A temporada de balanços das redes de supermercado engrenou nesta semana com os resultados de Carrefour (CRFB3), Assaí (ASAI3) e Pão de Açúcar (PCAR3). A soma dos resultados das três empresas acarreta em um prejuízo de R$ 571 milhões somente entre os meses de outubro a dezembro de 2023, o que pode assustar muito investidor. No entanto, analistas ainda acreditam que há oportunidades e por isso recomendam que o investidor faça uma análise caso a caso, em detalhes, antes de investir.
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A primeira rede a divulgar o balanço do quarto trimestre de 2023 foi o Carrefour, que reportou prejuízo de R$ 565 milhões, uma reversão do lucro líquido de R$ 426 milhões do mesmo período de 2022.
Segundo Gustavo Senday, analista de varejo da XP Investimentos, o resultado do Carrefour foi misto. Ele diz que o crescimento da receita desapontou após queda de 1% na base anual. Outro ponto negativo visto pelo analista foi o índice de vendas das mesmas lojas, que recuou 13% na comparação anual.
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Do lado positivo, ele comenta que o controle de despesas e a maturação das lojas gerou melhora na rentabilidade medida pela margem de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (margem Ebitda), que foi de 6,3 para 7,2%. “O resultado do Carrefour não foi nem excelente e nem extremamente ruim”, afirma Senday ao E-Investidor.
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Os analistas também comentam sobre a fusão do grupo com a Big. O Carrefour fechou um acordo para a compra da rede de supermercado por R$ 7,5 bilhões no dia 24 de março de 2023. No entanto, a empresa francesa pediu e conseguiu um reembolso de R$ 1 bilhão no dia 11 abril, menos de um mês após a transação. Na época, a varejista de alimentos disse que o desconto ocorreu “em contrapartida à quitação de algumas obrigações” do Big.
Segundo Fabricio Gonçalves, Ceo da Box asset management, o valor pago pela aquisição foi muito questionado pelo mercado e o reembolso, mais que justo. Ainda assim, ele acredita em uma melhora gradual no balanço do Carrefour com a conclusão do processo de fusão, que deve gerar a captação de sinergias.
“A fusão com o Big ainda precisa de tempo para se ajustar completamente. O mercado está cautelosamente otimista em relação ao negócio, embora alguns investidores possam ter questionado o valor pago pelo Carrefour. No entanto, o potencial de sinergias e expansão de mercado pode justificar o investimento no longo prazo”, explica Gonçalves.
Já Senday, da XP, diz que o investidor deve ser paciente. “A fusão ainda está sendo integrada, com algumas conversões de lojas que precisam ser feitas. Não está tudo ajustado, eles precisam de mais tempo”, afirma.
Pão de Açúcar enfrenta problemas com endividamento
O Grupo Pão de Açúcar amargou prejuízo líquido de R$ 303 milhões no quarto trimestre de 2023, ainda assim, o número significou uma melhora de 72,5% na comparação com a perda de R$ 1,1 bilhão no mesmo período de 2022.
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Para Hugo Baeta, analista de Renda Variável da AF Invest, o lado positivo do balanço ficou com a expansão de margem bruta de lucratividade. “Isso ajudou a empresa a ter um crescimento do seu resultado operacional, o que foi muito positivo”, explica Baeta. No entanto, Baeta comenta que o crescimento das vendas das mesmas lojas deixou a desejar. A cifra avançou 4,2% no quarto trimestre de 2023, ante alta de 6,7% no mesmo período de 2022, o que para ele apresentou uma desaceleração na empresa.
O analista de renda variável da AF Invest também destaca a alavancagem da companhia. O Pão de Açúcar encerrou o quarto trimestre de 2023 com uma dívida bruta de R$ 5,27 bilhões, uma redução de R$ 588 milhões na comparação com R$ 5,86 bilhões do mesmo período de 2022. Segundo Baeta, a companhia está com uma dívida líquida sobre Ebitda, descontado de despesas de aluguel, em 7,2 vezes. O número é maior que alavancagem de 2,34 vezes do Carrefour e de 3,8 vezes do Assaí.
“Vale lembrar que o Pão de Açúcar colocou uma alavancagem 1,7 vez no balanço por uma questão contábil, visto que o Ebitda que aparece lá não considera as despesas de aluguel. Com isso, o Ebitda fica bem maior e alavancagem, menor”, explica Baeta.
O especialista da XP, Gustavo Senday, lembra que a empresa passa por um processo de reestruturação para sanar esse endividamento após uma série de prejuízos seguidos. Para tentar resolver a situação, o Pão de Açúcar anunciou a venda de sua participação da rede colombiana Éxito por R$ 790 milhões. “O negócio ajuda, mas eles precisam fazer uma forte geração de caixa para resolver esse problema, que não deve ser solucionado em 2024. Esse processo deve levar mais tempo que o estimado pelo mercado. No entanto, não sei dizer quanto tempo a empresa vai levar para resolver a situação”, explica.
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A companhia também fará uma oferta de ações no mercado avaliada em R$ 1 bilhão. O dinheiro será utilizado para reduzir a dívida, o que para Hugo Baeta, da AF Invest, é a decisão correta. “Com a entrada desse dinheiro na empresa a companhia deve reduzir a alavancagem de 7,2 vezes para 4 vezes. Desse modo, o Pão de Açúcar vai finalmente poder focar em eficiência para novas avenidas de crescimento, visto que nos últimos dois anos a empresa deu prioridade para arrumar a casa com a venda de ativos e melhora de deficiências”, conclui Baeta.
