- Desde que o mercado brasileiro começou a precificar que a taxa de juros do País cairia no segundo semestre deste ano, uma grande parte das ações da B3 andaram
- Mas tem um setor na Bolsa que não foi contaminado por essa euforia: o agro, onde Tiago Reis vê as maiores oportunidades do momento
- Em entrevista ao E-Investidor, o analista e fundador da Suno explicou porque acredita que alguns nomes ligados ao agronegócio estão sendo deixados de lado pelo mercado, mas têm potencial para se destacarem no futuro
Desde que o mercado brasileiro começou a precificar que a taxa de juros do País cairia no segundo semestre deste ano, as ações da B3 passaram a ensaiar o movimento de alta. Entre as small caps, aquelas empresas de menor capitalização, há nomes com altas acumuladas em 80% – e, para muitos analistas, é esse o grupo de papéis que vai sair como o grande beneficiado pelo ciclo de queda na Selic.
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Tiago Reis, analista e fundador da Suno Research, tem outra visão. A preferência do terceiro maior influenciador digital de finanças do País, segundo pesquisa da Anbima, são ações “lucrativas, altamente rentáveis, que tenham um balanço sólido, sejam bem administradas, com potencial de crescimento e que tenham um valuation barato”. Independentemente do tamanho da companhia.
É por isso que a carteira de recomendações da Suno – e a do próprio analista, como investidor – está focada em Vale (VALE3) e Banco do Brasil (BBAS3).
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Mas tem ainda um outro setor entre as preferências: o agronegócio, especialmente nomes como 3tentos (TTEN3), Boa Safra (SOJA3) e Kleper Weber (KEPL3). Essa é, inclusive, a grande aposta de Reis do que pode despontar no longo prazo, mas que está passando batido pelo mercado brasileiro.
“Essas empresas estão quase no mesmo patamar do IPO, mas até triplicaram suas operações de lá para cá”, diz. “Quando o mercado ver que essas empresas não vão sofrer tanto quanto está precificado, as ações vão se valorizar. A hora de comprar é agora.”
Além do alcance e fama entre os investidores pessoa física, a Suno também é conhecida por algumas apostas “ousadas”. Em 2022, por exemplo, os analistas recomendaram a compra de ações estatais, na contramão de boa parte do mercado que preferia se manter de fora desses papéis, preocupado com a eleição presidencial e possíveis interferências nas companhias públicas.
No início deste ano, a Suno apostou em ações na Argentina, mesmo com a crise de hiperinflação no país sul americano. Como contamos aqui, a Bolsa argentina é uma das que mais sobe no mundo em 2023.
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Mas, na visão de Reis, a recomendação de ações ligadas ao agro é uma aposta diferente das anteriores. Não se trata de uma posição contrária a um pessimismo de investidores, mas a um desconhecimento. “Dessa vez é um pouco diferente do que era lá atrás, quando fomos na contramão da opinião do mercado. Em relação ao agro, o mercado sequer tem opinião e talvez por isso existam oportunidades”, ressalta o fundador da Suno.
Em entrevista ao E-Investidor, Tiago Reis traçou um panorama do momento do mercado brasileiro, destacou oportunidades na Bolsa, e explicou porque acredita que a janela de aportes em ações nos Estados Unidos já se fechou, ao menos por hora.
E-Investidor – A Bolsa brasileira vem em um rali acentuado nos últimos meses. Qual a sua avaliação desse movimento?
Tiago Reis – Isso faz parte de um movimento de regressão à média, porque os múltiplos das empresas brasileiras estavam extremamente descontados. Nos períodos em que a Bolsa negociou com desconto semelhante, em 2008, 2015 e em alguns dias da pandemia, geralmente quem comprou fez um bom negócio. Se as coisas voltarem ao normal, e elas sempre voltam, os múltiplos também deveriam voltar.
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O que está acontecendo é consequência da redução dos ruídos que existiam. Os investidores tinham preocupações e ainda têm, mas de maneira menos intensa, dos chamados riscos de cauda, sobretudo do lado fiscal. Como o governo caminhou para o centro e não seguiu a linha mais radical, os múltiplos também caminharam para a média. Esse rali de alta é consequência da redução de percepção de risco por parte dos investidores.
Ainda dá tempo de comprar e fazer um bom negócio?
De maneira geral, a resposta é sim. Aqui na Suno trabalhamos muito olhando ativo por ativo, não temos um target de Ibovespa para o final do ano. Quem tem, geralmente erra. Estamos indo em direção à média, mas ainda abaixo em termos de múltiplos. Quando olhamos ação por ação, vemos boas oportunidades inclusive em nomes que são relevantes para o índice, como a Vale (VALE3), o próprio Banco do Brasil (BBAS3). Se nós estivermos certos e essas empresas subirem, certamente vão carregar junto o Ibovespa.
Muitos analistas têm apontado as small caps como aquelas ações que mais podem subir, dado o contexto de queda de juros. Mas você mencionou empresas já bem consolidadas. Por que essa preferência?
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Nós buscamos empresas que tenham um certo padrão. Lucrativas, altamente rentáveis, que tenham um balanço sólido, sejam bem administradas, com potencial de crescimento e um valuation barato. É difícil encontrar tudo isso simultaneamente, mas dá para montar uma carteira que tenha a maior parte dessas características.
