O dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 5, em alta de 0,82%, cotado a R$ 4,9754 após ter registrado máxima a R$ 4,9865. O dia foi marcado por uma onda global de valorização da moeda americana e avanço firme das taxas dos Treasuries, em meio à safra de indicadores reiterando desaceleração da economia chinesa, enfraquecimento maior da atividade na zona do euro e falas de dirigentes do Federal Reserve.
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Segundo operadores, o andamento da agenda econômica no Congresso e declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre medidas de uma eventual reforma administrativa foram monitorados, mas não tiveram impacto relevante na formação da taxa de câmbio. Geralmente mais castigado em episódios de fortalecimento da moeda americana no exterior, o real sofreu hoje menos que seus pares latino-americanos. No fim da tarde, o peso mexicano perdia 1,46% e o peso chileno, 2,60%.
Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, em especial euro e iene, o índice DXY se aproximou da linha dos 105,000 pontos, ao registrar máxima aos 104,907 pontos, nos maiores níveis desde março. Índices de gerentes de compras (PMIs, na sigla em inglês) de Alemanha, Reino Unido e zona do euro recuaram em agosto, com leitura abaixo de 50, o que indica contração da atividade. Já na China, houve queda do PMI de serviços de 54,1 em julho para 51,8 em agosto.
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“Os preços dos ativos em todo mundo estão sendo afetados pela percepção de que o Federal Reserve manterá a taxa de juros real em patamar elevado por muito tempo e pelos dados mais fracos do setor de serviços na China”, afirma o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, ressaltando que “praticamente todas as moedas” recuam em relação ao dólar, na volta do feriado do Dia do Trabalho nos EUA.
A taxa do T-note de 10 anos voltou a superar 4,25%. As cotações do petróleo subiram para o maior nível em 11 meses, com o Brent acima de US$ 90 o barril, após informação de que Arábia Saudita e Rússia vão voluntariamente restringir a oferta da commodity. Uma escalada do petróleo ameaça a atividade e pode alimentar ainda mais a inflação nos países desenvolvidos.
Um dos diretores do Fed, Christopher Waller, disse hoje que o BC americano deve manter taxas de juros elevadas até que haja queda relevante da inflação. Já a presidente do Fed de Cleveland, Loreta Mester, voltou a falar duro. Segundo Mester, a inflação alta segue sendo o principal problema da economia americana e pode levar o Fed a “ir um pouco além” no aperto monetário.
“Hoje, o câmbio voltou a ficar pressionado com dados fracos dos PMIs na China, sinalizando que as medidas do governo para estimular o consumo não têm sido suficientes. Adicionalmente, houve um aumento dos juros dos Treasuries, com a expectativa de que o Fed vai manter o juro alto lá por um bom tempo, o que é ruim para divisas emergentes”, afirma a economista do Banco Ourinvest, Cristiane Quartaroli.
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Em live promovida pelo Bradesco Asset, a diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central, Fernanda Guardado, observou que as incertezas sobre a persistência da inflação no exterior e manutenção de política monetária contracionista nos países desenvolvidos são os principais riscos no curto prazo.
“A economia americana tem sido constante fonte de surpresa positiva, mas entra em um período de mais incerteza sobre suas defasagens de política monetária e como será a política fiscal lá”, disse Guardado. “Pode haver mais incertezas sobre como a economia americana vai performar em 2024, em um ambiente em que a segunda maior economia do mundo, que é a China, tem problemas. Para 2024, vemos algumas nuvens se formando”.