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Por causa da junção da oferta de ações com a venda de ativos, Georgia Jorge, analista do BB Investimentos, se mostra mais otimista que o especialista da XP em relação à resolução do endividamento da empresa. “A apreensão relacionada à alavancagem financeira deve ser resolvida neste semestre com a utilização dos recursos decorrentes da venda de ativos para redução do endividamento e, consequentemente, das despesas financeiras”, explica Georgia Jorge, em relatório enviado aos clientes na última quinta-feira (22).
Assaí é o único com lucro e poucas críticas
Já o Assaí foi o único supermercadista entre os três que fechou o quarto trimestre de 2023 com lucro. A rede de supermercado reportou lucro líquido de R$ 297 milhões, queda de 28,6% na comparação com o ganho de R$ 406 milhões registrado no mesmo período de 2022. Segundo os analistas do BTG Pactual, o balanço da companhia foi positivo, com ela apresentando um “quadro de melhoria” mesmo após um recuo no lucro. A supermercadista já tem em operação 64 lojas da rede Extras convertidas em Assaí.
Em outubro de 2021, o Assaí comprou 71 lojas do Extra por R$ 5,2 bilhões para descontinuar a bandeira do concorrente e transformar as lojas em unidades do Assaí. De acordo com os analistas do BTG, a conversão ajudou a empresa a alcançar um crescimento de 15% nas vendas líquidas das lojas de atacado, que encerraram o último trimestre de 2023 em R$ 18,4 bilhões.
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“O Assaí também teve um aumento de 3% nas vendas sobre as mesmas lojas, o que para nós mostra que 2024 será um ano de normalização após a empresa passar por uma forte tempestade”, afirma Luiz Guanais e sua equipe, que assinam o relatório do BTG.
Senday, o analista da XP, conta ao E-Investidor que o resultado do Assaí foi bom e muito acima do previsto. “O resultado de Assaí foi tão interessante que para mim fica muito difícil identificar algo negativo. Ainda é possível dizer que o endividamento da empresa não está em patamar ideal, mas ele vem sendo reduzido de uma forma bem interessante. Então, não é nada que me chame muita a atenção negativamente”, comenta.
Qual ação de supermercado o investidor deve ter na carteira?
Ao olhar apenas a última linha do balanço, o investidor pode pensar que o Assai desponta como a melhor oportunidade de investimento entre os três supermercados – três dos quatro analistas consultados pela reportagem preferem a rede de atacarejo ao invés dos outros dois. No entanto, um analista tem a preferência por Carrefour.
Na visão de Fabricio Gonçalves, Ceo da Box Asset Management, o Carrefour desponta como a melhor opção pelo fato de apresentar perspectivas futuras mais otimistas, devido à sua posição sólida no mercado.
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“A empresa também tem capacidade de se adaptar às mudanças do setor varejista e apresenta um grande potencial de crescimento com a fusão com a rede Big, que pode gerar sinergias significativas e impulsionar ainda mais o valor da empresa”, comenta Gonçalves, que também acredita que o Carrefour teve um sólido resultado no trimestre mesmo após o prejuízo.
O analista, no entanto, ainda revisa o seu preço-alvo para a ação devido à alta recente de 15,7% do papel entre os dias 19 e 21 de fevereiro, quando a ação passou dos R$ 10,84 para 12,54.
Os demais analistas indicam que o Assaí está em uma situação melhor. A XP está otimista com Assaí e recomenda compra somente para essa companhia. “É importante notar que o Assaí espera que a geração de caixa em 2024 fique acima dos níveis de 2023 por conta de menores investimentos e taxas de juros, maturação das lojas e da última parcela do pagamento do Extra”, lembra Senday.
A XP tem preço-alvo de R$ 19 para Assaí, uma potencial alta de 29,1% na comparação com o fechamento de sexta-feira (23), quando o papel encerrou o pregão a R$ 14,72. A corretora está neutra com Carrefour e Pão de Açúcar por causa dos balanços apresentados.
O preço-alvo para Carrefour é de R$ 14, possível avanço de 13,7% em relação ao fechamento de sexta-feira (23). Já a estimativa para Pão de Açúcar é que a ação deve encerrar 2024 em R$ 5, provável crescimento de 32,3% na comparação a cotação do encerramento do pregão de sexta-feira.
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O BTG até recomenda compra para o Assaí, mas não com todo o otimismo apresentado pela XP. Segundo Luiz Guanais, o Assaí deve ser pressionado pela deflação apresentada pelo setor de alimentos, o que para a companhia significa pressão sobre as vendas. “Ainda assim, vemos o Assaí como um papel resiliente no setor, visto que os concorrentes apresentam problemas, como forte endividamento. Por isso, preferimos dar o benefício da dúvida para a companhia”, conclui.
O BTG tem recomendação de compra para o Assaí com preço-alvo de R$ 17, alta de 15,5% na comparação com o fechamento de sexta-feira. No caso do Carrefour, o banco de André Esteves tem recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 13, alta de 5,6% na comparação com o fechamento de quarta, assim como para o Pão de Açúcar, cujo preço-alvo de R$ 7 representa uma potencial disparada 85,2% no preço do papel em relação ao fechamento do último pregão.