big techs
- Todas as ações acumulam altas em janeiro, após baixas expressivas no acumulado de 2022
O sentimento de insegurança tomou conta do mercado de tecnologia nos últimos meses. As demissões em massa no setor começaram por empresas menores e já chegaram nas principais companhias do mundo.
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Na última segunda-feira (23), o Spotify (SPOT, S1PO34) anunciou que demitirá 6% dos funcionários, o que acarretaria em um montante estimado entre US$ 35 milhões a US$ 45 milhões em indenizações. Na semana passada, o Google (GOOG, GOGL34) confirmou a demissão de 12 mil funcionários e a Microsoft (MSFT) anunciou o desligamento de 10 mil colaboradores.
A Amazon também deve efetuar a demissão de 18 mil pessoas até o fim de janeiro. Em novembro do ano passado, outros 11 mil foram demitidos da Meta (META, M1TA34), dona do Facebook, e mais de 3 mil deixaram o Twitter, após a compra da empresa por Elon Musk. Das chamadas “big techs”, apenas a Apple (AAPL, AAPL34) ainda não enxugou seu quadro.
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No total, mais de 50 mil profissionais foram desligados das gigantes da tecnologia.
A onda de demissões nas principais companhias do mundo gerou temor nas redes sociais. De acordo com os especialistas consultados pelo E-Investidor, as empresas de tecnologia vivem um período de desaceleração do crescimento, em função da conjuntura econômica de juros e inflação mais altos.
Os EUA lidam atualmente com a maior inflação em mais de 40 anos, de 6,5% em 2022, enquanto a atual taxa de juros alvo, no intervalo entre 4,25% e 4,5%, é a maior em mais de 15 anos. Os europeus também enfrentam a mesma situação, de deterioração macroeconômica. Com isso, há um temor de recessão global.
“O setor de tech é altamente dependente de dinheiro. Com os juros altos, o custo do dinheiro fica mais caro. E aí vemos várias empresas que contrataram demais durante a pandemia, que nunca lideram com cenário de juros altos, se ajustando à nova realidade”, afirma Fabio Fares, especialista em análise macro da Quantzed.
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Além disso, o segmento cresceu bastante durante a pandemia, quando as companhias de tecnologia foram bastante demandadas em função das novas necessidades geradas pelos lockdowns. Agora, sofrem uma contração com a reabertura da economia.
“Todas as big techs estavam expostas a tendências muito aceleradas durante a pandemia. Registraram um crescimento fortíssimo pela maior digitalização e anteciparam um crescimento muito grande, tiveram que contratar muita gente. Agora, com a deterioração macro, a perspectiva é de desaceleração”, diz Rafael Nobre, analista Internacional da XP.
Contudo, se por um lado as demissões geram – com razão – incertezas entre os profissionais de tecnologia, por outro tiveram impacto positivo nos papéis das big techs. De acordo com dados levantados por Einar Rivero, head comercial do TradeMap, todas as ações acumulam altas em janeiro, após baixas expressivas no acumulado de 2022.
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Além disso, em 2023 essas big techs cresceram US$ 484,3 bilhões em valor de mercado, o que representa 59% do valor de mercado de todas as empresas listadas na B3.
Rivero ainda aponta que em 2022 a queda de valor dessas empresas foi de US$ 3,8 trilhões, o equivalente a 4,7 vezes o valor de mercado de todas as empresas listadas na B3.
“Efeito Musk”
O encolhimento da base de funcionários teve efeito positivo no mercado financeiro pela ótica de corte de custos, em um cenário econômico desfavorável. Fares, da Quantzed, aponta que o mercado está percebendo que diminuir o número de funcionários não significa que a operação será afetada.
Esse viés ficou claro, segundo ele, após Elon Musk comprar o Twitter. “Ele mandou mais de 50% do staff embora e o Twitter continua rodando tão bem quanto antes, quando se tinha o dobro de pessoas trabalhando”, afirma.
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É o que também ressalta Bruno Maia, CEO da Feel The Match, desenvolvedora de propriedades intelectuais voltada para streaming e blockchain. Apesar de não ter sido o primeiro a fazer cortes, houve muita repercussão do “efeito Elon Musk” no Twitter. “O aparente êxito que ele está tendo em reduzir a quantidade de funcionários sem perder a operação tem encorajado as techs a darem uma enxugada e avaliarem se a estrutura que usam é realmente necessária”, diz Maia.
As demissões também são lidas como medidas para enquadrar a empresa a uma nova situação econômica, mais desfavorável do que aquela vivida na pandemia. Guilherme Zanin, analista da Avenue, ressalta que todas as gigantes de tecnologia diminuíram as perspectivas de crescimento.
Portanto, cortes de custos se tornam necessários. “Para o investidor que tem as ações não é motivo de preocupação, muito pelo contrário. Isso demonstra que as empresas estão buscando mais eficiência operacional”, afirma Zanin. O analista ressalta que as empresas também tendem a priorizar projetos mais viáveis economicamente e que tragam resultados consistentes.
No curto prazo, as big techs ainda devem viver em uma conjuntura adversa. Já no longo prazo, devem manter a dominância em seus setores.
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“Todas elas são bem capitalizadas, geram muito caixa e estão bem posicionadas para enfrentar uma recessão”, aponta Nobre, da XP. Entre as gigantes, a preferida do analista é a Microsoft, pela resiliência das receitas e modelo de negócios. Já na ponta negativa, o Google e a Meta devem ter um risco maior, por terem um business mais cíclico e maior dependência de anúncios digitais, que podem sofrer em uma recessão.
Fares, da Quantzed, recomenda que os investidores priorizem as maiores. “Olhando para Amazon, Google, Microsoft e Apple, ficamos mais tranquilos. A Meta fica um pouco mais distante: eles passam por dificuldades por conta do investimento pesado no metaverso, ainda uma promessa”, diz.