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Como a Verde Asset, de Luis Stuhlberger, perdeu R$ 24 bilhões

Com evasão de cotistas desde o fim de 2021, a Verde perdeu posições no ranking das maiores gestoras do Brasil

Como a Verde Asset, de Luis Stuhlberger, perdeu R$ 24 bilhões
Atualmente, a gestora de Luis Stuhlberger conta com 24,2 mil cotistas, a mesma quantidade registrada em meados de 2019 Foto: Denise Andrade/Estadão
  • Entre dezembro de 2021 a abril de 2023, a Verde perdeu R$ 24 bilhões em ativos sob gestão e viu a evasão de 20,3 mil cotistas
  • Em um horizonte mais curto de prazo, a rentabilidade dos fundos da Verde não bate o CDI, o que vem desagradando investidores, principalmente os novatos
  • Guilherme Martins, head de alocação do escritório Teros Investimentos, relatou já ter conversado com investidores da Verde que, frustrados com a rentabilidade, pensavam em sacar dinheiro do fundo

Em 2021, a respeitada Verde Asset chegou ao pico histórico de número de cotistas e ativos sob gestão (AUM). Com um patrimônio de R$ 52,4 bilhões e 44,5 mil investidores nos fundos (sem desconsiderar possíveis duplicidades), a gestora era a quinta maior do País fora do universo dos cinco principais bancos de varejo.

Entre dezembro de 2021 a abril de 2023, porém,, a Verde perdeu R$ 24 bilhões em ativos sob gestão e viu a evasão de 20,3 mil cotistas. O levantamento do histórico de patrimônio foi realizado por Filipe Ferreira, diretor financeiro da ComDinheiro a pedido do E-Investidor, enquanto os dados sobre o número de cotistas foram obtidos por Einar Rivero, head comercial do TradeMap.

Levando em conta os dados de abril de 2023, a gestora de Luis Stuhlberger conta com 24,2 mil cotistas e possui um patrimônio total de R$ 28,1 bilhões. O desfalque recente fez a asset cair 14 posições no ranking das maiores do Brasil. Nesta reportagem, mostramos quais os caminhos para a Verde, em fase de queda no patrimônio.

Até o final de 2021, concorrentes como Absolute Gestão, Ibiuna, Opportunity, Western Asset, Julius Baer, Legacy Capital, Icatu, Kinea e SPX, olhavam a Verde de baixo para cima. Hoje, passaram à frente, com alguns bilhões a mais sob gestão. Veja o ranking:

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Stuhlberger, vale lembrar, possui status de lenda do mercado financeiro nacional. Em 1997, quando fazia parte da Hedging-Griffo Asset Management, o gestor foi responsável pela criação do fundo multimercado Verde - um dos mais antigos e rentáveis do País. Posteriormente, a aplicação deu nome à gestora Verde Asset, criada em 2015 pela mesma equipe responsável pelo fundo.

De janeiro de 1997 a abril de 2023, o fundo Verde acumula um retorno de incríveis 21.842,30%, ou seja, uma rentabilidade oito vezes maior do que o CDI (Certificado de Depósito Interbancário) do período. Nesse período, a aplicação só não bateu o benchmark em quatro anos: nas crises de 2008 e 2014, 2017 e em 2021, justamente no ápice da entrada de cotistas. Aliás, 2008 e 2021 foram os únicos dois anos de resultados negativos da história do produto.

A trajetória surpreendente consolidou Stuhlberger como um dos maiores gestores do Brasil e tornou os fundos da Verde Asset bastante disputados, com raras aberturas para novos investidores e janelas de captação – conheça o gestor de fundo mais famoso do País.

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Juro alto, em uma janela ruim

Certamente, parte do montante perdido pela Verde Asset foi direcionado para a renda fixa. Entre março de 2021 e agosto de 2022, a taxa básica de juros Selic saiu de 2% para os atuais 13,75% ao ano. O juro de dois dígitos impulsiona os rendimentos dos ativos conservadores e afasta os investidores da renda variável.

Em outras palavras, fica mais difícil para ativos voláteis concorrerem com o rendimento de ativos de baixo risco, como o Tesouro Selic. Este é o motivo pelo qual historicamente ocorre uma fuga de investidores para a renda fixa em períodos de Selic alta.

Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), por exemplo, os fundos multimercados registraram saída líquida de R$ 87,6 bilhões no ano passado. “Existe uma grande correlação entre o número de cotistas da Verde com o momento econômico. Quando a taxa de juros caiu para 2%, em 2021, foi justamente quando a Verde ganhou mais cotistas. Depois, quando o juro subiu, passou a perder cotistas mês a mês”, afirma Gabriel Bassotto, analista chefe de ações do Simpla Club.

O ambiente macroeconômico, porém, é só mais um elemento que engatilha a saída de cotistas. Em um horizonte de curto prazo, a rentabilidade de alguns dos produtos mais proeminentes da Verde não bate o CDI, o que vem desagradando investidores. O Verde FIC FIM, o carro-chefe da casa, acumula retorno de 82% do CDI entre janeiro de 2021 até março deste ano.

O Verde AM Scena, que concentra a maior quantidade de cotistas (8,2 mil), também perde para o CDI no intervalo: a rentabilidade do fundo é de 8,07% contra um CDI de 21,13% no período.

Em paralelo, fundos multimercados de gestoras concorrentes, que ultrapassaram os ativos sob gestão da Verde Asset, entregaram retornos superiores a 150% do CDI nessa mesma janela.

