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Coluna

O que o começo de Milei indica ao investidor e ao turista brasileiro

Presidente eleito assume Argentina com nível de pobreza de 40% , inflação acima de 150% e dívida insustentável

O que o começo de Milei indica ao investidor e ao turista brasileiro
Javier Milei foi eleito para a Presidência da Argentina. (Imagem: Victor Moriyama/The New York Times)
  • Javier Milei tem a responsabilidade de presidir um país com a realidade mais complexa da história
  • No discurso de posse, Milei detalhou os problemas econômicos herdados e prometeu um período difícil pela frente, com inflação acelerando e cortes no gasto público
  • Milei foi encapsulado em duas promessas: explodir o Banco Central (BC) e dolarizar a economia de forma abrupta

Passada a surpreendente vitória na eleição e a cerimônia de posse, Javier Milei tem a responsabilidade de presidir um país com a realidade mais complexa da história recente, que mistura um nível de pobreza de 40% da população, economia em recessão, inflação acima de 150%, uma taxa de câmbio paralela bem acima do nível da oficial, correção fiscal necessária de ao menos 5% do Produto Interno Bruto (PIB) e uma dívida externa insustentável. Uma série de medidas foi anunciadas pelo presidente para conter a crise.

No discurso de posse, Milei detalhou os problemas econômicos herdados e prometeu um período difícil pela frente, com inflação acelerando e cortes no gasto público. Ao invés de tentar mitigar o choque econômico, foi explícito ao povo sobre a necessidade de um ajuste econômico dramático, a dor que isso causará e os benefícios a longo prazo dessa estratégia. A dúvida que resta é se o presidente irá sustentar este duro programa e se suas propostas libertárias o levarão a um pragmatismo econômico de político de centro-direita.

Os sinais mais fortes até o momento apontam para a moderação. E o papel do ex-presidente Mauricio Macri parece ter sido fundamental. Antes das eleições, Macri e Milei já eram amigos e ainda no primeiro turno das eleições, quando a candidata do ex-presidente, Patricia Bullrich, concorria por uma vaga no segundo turno, os dois se recusaram a rivalizar. O mesmo não pode ser dito sobre Bullrich, criticada publicamente por Milei, mas ainda assim indicada ministra de Segurança.

Além de encaixar as peças do xadrez político, foi necessário definir o time econômico. Durante a campanha, o programa econômico de Milei foi encapsulado em duas promessas: explodir o Banco Central e dolarizar a economia de forma abrupta. Estas promessas radicais eram expostas por uma série de assessores econômicos ortodoxos, mas pouco pragmáticos, que causavam receio no mercado por propor políticas com pouca chance de serem implementadas com sucesso.

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Depois de eleito, Milei optou pelo ex-ministro de Macri, Luis Caputo, para a Fazenda e o ex-subscretário da Fazenda de Macri, Santiago Bausili, como presidente do Banco Central (que ele havia prometido implodir).

Arena política

Com um time pragmático no campo econômico, o desafio principal se dará na arena política. O partido que Milei fundou em 2021, La Libertad Avanza, tem a representação mais fraca de um presidente na história da Argentina. Os primeiros movimentos no âmbito político têm sido hábeis: ao invés de procurar negociadores políticos do partido de Macri, Milei tem buscado figuras do Peronismo não Kirchnerista, que efetivamente implementaram um ajuste econômico.

O desafio, no entanto, está apenas começando. Nas próximas semanas o custo humano das medidas econômicas começará a ser sentido. A inflação mensal deve alcançar níveis acima de 20%, com uma grande queda no salário real da população. Dado o nível de polarização no país, é esperada ampla oposição política e nas ruas.

Mesmo se aprovado, o custo econômico será elevado para uma população cuja situação econômica já está debilitada. É possível, e até provável, que seus planos econômicos, mesmo pragmáticos, levem a uma crise política que o deixaria debilitado, sem capacidade de implementar seu programa de governo e, em cenários mais extremos, sequer terminar seu mandato.

Por outro lado, existe um cenário positivo. Rodeado pelos antigos assessores econômicos de Macri, que conhecem profundamente os erros cometidos em seu governo, e negociadores políticos dos governos Peronistas, Milei contará com uma equipe experiente. Politicamente, a aprovação ao Kirchnerismo está em seu nível histórico mais baixo. Por isso, é real a possibilidade de uma parte do Partido Peronista mais sensato, liderado pelos governadores, apoiar o ajuste.

Se tiver sucesso, a Argentina poderá entrar num ciclo virtuoso de crescimento e investimentos. As descobertas de gás e petróleo em Vaca Muerta, uma longa lista de projetos de extração de lítio e grandes minas que estão prontas para serem construídas poderiam adicionar US$ 20 bilhões em exportações ao ano, valor equivalente ao exportado pela famosa safra de soja da Argentina.

Viajar para a Argentina ficará mais caro

Em contrapartida, as medidas anunciadas no megapacote de Milei para flexibilizar a economia, especialmente a redução da diferença entre as taxas de câmbio oficial e paralela, têm implicações para os brasileiros que planejam viajar para lá. Na medida em que a diferença entre as taxas de câmbio diminui, o câmbio paralelo – chamado de “dólar blue” –, que muitos turistas utilizam para obter mais valor pelo seu dinheiro, torna-se mais caro em termos reais. Isso significa que os brasileiros terão que gastar mais reais para obter a mesma quantidade de pesos argentinos.

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Além disso, a inflação crescente na Argentina também eleva o custo de viagem, o que inclui despesas com hospedagem, alimentação e entretenimento. Portanto, os turistas brasileiros enfrentarão custos mais altos em geral, fazendo com que viagens para o país vizinho se tornem menos atrativas financeiramente.

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Quanto ao impacto nas bolsas argentinas, espera-se que as medidas de liberalização econômica e menor regulação beneficiem o mercado de ações, aumentando a confiança do mercado. O destaque deve ficar com os setores mais regulados, que vão atrair mais investidores. Isso tudo deve resultar em uma alta na bolsa argentina, refletindo uma perspectiva econômica mais otimista.

O fato é que as incertezas continuarão altas e demoraremos mais de um ano para conhecer o real êxito de Milei em trazer de volta a economia da Argentina para o caminho do crescimento sustentável. Por outro lado, seria um erro subestimar as possibilidades reais de sucesso que o presidente possui ao introduzir o primeiro plano econômico de ajuste ortodoxo e libertário na região desde a década dos anos 90. Se o governo de Milei obtiver êxito, isso indubitavelmente influenciará a política em todo o continente, inclusive do Brasil.

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