- A expectativa de queda da taxa de juros, que é um fator sensível para o setor, tem impulsionado essa valorização
- As ações da MRV, Eztec e Cyrela, que compõem o Ibovespa, têm apresentado um desempenho positivo
- Apesar disso, ainda há instabilidades que devem ser consideradas antes de investir
A construção civil, um dos setores mais impactados pelos juros altos, começa a dar indícios de recuperação. Atentos a esse movimento, investidores observam um cenário curioso ao consultar as indicações de corretoras. Com instabilidades que ainda rondam o setor, não há consenso sobre ações em destaques, com teses pulverizadas entre diferentes opções.
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No acumulado de 30 dias até o início do pregão desta sexta-feira (12), das 23 ações de construtoras listadas na B3, 19 registravam valorização. Entre as que compõem o Ibovespa, MRV (MRVE3) crescia 24,97%, Eztec (EZTC3) 3%% e Cyrela (CYRE3) 5,36%. Outras várias estão em destaques, como a Tenda (TEND3), com alta de 44,27% e Trisul, com valorização de 18,87% nos últimos 30 dias.
A alta atual tem maior ligação com expectativas futuras do que com resultados concretos. O economista André Perfeito explica que o setor é altamente sensível à taxa de juros, oscilando de acordo com a alteração da política monetária. Antes do início da alta da curva da Selic, em março de 2021, MRV oscilava na casa dos R$ 20, cerca de 140% a mais que os atuais R$ 8,90. A Ezetc estava estava em R$ 32, cerca de 110% a mais que os atuais R$ 15,02.
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“Como agora a expectativa é de queda dos juros ainda neste ano, já sendo visto isso nos juros mais longos, corrobora com a ideia de que ‘tanto faz’ entre qual empresa escolher para investir. Em um cenário de perspectiva de melhoras, como os preços das ações estão muito baixos, a maior chance é de subirem”, considera Perfeito.
Em relatório mensal sobre o mercado da construção civil, o Itaú BBA considera que há uma tendência de melhoria sustentada, com redução nos estoques, queda do índice de custo e perspectiva de aumento nas concessões de crédito imobiliário. O relatório aponta a MRV como preferência entre nomes expostos ao público de baixa renda, e a EZTEC a principal escolha no segmento de renda média.
Ressalvas
Antes de decidir investir, porém, é preciso estar atento às instabilidades. “Embora esteja em um nível de preço interessante, carece de gatilhos para justificar a entrada. Enquanto não tivermos de fato os juros caindo, acho que fica difícil tomar posicionamento de médio e longo prazo”, observa Wellington Lourenço, analista da Ágora.
Os gatilhos citados por Lourenço também inclui o julgamento em curso no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a ação que procura corrigir os saldos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). A avaliação é de que a medida pode reduzir a capacidade do governo de investir em programas de moradia, o que então enfraqueceria ações como as da MRV.
“Além da incerteza em relação a quando os juros serão reduzidos, as empresas de incorporação que atuam em segmentos incentivados por programas governamentais, como o Minha Casa, Minha Vida, por exemplo, estão sujeitas ao volume de recursos destinado a eles, que dependem de decisões políticas”, destaca Ivan Barboza, sócio e gestor do Ártica.
Apesar disso, Barboza pondera que, superadas as dúvidas, há bastante espaço para valorização. “Uma vez que o ambiente macro se torne mais favorável, a tendência é que o setor se beneficie da demanda que ficou represada neste período de financiamentos mais caros”, explica.
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