- Manifestações de padrões relacionados ao acúmulo compulsivo de dinheiro são patológicos apenas em casos extremos
- De acordo com especialistas, pessoas que acumulam dinheiro compulsivamente tendem a ser muito centradas em si mesmas e no futuro
Quem se interessa por educação financeira já deve ter ouvido que todo dinheiro poupado deve ter algum destino. Seja o objetivo uma viagem, a aposentadoria ou uma reserva de emergência. A acumulação pura e simples, por outro lado, pode ser o sinal de um comportamento prejudicial à saúde mental e às relações pessoais.
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Há uma gradação, no entanto, das manifestações de padrões relacionados ao acúmulo compulsivo de dinheiro e ele se torna patológico apenas em casos mais extremos. “É quando a pessoa nem as contas (do dia a dia) paga. Ela tem o dinheiro, mas não vai se desfazer em ponto nenhum dele”, diz Márcia Tolotti, psicanalista, consultora em psicofinanças e escritora.
Este comportamento pode ser manifestado como sintoma de um Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC). “No TOC, as pessoas estão escravizadas: os casos graves, como lavar a mão e ficar com ela sangrando ou da pessoa ter que fazer o mesmo caminho várias vezes, os rituais, tudo isso aprisiona a pessoa”, aponta Leila Tardivo, psicóloga clínica e professora da Universidade de São Paulo (USP).
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Pessoas com um comportamento poupador compulsivo costumam atribuir algum tipo de significado ao dinheiro. “Ela muito provavelmente tem uma relação de segurança com o dinheiro. Só a ideia de ficar sem já a deixa muito ansiosa, muito angustiada”, explica Tolotti.
Uma vida de restrição financeira pode levar a esta relação de poupança compulsiva, mas a influência familiar também é uma causa. Mesmo que os filhos já tenham nascido em um contexto de maior conforto, eles podem reproduzir a relação dos pais com o dinheiro.
“A compulsão pode ser desenvolvida como decorrência de medo irracional e extremo de pobreza ou de não ter recursos financeiros suficientes. Preocupação excessiva com questões financeiras pode fazer parte de um quadro de transtorno de ansiedade, depressão ou de adoecimento psíquico”, diz Ana Paula Hornos, psicóloga e colunista do E-Investidor.
Além da sensação de segurança, pessoas com um comportamento de poupança compulsivo também podem associar aquele acúmulo de dinheiro ao poder, inclusive diferenciando-o de outros comportamentos compulsivos. “O dinheiro tem um agravante pelo poder aparente que ele traz”, explica Tardivo.
Como perceber a compulsão
Em uma relação de poupança saudável, as pessoas não abrem mão de um nível relativo de bem-estar ou mesmo prejudicam suas relações sociais em função do dinheiro. De acordo com especialistas, pessoas que acumulam dinheiro compulsivamente tendem a ser muito centradas em si mesmas e no futuro.
Abrir mão de relações, como deixar de estar junto aos filhos ou demais familiares devido a preocupações sobre o futuro ou evitar circunstâncias sociais que impliquem em gastos podem ser sinais. Essas pessoas podem guardar mais de 50% da sua renda mensal recorrentemente.
Segunda Hornos, poupadores compulsivos também falam e pensam frequentemente sobre a falta de dinheiro, embora possuam patrimônio, e têm um sentimento recorrente de escassez. Sentem-se angustiados, ansiosos ou desconfortáveis quando precisam dispender recursos. Há ainda a possibilidade de que acumulem objetos excessivamente, resultando em desorganização em seus ambientes.
A poupança saudável
Guardar dinheiro para ter mais autonomia e segurança não é ruim. Além do mais, existem no outro extremo problemas associados à impulsividade e ao consumismo. Relações saudáveis de poupança buscam um equilíbrio entre saúde financeira e psicológica.
“As boas recomendações de educação financeira favorecem o equilíbrio. Por exemplo: poupar 20% mensalmente, doar 10% e usar 70%. Favorece um equilíbrio entre o olhar para si e também para o próximo, entre viver o presente e cuidar do futuro”, diz Ana Paula Hornos. Segundo a especialista, seguir recomendações científicas ou um “autorregras positivas” é saudável. “Passa a ser adoecimento quando há rigidez psicológica.”
Na avaliação de Márcia Tolotti, uma boa relação com as finanças pessoais depende da realidade distinta de cada pessoa. Famílias mais pobres, por exemplo, muitas vezes não conseguem guardar uma proporção específica de seus rendimentos mensalmente ou nem sequer conseguem poupar.
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“Ter um pouco de dinheiro guardado é importante. Quanto consegue guardar? R$ 10? Então guarda R$ 10”, exemplifica Tolotti. Paralelamente, se possível, a pessoa também pode tentar melhorar seu orçamento por meio de capacitação e também buscar evitar compras impulsivas.
“Uma coisa é você estar aposentado, ter mais conforto, poder viajar, poder cuidar da saúde. Outra coisa é a pessoa não viver, não usufruir, não congregar com seus filhos, com família, por causa do futuro”, destaca Leila Tardivo.