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- Desde 2021, nenhuma empresa entra na Bolsa brasileira. Companhias que estavam se encaminhando para se lançar no mercado de ações acabaram se deparando com um cenário econômico mais complexo, carregado por aumento de juros e inflação, por exemplo
- Acionistas devem utilizar o Prospecto para avaliar diversos indicadores da saúde financeira da empresa e também o planejamento que será dado aos novos investimentos
A melhora de indicadores econômicos, como a conversão da curva de inflação para a meta e o início no corte dos juros, somada à aprovação do arcabouço fiscal e da reforma tributária, podem quebrar o jejum de IPOs (ofertas públicas de ações) no Brasil ainda este ano, como informou o Estadão.
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Desde 2021, nenhuma empresa abriu capital na Bolsa brasileira. Companhias que estavam se encaminhando para se lançar no mercado de ações acabaram se deparando com um cenário econômico mais complexo, carregado por aumento de juros e inflação, por exemplo.
Ainda não é possível dizer quais das empresas que já se preparavam para um IPO vão de fato fazer a oferta pública, já que muitas se defrontaram com grandes mudanças nos próprios negócios. São casos como a Dori Alimentos, recém-comprada pela CTH Invest, e Tok & Stok, que tenta renegociar dívidas elevadas.
“O Grupo Oba Hortifruti também estava com um prospecto e pode ser que reative, mas acho improvável neste ano. Com uma taxa de juros alta, é difícil captar dinheiro”, aponta Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos. Na avaliação do especialista, a possibilidade de novos IPOs é maior para 2024, condicionada à queda na taxa de juros.
IPO é garantia de rendimento?
Não é comum que estreantes na Bolsa paguem dividendos. “Elas costumam captar investimentos para crescer e, na fase de crescimento, as empresas precisam de caixa para investir”, diz Marcio Piellusch, professor de Finanças do LabfinProvar da FIA. Por essa razão, sobra menos para o pagamento de dividendos aos acionistas.
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Ocorre nesses casos que o rendimento das ações para o investidor vem por meio da valorização dos papéis, resultado de empresas com potencial de crescimento, bem geridas e capazes de resultados.
Em geral, uma empresa faz o IPO em busca de novos investimentos para promover o seu crescimento. O acionista que entra em uma ação já na sua abertura deve, portanto, saber como o recurso que a companhia está buscando será utilizado. Essa informação será descrita no Prospecto, documento disponibilizado no sistema da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) quando a companhia está no processo de abrir capital.
A descrição da utilização dos recursos não garante que a empresa vá de fato crescer, mas ajuda a compreender se há algum potencial no papel. “Tem que ter um potencial de crescimento relevante. Caso isso não aconteça, ou não seja conectado ao recurso que está sendo colocado, se torna menos relevante para a expansão e reduz o valuation imediatamente”, aponta Leonardo Horta, sócio fundador da consultoria Maitreya.
Deve-se avaliar, na visão de Horta, como os recursos recolhidos na oferta pública farão parte do plano operacional e estratégico da companhia em investimentos específicos: novos mercados, novos públicos, produtos e tecnologia são alguns exemplos.
Mas empresas podem vender ações também para sanar dívidas ou simplesmente repassar cotas de atuais acionistas — o que se chama de emissão secundária. “Nesses casos, o sinal não é necessariamente negativo, mas é preciso saber se a empresa tem fôlego para crescer sozinha, sem novos investimentos, ou se pelo menos uma parte da venda das ações será destinada a investimentos”, explica Piellusch. O especialista acrescenta ainda a qualificação dos gestos e a projeção e expectativas da empresa como dados a serem avaliados.
Indicadores
Quase todos os indicadores de saúde financeira de uma empresa constam no Prospecto. Vale observar o desempenho histórico da empresa, como margens de lucro, rentabilidade, liquidez e estrutura de capital.
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Segundo Piellusch, da FIA, uma margem de lucro (divisão do lucro pela receita) estável ou crescente pode ser um bom indicador, bem como a rentabilidade (lucros dividido pelo investimento da empresa) superiores à taxa básica de juros. Possuir recursos líquidos capazes de cumprir obrigações de curto prazo também sinaliza boa saúde financeira.
Empresas que apresentam projeções claras e viáveis de crescimentos, condizentes com o cenário atual do momento do IPO, dão bons sinais. O investidor deve associar essa informação ao planejamento de investimento, mencionado anteriormente, avaliando se o crescimento esperado deve ocorrer por meio da entrada em novos mercados, com novos produtos ou apenas nos mercados atuais.
Quando vale a pena entrar em uma ação no IPO?
Não há uma fórmula para dizer se uma empresa está com um preço condizente ao seu potencial no IPO. Apesar de os indicadores ajudarem a compreender o momento do negócio, a avaliação vai além, envolvendo uma análise estrutural e operacional da companhia, bem como do setor em que ela está inserida.
Horta, da consultoria Maitreya, reforça que o nível de profundidade de análise que deve haver para investir em uma companhia na oferta pública é maior do que se faz hoje. Para ele, os investidores precisam entender a estrutura e a sua capacidade de expansão.
“Será que a empresa já fez uma parte ou já tentou iniciar o que está propondo no IPO? Ou estamos falando de algo completamente novo que a companhia ainda não fez e só vai começar quando tiver o recurso? As valiações devem ir além dos indicadores”, diz Horta.
Vale avaliar ainda o contexto da concorrência. Empresas em setores altamente competitivos podem ter mais dificuldade em crescer. “Se possível, o investidor deve consultar também as demonstrações financeiras de empresas do mesmo setor para avaliar se o desempenho é saudável ou não”, aponta Piellusch.
Para Brasil, da Gava Investimentos, dá para afirmar que entrar em uma empresa no IPO é mais arriscado do que comprar suas ações posteriormente, no mercado secundário (de outros acionistas após a emissão dos títulos). Apesar do prospecto dar boas indicações sobre a intenção dos negócios, não há garantias.
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Mas há outro lado. Esperar a empresa ter resultados e começar a ser negociada pode fazer o investidor “perder o bonde”. “Sem dúvida é mais claro, pensando em fundamentos, entrar depois do que antes. Mas depois ela pode estar cara demais”, diz Brasil. O especialista aponta, no entanto, que via de regra as empresas se desvalorizam em comparação ao preço da oferta pública.