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Guilherme Martins, head de alocação do escritório Teros Investimentos, diz que já ouviu relatos de investidores da Verde frustrados com a rentabilidade. “Muitos esperavam aqueles resultados espetaculares de antes”, afirma. “Tentamos sempre passar a ideia de um longo prazo, de dar tempo ao tempo, dar a chance do trabalho ser feito. Mas a decisão final é sempre do investidor.”

É hora de pedir para sair?

Resgatar dinheiro de um fundo com um histórico excelente em função de um momento pouco favorável, sem mudanças relevantes na gestão, pode não ser o melhor caminho para o investidor.

Os analistas consultados pelo E-Investidor ressaltam que dois anos é um período curto para avaliar os resultados de qualquer fundo de investimento multimercado e que o indicado é utilizar uma janela mais longa, de três a cinco anos. Desde 2020, por exemplo, o Verde FIC FIM rendeu 90% do CDI. De janeiro de 2018 a março de 2023, o rendimento é mais atraente, de 122% do CDI. 

"Um multimercado jamais deveria ser julgado por uma janela única de tempo ou pela saída de cotistas. Na janela móvel de 3 anos – que considera qualquer investidor que entrou no fundo e ficou 3 anos – o Verde quase nunca perdeu pro CDI", afirma Luciana Seabra, CEO e chefe de análise da Indê Investimentos e colunista do E-Investidor.

A recomendação também é de não concentrar os investimentos em apenas um fundo, até porque há características cíclicas e de estilo de gestão que impactam na rentabilidade. Seabra aponta que os fundos multimercados passaram por um bom momento nos últimos anos e quem tinha uma carteira diversificada de fundos, com pelo menos três aplicações, conseguiu bater o CDI.

De fato, apesar de essa classe ter registrado captação negativa em 2022, o patrimônio líquido dos fundos multimercados subiu de R$ 1,58 trilhão para R$ 1,62 tri no ano, na esteira da valorização das carteiras.

Com os mercados estressados no pós-pandemia, o segmento ganhou dinheiro com posições tomadas em juros nos EUA e vendidas em bolsa americana, por exemplo. É esse também o motivo de o fundo Verde ter enfrentado dificuldades nos últimos meses, diferentemente de alguns pares, segundo Seabra.

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“É um fundo que tem um estilo de investimento muito de alocação e que sempre andou mais com posições compradas. Durante um bom tempo, os gestores tiveram posições em bolsa americana e compravam títulos de renda fixa de longo prazo, portanto, não é um fundo que costuma ficar vendido”, explica a analista. “O fato de o Verde ficar predominantemente comprado fez com que 2022 fosse um ano muito difícil para eles, porque tudo que era comprado teve desempenho ruim.”

Isso não significa que o investidor tenha que tirar dinheiro do fundo Verde em períodos como o atual, em que as posições vendidas têm tido maior sucesso. Pelo contrário, a aplicação precisa continuar compondo as carteiras, alinhada a uma estratégia de investimentos sólida e de longo prazo.

Se neste ciclo de juros em alta e bolsas em baixa, o Verde tem tido maiores dificuldades, no próximo ciclo o fundo pode voltar a se destacar. “As carteiras que mais bem funcionam são aquelas voltadas para construir um portfólio e carregar para o longo prazo”, afirma Seabra. “Você não deveria retirar da sua carteira a aplicação porque talvez aquele fundo só esteja no ponto baixo do ciclo para aquele tipo de estratégia, como é o caso do Verde. É um fundo que vai ter períodos bons e períodos em que ele pode, sim, ficar mais alinhado com CDI. Contudo, é muito difícil o Verde dar sustos relevantes."

Fora a questão macroeconômica e de rentabilidade, um terceiro fator pode entrar nessa equação. Um gestor, que não quis se identificar, apontou que pode haver uma diferença considerável de remuneração aos assessores pela indicação de diferentes fundos de investimento e produtos financeiros.

“É importante considerar a questão de incentivo, do quanto a Verde paga para ter o seu fundo vendido versus quanto o assessor recebe para vender um outro produto”, afirma o gestor. “Outros produtos, por exemplo, pagam até 3% de comissão, enquanto o fundo da Verde, na melhor das hipóteses, vai pagar 0,5%."

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A estrutura de incentivos também foi citada por outros gestores ouvidos pela reportagem, que relatam que muitos investidores são conduzidos a realizarem alterações desnecessárias nas carteiras para engordar as comissões.

“O Verde é um fundo com um histórico excepcional e com certeza não é o que paga mais comissão na ponta. Eu vejo isso acontecendo, de aconselhar a sair disso e ir para um COE [Certificado de Operações Estruturadas] por ser algo extremamente bem comissionado. Vários ativos de renda fixa são empurrados aos investidores”, afirma Seabra. “Muitos clientes relatam que estão com uma carteira voltada para o longo prazo, mas que o tempo todo a 'ponta' está incentivando o giro.”

Entre cenário macro deteriorado, rentabilidade menor e possíveis conflitos de interesse, a gestora enfrenta um cenário complexo pela frente - que deve demorar a se dissipar.

No último relatório divulgado pela Verde Asset, referente a abril deste ano, o fundo Verde apresentou rentabilidade negativa de 0,03%, frente a um CDI de 0,92%. No acumulado de 2023, o fundo tem retorno de 2,32%,  contra o CDI de 4,20%. O fundo continuou comprado em inflação implícita no Brasil, juros e inflação nos EUA. Resta saber de que forma, assim como ocorreu em outras crises, o Verde planeja dar a volta por cima.

Procurada, a Verde Asset não respondeu os questionamentos do E-Investidor até a publicação desta reportagem.

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