No último texto, que você pode ler aqui, abordamos um pouco de como a política permeia as tomadas de decisões de atores institucionais como o Banco Central, responsável por determinar a taxa de juros do mercado (TBAN e TBC) e traçar a estratégia das taxas de juros no País.
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Agora, a ideia é demonstrar como a política pode impactar os investimentos e a tomada de decisão do mercado financeiro dentro da Bolsa. Para isso vamos pegar dois exemplos bem recentes: Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3;PETR4).
Para qual propósito?
Movimentos do atual governo no sentido de influenciar no processo de sucessão do presidente da Vale, Eduardo Bartolomeu, e a decisão da Petrobras de não pagar os dividendos extraordinários aos investidores estremeceram o sentimento de confiança do mercado financeiro em relação ao presidente Lula.
Apesar das negativas de intromissão da cúpula do governo nos dois episódios, o entendimento entre os atores do mercado foi de que Lula tentou interferir na Vale indicando o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega para o comando da empresa. Ter Mantega no comando de uma das maiores empresas privadas do país serviria a qual propósito?
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As reações às investidas políticas foram imediatas e sobrepuseram até as boas notícias que vinham do exterior na ocasião. No dia 25 de janeiro, mesmo com o minério de ferro registrando alta lá fora, as ações da Vale fecharam em queda de 2,2%, devido aos rumores políticos. O contrário também ocorreu. Ou seja, quando circulou a informação de que o governo teria desistido, as ações, no dia seguinte, chegaram a ter alta de pouco mais de 2%, o que impactou o Ibovespa de forma positiva.
No bojo das especulações, do sobe e desce das ações, Lula disparou: “A Vale não pode pensar que ela é dona do Brasil”. As declarações foram feitas em entrevista à Rede TV! em 26 de fevereiro e deixaram pairando no ar dúvidas se o governo tinha jogado a toalha.
Sustos de todos os lados
No caso da Petrobras, os players do mercado viram pesar a mão do atual governo na decisão do Conselho da empresa de contrariar avaliações técnicas e de não pagar os dividendos extraordinários aos acionistas. A possível ingerência da cúpula do Executivo levou a Petrobras a ter uma queda de 10% do valor de suas ações na bolsa.
Em apenas um dia, a companhia perdeu cerca de 56 bilhões de reais em valor de mercado. No caso da Petrobras, não foi a primeira vez que os investidores tomaram um susto com tentativas políticas de interferir nas tomadas de decisões da empresa. Em fevereiro de 2021, o então presidente Jair Bolsonaro, que vinha realizando uma série de críticas à política de preço de combustíveis, emitiu um comunicado anunciando a demissão do então presidente da empresa, Roberto Castello Branco. Na ocasião, a cadeira foi ocupada pelo general Joaquim Silva e Luna. No dia, a PETR4 registrou queda de 6,63. A Petrobras só recuperou o mesmo valor de mercado cerca de 120 dias depois.
Percebe-se que não se trata de uma questão meramente de cunho ideológico ou de uma agenda econômica mais voltada para o desenvolvimentismo ou liberalismo. As tentativas e até as intervenções de um governo nas grandes empresas do País têm ocorrido dentro de um contexto em que o governante não enxerga limites à intervenção do setor público na economia. Essa miopia não apenas assusta como afasta os investidores privados.
Mudança de carteira
A pesquisa realizada pela Genial Investimentos/Quaest entre os dias 14 e 19 de março, com 101 representantes do mercado financeiro traz um retrato desse sentimento de inquietude. De acordo com o levantamento, 57% dos entrevistados disseram que mudaram a carteira de investimentos após as declarações de Lula sobre a Vale e a Petrobras.
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Em relação à Vale, 89% consideram que uma intervenção do governo vai diminuir investimentos estrangeiros no Brasil. O mal humor do mercado também foi identificado na avaliação do governo Lula. Aqueles que consideram como “negativo” passou de 52% para 64%.
A questão que se coloca é quanto desse azedume em relação ao governo está refletido no atual patamar de 127.000 pontos da Bolsa.
O curioso é que esses números surgem no mesmo momento em que o governo dá sinais de que conseguiu atingir o volume de arrecadação necessário para manter a meta do déficit primário. Algo que vinha sendo motivo de muitas dúvidas e questionamentos dentro do mercado desde o início do Lula 3. E apesar de não termos sinais, no curto prazo, de que o Marco Fiscal será enterrado, as tentativas de intromissão políticas na Petrobras e Vale têm estado entre as principais preocupações do mercado, neste momento.
Para o investidor que tiver uma melhor compreensão de que a política também está entrelaçada com os rumos das grandes empresas da Bolsa (privadas ou públicas), haverá sempre oportunidades.
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Boa semana e bons negócios.