- O mercado norte-americano está passando por um período de tensão devido à elevação da taxa básica de juros, possíveis riscos de crise bancária e aumento da inflação
- Apesar da renda fixa ser atraente com juros elevados, investir em renda variável no exterior pode ser uma oportunidade
- A MP que busca taxar dividendos internacionais é uma dúvida atual para os investidores, mas pode pesar pouco para os pequenos investidores
O mercado financeiro dos Estados Unidos segue tensionado por um conjunto de fatores que têm enfraquecido os ativos de renda variável. Além da recente elevação da taxa básica de juros, os investidores observam de perto os possíveis riscos de crise bancária, a elevação da inflação e, agora, dúvidas sobre capacidade de pagamento da dívida do país. Tal quadro, porém, pode ter criado uma janela de oportunidade para a diversificação de carteiras, com diversos ativos mantendo atratividade para o investidor brasileiro.
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Ainda que os juros elevados chamem a atenção para a renda fixa, o atual período é visto por analistas como de grande potencial para se expor à renda variável no exterior. Gustavo Aranha, sócio e diretor de distribuição da GeoCapital, gestora especializada em fundos de ações globais, defende que pensando no longo prazo, há papéis ainda muito descontados e que devem render bons frutos.
“Um portfólio pensando em três a cinco anos precisa ter alocações globais, em companhia dominantes e geradoras de caixa. Neste momento elas estão disponíveis por preços bastante atrativos”, diz Aranha. Para ele, ainda que os juros possam repelir parte da expansão desse mercado, o fluxo de brasileiros que buscam ativos no exterior segue crescendo.
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Rodrigo Samaia, responsável pela área de produtos da EQI Internacional, diz que tal cenário ocorre pela resiliência da economia americana e pela velocidade de crescimento das empresas de tecnologia nos últimos dez anos. Como resultado, aponta, o país representa sozinho mais de 50% do valor de mercado mundial de ações. Samaia observa riscos.
“A manutenção de juros altos por mais tempo para controlar a inflação pode afetar o custo de financiamento de empresas pequenas e médias”, diz o representante da EQI. A chave para se proteger dessas incertezas seria, conforme defende, a adequação do portfólio ao perfil de cada investidor, com a exposição correta a ativos de risco e ativos de proteção como renda fixa.
Oportunidades
Para Aranha, a chave na decisão sobre escolhas de ações neste momento é a identificação de companhias dominantes, com modelos fortes de negócio e que olhem para o longo prazo. “O importante é entender que os próximos dez anos terão alguma faixa de juros. Então, empresas que funcionam com o juros zerado podem não conseguir sobreviver”, diz, ao diferenciar os perfis de ativos.
Entre as possibilidades com maior força está a Visa, empresa de meios de pagamentos. “É uma companhia resiliente e que quase se beneficia do processo inflacionário, porque na medida em que as pessoas gastam mais, ela aumenta sua receita”, explica o representante da GeoCapital.
CFA e co-fundador da Quantzed, Marcelo Oliveira diz que é necessário dar prioridade a empresas com caixa saudável sem necessidade de alavancagem. “As grandes da tecnologia têm se saído bem”, observa.
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Na lista das bigtechs, a Alphabet se destaca. A holding é um conglomerado que possui diretamente várias empresas que foram pertencentes ou vinculadas ao Google, incluindo o próprio Google. “Muito dominante no setor de publicidade e propaganda, gera muito caixa e está em preço atrativo”, observa Aranha.
Oliveira aponta também para as empresas de consumo básico, aquelas que produzem e fornecem bens e serviços essenciais, como alimentos, bebidas, produtos de higiene pessoal, produtos de limpeza e medicamentos. “Elas conseguem repassar inflação mais facilmente nos preços e sofrem menos com perda de margem operacional”, diz.
Com esse perfil, segue em destaque as ações da gigante Berkshire Hathaway, do investidor Warren Buffett, companhia que tem participação em outras empresas que são dominantes e geradoras de caixa.
MP que taxa dividendos
Uma das dúvidas atuais sobre investimentos no exterior diz respeito à medida provisória (MP) que taxa dividendos internacionais. Para Aranha, esse fator pesa pouco para os pequenos investidores e, portanto, a exposição aos ativos segue interessante mesmo se a MP prosperar no Congresso.
A proposta em questão prevê que a partir de 2024, os rendimentos provenientes dessas fontes em países estrangeiros passam a ser tributados em 15% na faixa de R$ 6 mil a R$ 50 mil. A alíquota para valores superiores será de 22,5%.
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“O maior impacto é para os nossos assessores e distribuidores. Para esses, se a MP passar pelo Congresso vale contratar um consultor tributário para entender quais serão os impactos”, observa o representante da GeoCapital.
Samaia, da EQI, destaca que a alocação internacional é uma questão estrutural e não oportunística, de forma que a alteração na cobrança de impostos não deve afetar a decisão.
“Ainda existem questões que serão tratadas até a eventual aprovação da MP, mas no geral a medida visa equilibrar as vantagens e desvantagens entre se investir via pessoa física ou estruturas como veículos pessoais de investimento offshore (fora do País) ou trusts (empresa que oferece a terceirização da administração de bens e direitos de uma pessoa ou grupo familiar)”, afirma Rodrigo Samaia.