- O Julius Baer fechou ou vendeu quatro escritórios nas Américas desde 2019, mas está crescendo no Brasil, México, Chile e Colômbia, onde está considerando aquisições, alianças estratégicas e joint ventures
- No Brasil, o maior mercado do Julius Baer na América Latina, o banco concluiu em fevereiro a fusão de duas empresas locais de gestão de fortunas que passam a formar um negócio com cerca de US$ 9 bilhões (R$ 50 bilhões) em ativos sob gestão e 200 funcionários
(Cristiane Lucchesi e Felipe Marques/Bloomberg) – O Grupo Julius Baer está decidindo se iniciará um negócio de gestão de fortunas nos EUA, enquanto busca parcerias ou aquisições em seus principais mercados latino-americanos.
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“Eu não estaria fazendo meu trabalho como alguém totalmente comprometido em tornar nossos negócios nas Américas um negócio altamente competitivo para o Julius Baer se não estivesse olhando seriamente para uma plataforma nos EUA”, disse Beatriz Sanchez, chefe do banco nas Américas, em uma entrevista virtual da Suíça.
O Julius Baer fechou ou vendeu quatro escritórios nas Américas desde 2019, mas está crescendo no Brasil, México, Chile e Colômbia, onde está considerando aquisições, alianças estratégicas e joint ventures, disse Sanchez. O objetivo é estar entre os cinco maiores gestores de patrimônio da América Latina. Sanchez disse anteriormente que o banco ocupa aproximadamente o sexto ou o sétimo lugar entre os bancos privados internacionais da região.
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Miami e Nova York são regiões importantes onde os gestores de patrimônio registram transações para indivíduos endinheirados da América Latina. Mas a empresa sediada em Zurique está considerando se sua expansão incluirá também outros tipos de investidores.
“A questão sobre uma plataforma nos EUA é: que tipo de operação queremos e para cobrir quais mercados? E essa é uma decisão que levamos muito a sério”, disse Sanchez, recusando-se a dar mais detalhes sobre o que está sendo considerado.
O banco disse em 2019 que estava planejando uma expansão nas Américas, e Sanchez indicou que a pandemia não impedirá que esses planos sigam em frente.
Um potencial obstáculo aos planos de expansão do banco: os reguladores suíços proibiram o Julius Baer de fazer aquisições “grandes e complexas” como punição por não se esforçar mais para evitar a lavagem de dinheiro em suas operações na América Latina. O banco foi obrigado a revisar suas medidas de lavagem de dinheiro e mudar a maneira como recruta, administra e paga seus banqueiros.
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Sanchez disse que essas investigações vinham de práticas existentes antes do início de 2018. Desde então, o banco passou por um “tremendo processo de remediação”, reforçando seus códigos de conduta e garantindo que “temos todo o conhecimento sobre um cliente”, disse ela. Agora estamos “focados no futuro”.
A possível expansão do Julius Baer nos EUA se compara à estratégia de um de seus principais concorrentes, o Credit Suisse Group AG, que deixou os Estados Unidos há vários anos depois de concordar em pagar ao Departamento de Justiça uma multa de US$ 2,6 bilhões por ajudar os clientes a burlar o fisco. O presidente-executivo Thomas Gottstein disse no início deste mês que o banco deveria “examinar” essa decisão, embora não tivesse planos imediatos de retornar.
No Brasil, o maior mercado do Julius Baer na América Latina, o banco concluiu em fevereiro a fusão de duas empresas locais de gestão de fortunas que passam a formar um negócio com cerca de US$ 9 bilhões (R$ 50 bilhões) em ativos sob gestão e 200 funcionários. Essa operação combinada está trabalhando, agora, na integração de culturas e investindo em uma nova plataforma tecnológica que deve estar pronta até o final do ano que vem, segundo Jan Karsten, presidente-executivo do banco para o Brasil.
As ofertas públicas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) estão crescendo no Brasil este ano, o que está liberando liquidez para clientes ricos e trazendo mais negócios para gestores de fortunas, disse Karsten em uma entrevista conjunta com Sanchez. Mas o surto global de covid-19 criou obstáculos.
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“Mal tínhamos tempo para trabalhar no mesmo lugar e a pandemia se abateu”, disse ele, acrescentando que os dois andares para os quais eles se mudaram em agosto do ano passado, em um prédio no centro financeiro de São Paulo, estão quase vazios desde março. Eles permanecerão assim enquanto as taxas de infecção permanecerem altas, disse Karsten, acrescentando que o Julius Baer está deixando os funcionários decidirem por si próprios se voltam ao escritório, inclusive no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte.
Como parte de sua expansão no Brasil, a empresa comprou no ano passado uma participação minoritária na Magnetis Gestora de Recursos, uma gestora de ativos digitais de São Paulo. “Para se conectar com o mercado crescente de investidores mais jovens e preocupados com tecnologia no Brasil”, disse Sanchez.
O Julius Baer pode investir mais no negócio, mas a Magnetis permanecerá independente, segundo Karsten.
No México, o Julius Baer possui 70% da NSC Asesores, uma empresa independente de consultoria financeira. O banco suíço também abriu um escritório de representação com planos de contratar mais funcionários e pode acabar perseguindo uma estratégia de aquisições semelhante à do Brasil, disse Sanchez.
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O Chile é outro mercado em crescimento para o Julius Baer. A empresa tem cerca de 20 funcionários lá e é o maior banco internacional operando um negócio de gestão de fortunas, de acordo com Sanchez. Um acordo com o Banco BICE, sediado em Santiago, permite aos clientes utilizar as plataformas, produtos e experiência do banco local, enquanto o Julius Baer apoia os clientes e banqueiros do Banco BICE com formação e oportunidades a nível internacional.
Em março, o Julius Baer recebeu a licença para abrir um escritório de representação na Colômbia e está avaliando uma estratégia de expansão para o país, disse Sanchez.
O banco fechou negócios locais no Peru e no Panamá em 2019, e este ano fechou um de seus escritórios no Uruguai que se dedicava a atender os residentes locais. Ali mantinha uma equipe de cerca de 60 pessoas atendendo apenas clientes não residentes no país.
“Na verdade, estamos contratando mais pessoas para a nossa operação no Uruguai”, que é principalmente a cobertura de mercado para a Argentina, disse Sanchez.
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O CEO Philipp Rickenbacher tem se afastado desse movimento de expansão da empresa e pediu 300 cortes de empregos em fevereiro. Parte da retração incluiu a venda de seu negócio local nas Bahamas, uma central de reservas para clientes da América Latina e de outras regiões.
Sanchez disse que a meta ainda é dobrar os ativos sob gestão nas Américas entre três e cinco anos. Em novembro de 2019, o Julius Baer administrava cerca de US$ 43 bilhões (40 bilhões de francos suíços) em ativos para clientes latino-americanos e tinha 500 funcionários dedicados a esses clientes. Agora, o número total de funcionários cresceu para 550.
O rival suíço UBS Group AG tinha cerca de 108 bilhões de francos, de acordo com uma apresentação para investidores em 2018. O banco líder, JPMorgan Chase & Co., tinha cerca de US$ 140 bilhões em junho, disse a empresa sediada em Nova York.
“Analisamos nossa pegada na América Latina e decidimos que o foco precisa ser na simplificação e na concentração em mercados onde podemos ter um impacto”, disse Sanchez. “Isso se encaixa em nossa estratégia de longo prazo de ser um dos principais gestores de patrimônio da região.”
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