A Vale, por exemplo, é uma das mineradoras mais rentáveis do mundo, está com o balanço muito sólido, teve anos muito bons que trouxeram muito dinheiro para dentro e agora consegue devolver bastante capital a seus acionistas, pagando dividendos altos.
Banco do Brasil, mesma coisa. O ROE extremamente elevado, a métrica de endividamento está tranquila, crescendo bem, sobretudo a carteira ligada ao agronegócio. E a ação está muito barata, pagando mais de 10% de dividend yield, e abaixo de 4x o lucro deste ano. É um múltiplo abaixo da média histórica e geralmente quem compra Banco do Brasil nesses múltiplos tende a fazer um bom negócio. Não busco tamanho de empresa, mas nomes que tenham essas características. No final do dia, atuamos como um bom consumidor, tentando encontrar pechinchas, comprar bons produtos a bons preços.
Quais são as suas top ações para se ter na carteira até o fim do ano?
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É muito difícil fazer previsão de valorização para o semestre, mas acredito que tem algumas ações que quem comprar hoje e puder segurar por três anos ou mais certamente vai fazer um bom negócio. Eu já citei duas, o Banco do Brasil e a Vale, mas tem também algumas empresas do agronegócio, como o 3tentos (TTEN3), Boa Safra (SOJA3). A própria Eletrobrás (ELET6), que soltou um resultado bem interessante essa semana, acho que em algum momento vai virar uma empresa pagadora de dividendos e daí atrair um público cativo.
Recentemente, você publicou no Twitter que cerca de 25% da sua carteira está em ativos fora do Brasil, com a pretensão de chegar a 40%. Por que investidores brasileiros deveriam investir no exterior?
Sobretudo por diversificação. O Brasil é um País que tem altos e baixos, crises frequentes. E o investidor que investe lá fora tende a ter uma redução da volatilidade da carteira. Dito isso, as empresas americanas estão muito caras. Não sei se este é o melhor momento para fazer essa diversificação, nunca houve um gap tão grande entre o valuation médio das empresas brasileiras e das americanas.
Mas é importante que o investidor tenha o mercado externo no radar porque volta e meia a janela se abre. A não ser que você tenha exposição zero, daí eu acho que deveria começar a montar posições de maneira tímida até mesmo para se acostumar, entender como funciona, como declarar o imposto de renda. Um primeiro passo, ainda que não seja dando um all in.
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Então não há boas opções no exterior para investidores brasileiros nesse momento?
O exterior não se limita aos Estados Unidos. Começam a aparecer algumas empresas interessantes na Inglaterra, aqui gostamos da British American Tobacco. Por incrível que pareça, vemos desde o começo do ano empresas na Argentina que ainda têm espaço para subir mais. O país está quebrado, sim, mas isso não significa que não tem oportunidades. A Bolsa argentina foi uma das que mais se valorizou no mundo em dólares, as ações estão todas subindo 100% porque estava tão de graça, tão amassado, que com qualquer respiro sobe muito.
Nós compramos papéis da líder de shoppings na Argentina, a Irsa, uma espécie de Iguatemi argentina, por menos do valor do aço e do cimento. No limite, a gente mandava derrubar e exportar aquilo. Obviamente estou exagerando, mas isso mostra um pouco do descontrole das quedas que aconteceram por lá.
O investidor não precisa somente investir no mercado americano, ele pode buscar outras alternativas, inclusive através dos Estados Unidos e das ADRs. Dá para esperar a janela dos EUA abrir, enquanto isso há outras oportunidades lá fora que são interessantes também.
De certa forma, a Suno é conhecida por fazer algumas apostas ousadas. Vocês têm alguma oposta “contra a maré” nesse momento?
Fico feliz de ter essa reputação. O que temos um pouco de diferente hoje é uma visão positiva do agro e acreditamos que o mercado está sendo muito duro com nomes como 3tentos, Boa Safra, Kepler Weber (KEPL3), que gostamos bastante. O agro sofre de um desconhecimento. Como o setor é, de certa forma, é um pouco jovem na bolsa, veio uma leva boa no último ciclo de IPOs, mas ainda são poucas empresas, algumas de pouca capitalização, então esse segmento fica meio de lado dentro dos departamentos de análise. Por conta disso, talvez existam oportunidades. E repito, um pouco diferente do que era lá atrás quando fomos na contramão da opinião do mercado, eu acho que nesse ponto o mercado sequer tem opinião.
Então o agro é a sua aposta?
Muitas dessas ações estão quase no mesmo patamar do IPO e são companhias que duplicaram, triplicaram suas operações de lá para cá. E por conta disso os múltiplos estão extremamente deprimidos. A longo prazo, o agro brasileiro continua sendo bastante competitivo e vai continuar crescendo bastante. Quando o mercado ver que essas empresas não vão sofrer tanto quanto está precificado, provavelmente essas ações vão se valorizar. Quando isso vai acontecer? Eu não sei. Mas para quem tem uma visão de longo prazo acho que apostar nessas empresas pode ser uma boa alternativa, a hora de comprar é agora.