- Para esses investidores, investir na bolsa de valores significa encontrar o "bilhete premiado" que seja capaz de lhe oferecer um retorno expressivo
- Na avaliação de analistas, a possibilidade existe, mas os riscos envolvidos na busca incessante do bilhete premiado são maiores
- O outro problema, além de encontrar o "bilhete premiado", é preservar o patrimônio conquistado após o momento de"sorte"
A volatilidade diária da bolsa de valores costuma trazer uma certa “ansiedade” para os novatos de renda variável. O sentimento se justifica diante da oscilação dos preços das ações no curto prazo. Nos momentos de baixa, o investidor iniciante enxerga o prejuízo, enquanto nos pregões de alta, o pensamento é que está deixando de ganhar dinheiro.
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Essa lógica de curtíssimo prazo estimula quem ainda tem pouca experiência a adotar uma postura de busca pelo “bilhete premiado” no mercado acionário. Normalmente, a escolha da ação e do momento de comprá-la ou vendê-la está baseada mais na intuição do investidor novato sobre a efetividade da sua estratégia do que em uma análise fundamentalista de investimentos, sendo esta última estratégia a mais indicada pelos especialistas.
O comportamento gera um efeito já esperado pelos agentes de mercado: um fluxo de pessoas na bolsa que varia de acordo com a performance dos ativos de renda variável. Esse movimento se torna evidente ao comparar o volume de investidores pessoa física com o desempenho do Ibovespa, principal índice da bolsa de valores.
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Segundo os dados da B3, nos últimos quatro anos, o fluxo de entrada de investidores pessoa física foi maior nos períodos de alta do IBOV. De 2018 a 2020, por exemplo, quando o número de investidores pessoa física saltou de 700 mil para 2,7 milhões, o Ibovespa apresentou ganhos anuais acumulados de 15% em 2018, de 31,6% em 2019 e de 2,9% em 2020, respectivamente.
Veja a evolução do números de investidores pessoa física na Bolsa em quatro anos
Ano | Número de investidores PF | Performance do Ibovespa | Variação anual de investidores |
2018 | 700 mil | 15% | 16,6% |
2019 | 1,4 milhão | 32,6% | 100% |
2020 | 2,7 milhões | 2,3% | 92,8% |
2021 | 4,4 milhões | -11,9% | 62,9% |
2022 | 5 milhões | 4,6% | 13,6% |
Fonte: B3 e Einar Rivero, head comercial do TradeMap |
O ritmo de crescimento caiu após o período em que o IBOV apresentou perdas em virtude das incertezas econômicas. Para Ricardo Schwaitzer, analista CNPI e consultor independente de valores mobiliários, esse movimento acontece porque a população ainda tem em mente a ideia “romantizada” dos investimentos em renda variável de que encontrar a ação “certa” poderá deixar o investidor rico da noite para o dia.
Geralmente, o resultado desse pensamento pode se resumir em frustração. “As pessoas não querem ficar ricas em 20 anos. Querem que isso aconteça no amanhã. Isso traduz uma expectativa muito equivocada na maneira como se faz os investimentos”, afirma Schwaitzer.
A prevalência desse pensamento equivocado, citado pelo analista que ajudou a fundar a Nord Research, tem também relação com a forma com que o mundo dos investimentos costuma ser apresentado. “Ninguém compartilha abertamente o conhecimento de como investir e as pessoas saem da bolsa porque levam um tombo e não conseguem mais se recuperar”, acrescenta.
Isso não significa que o portfólio dos outros investidores não tenha os seus momentos de baixa. A grande diferença é que eles, principalmente aqueles com o foco no longo prazo, aproveitam os períodos de queda da bolsa para comprar ações de boas empresas a preços mais acessíveis, deixando de lado os “modismos” nas rodas de conversa sobre investimentos.
“São investidores que seguem o chamado efeito manada. Ou seja, acompanha o movimento dos agentes institucionais. E quando a ação cai o investidor fica sem saber o que fazer”, diz Sarai Molina, gerente da área educacional da Ágora Investimentos.
É possível encontrar o “bilhete premiado” na bolsa?
As chances existem, mas são mínimas assim como são mínimas as chances de ganhar na mega-sena. Por isso, a busca por esses ativos “milagrosos” não deve ser base da tese de investimentos de ninguém. Pelo contrário, a sorte precisa ser reconhecida como uma grata surpresa e não como objetivo alcançado. Além disso, o maior desafio vem depois de encontrar o “bilhete premiado”: preservar o patrimônio obtido.
“A maior parte dessas pessoas que encontram o bilhete premiado não corre para a renda fixa. Continuam no mercado de ações e entregam maior parte dos retornos tentando reviver o momento do primeiro bilhete”, afirma Schwaitzer.
Cristiane Fensterseifer, analista de CNPI e fundadora do Investe10, acredita ser possível encontrar esses ganhos expressivos entre as ações de microcaps e smallcaps, termos que se referem a companhias consideradas pequenas quando comparadas com as demais empresas na bolsa.
Segundo ela, tais ativos estão com preços “descontados” (negociados abaixo do considerado justo) em relação a outros ativos. “Às vezes, uma microcap se muiltplica várias vezes e salva o portfólio do investidor. O erro seria apostar apenas em um bilhete”, afirma Fensterseifer.
A orientação da analista não significa que o investidor tenha que fazer aportes aleatoriamente nesse grupo de ações. Pelo contrário, os investimentos devem estar alinhados a alguns critérios básicos. “O investidor precisa pegar companhias com boa saúde financeira, com boas perspectivas de crescimento e que estejam negociando com um valuation (valor de mercado) muito baixo”, orienta Fensterseifer.
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