- Os sinais de uma Selic menor no horizonte devem impulsionar os varejistas, shoppings e bancos digitais. Já o setor imobiliário, tem um espaço de alta um pouco mais limitado
- No varejo, temos oportunidades interessantes em termos de preço, e algumas ainda contam com superioridade operacional: Vivara (VIVA3), Arezzo (ARZZ3) e Renner (LREN3) são alguns exemplos. Em linha, a tendência é de uma recuperação para ativos como BTG (BPAC11), B3 (B3SA3) e XP (XPBR31)
- Apesar disso, os riscos para o Brasil ainda não se encerraram
Os sinais de uma Selic menor no horizonte já impulsionaram boa parte dos ativos cíclicos da B3 no primeiro semestre de 2023, mas ainda há preços atrativos principalmente entre varejistas, shoppings e bancos digitais, segundo analistas de investimentos consultados pelo Broadcast. Já o setor imobiliário, que acumula ganhos de 40% no ano, tem um espaço de alta um pouco mais limitado, apesar de incentivos governamentais no pano de fundo.
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A percepção de início de um juro básico menor à frente ganha reforço com a aprovação histórica da reforma tributária na Câmara dos Deputados. A matéria era discutida há mais de 30 anos e, foi aprovada na madrugada desta sexta-feira (7), o texto em segundo turno contou com 375 votos a favor, ante 113 contrários e três abstenções. Eram necessários 308 votos.
“Mantemos expectativa de início de queda da Selic em 0,25 ponto em agosto. O que vai mudar esse call são as expectativas [inflação] na Focus, e talvez a tributária facilite”, afirma a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, para quem a aprovação é bem vista e positiva, ao trazer simplificação e competitividade entre os setores da economia.
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Para Paula Moreno, cogestora da Apex Capital, os setores mais sensíveis ao corte de juros devem continuar com boa performance no segundo semestre, com destaque para varejo e shoppings, devido a múltiplos descontados. Além disso, bancos digitais devem se beneficiar com o ímpeto do mercado de capitais, na esteira de uma macroeconomia mais favorável.
“No varejo, temos oportunidades interessantes em termos de preço, e algumas ainda contam com superioridade operacional: Vivara (VIVA3), Arezzo (ARZZ3) e Renner (LREN3) são alguns exemplos”, afirma Paulo Abreu, sócio e gestor da Mantaro Capital. Ele destaca que a gestora está mais interessada em setores que têm um vetor de crescimento grande por mais tempo, não dependendo apenas do timing da política monetária.
“Com a aprovação da reforma tributária, a inflação tende a continuar desacelerando, o que abre caminho para queda da Selic, que pode cair meio ponto porcentual no Copom de agosto. Isso tende a melhorar setores na Bolsa como varejo, vestuário e supermercados”, avalia o economista Álvaro Bandeira.
O sócio e analista da Ajax Asset, Rafael Passos, vê o mercado migrando para empresas com uma estrutura de dívida mais equilibrada dentro do varejo. “Mesmo com queda da Selic, os juros devem continuar elevados por um tempo, então empresas com estrutura de capital mais equilibrada seguem sendo preferência”, avalia.
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Moreno vê que a melhora do ambiente macroeconômico brasileiro faz com que investidores voltem a migrar para renda variável, o que dá maior tração para serviços financeiros. Em linha, Abreu, da Mantaro, afirma que a tendência é de uma recuperação para ativos como BTG (BPAC11), B3 (B3SA3) e XP (XPBR31), pois “assim como o movimento foi ruim para o setor quando a bolsa operou abaixo da média, o oposto deve valer num mercado mais positivo”.
Bull market
O otimismo local, na esteira de desaceleração da inflação, sinais de corte da Selic e arcabouço fiscal , fez com que o Ibovespa retomasse território de bull market (mercado de alta) já no início de junho, fazendo com que a referência da B3 conseguisse fechar a primeira etapa do ano com ganho de 7,61%.
“Mesmo com essa alta, nossa visão é de que a bolsa brasileira ainda está bastante descontada. Em comparação com múltiplos históricos, os papéis dentro do Ibovespa ainda estão com comprimidos”, afirma Moreno, da Apex.
Passos, da Ajax Asset, menciona que o Brasil surpreendeu positivamente no primeiro semestre do ano, principalmente no que diz respeito a dados de serviços. “Então estamos em um contexto de que o quadro mais negativo do ano passado parece superado. Provavelmente vamos ver um fluxo mais intenso na bolsa”, avalia.
Setor imobiliário
Apesar de o setor imobiliário também ser fortemente relacionado aos juros, parte do mercado financeiro já entende que seus ativos parecem estar em um patamar de preço mais justo, após passarem por uma valorização expressiva nos seis primeiros meses do ano.
Em termos de comparação, enquanto o índice imobiliário (IMOB) acumula alta de 40% em 2023, o índice de consumo (ICON, que compreende varejistas) sobe 7% e o índice financeiro (IFNC, que também considera bancos tradicionais, mais líquidos) avança 18%.
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“Real estate é um setor interessante, mas que já passou por uma reprecificação forte no curto prazo. Acho que agora temos uma restrição em relação ao tamanho das empresas mesmo, chegando em um limite do quanto devem entregar de resultados”, pondera Abreu.
Dentro do índice imobiliário, Moreno, da Apex, destaca que as empresas mais voltadas à baixa renda, como MRV (MRVE3), Tenda (TEND3) e Cury (CURY3), tendem a ter performance melhor que pares “principalmente por conta do Minha Casa Minha Vida, que funciona como um push do governo”. As companhias vêm aumentando os preços dos imóveis, em uma busca de aumentar a rentabilidade dos projetos.
Potenciais riscos
Mesmo com a Selic menor no radar, alguns analistas ponderam que os riscos para o Brasil ainda não se encerraram. “A queda da taxa básica de juros não significa que o patamar agora está baixo. Ainda acho arriscado ficar posicionado em players com endividamento mais alto, como por exemplo aéreas. Ainda pode ter uma desaceleração da atividade no segundo semestre”, afirma Passos, da Ajax.
O economista Álvaro Bandeira ainda acrescenta que o texto aprovado da reforma tributária não é dos melhores e conta com alguns “jabutis”, as chamadas emendas que beneficiam determinados setores e parlamentares. “É um texto fraco, mas é melhor do que nada. É importante lembrar que o nível de endividamento das famílias ainda é elevado. Assim, o setor de bens duráveis ainda pode demorar a reagir positivamente”, diz.