- A renda fixa ajudou os fundos de investimento brasileiros a alcançarem a segunda melhor captação para um primeiro trimestre dos últimos cinco anos. Mas uma subclasse chamou a atenção: os fundos de infraestrutura
- Com novas regras limitando a emissão de títulos isentos e a rentabilidade do mercado de crédito privado em alta, o patrimônio dos FI-Infras saltou de R$ 68,3 bilhões em janeiro para R$ 86,7 bilhões em março
- Mas especialistas destacam outras três vantagens dos FI-Infras que podem estar ajudando o ativo a se popularizar: dividendos, isenção de imposto de renda e liquidez
A renda fixa ajudou os fundos de investimento brasileiros a alcançarem a segunda melhor captação para um primeiro trimestre dos últimos cinco anos. Dados divulgados pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) mostram que, entre janeiro e março, a indústria recebeu um total de R$ 105 bilhões em aportes – só a renda fixa foi responsável por uma entrada de R$ 131,7 bilhões, mas as outras classes tiveram resgates.
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Mas uma subclasse se destacou ainda mais: o crédito privado. Como mostramos nesta reportagem, o mercado de títulos privados está vivendo um boom em 2024, impulsionado, entre outros fatores, pelas novas regras que limitam a emissão de papéis incentivados. Esse cenário tem feito investidores migrarem para os fundos de crédito, especialmente os fundos de infraestrutura. Os FI-Infras, como são conhecidos, viram o seu patrimônio líquido saltar de R$ 68,3 bilhões em janeiro para R$ 86,7 bilhões em março de 2024.
O número de fundos desta categoria subiu de 457 para 508 e o número de contas abertas de 291.546 para 416.727.
“Com as regras mais apertadas do CMN para emissão de CRI, CRAS e LCIs e LCAs, os ativos isentos de imposto de renda estão mais escassos no mercado, e a principal alternativa do investidor está sendo as debêntures de infraestrutura e os fundos de investimentos dessa classe”, explica Kaique Fonseca, economista e sócio da A7 Capital.
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Mas a boa rentabilidade desses ativos em 2024 também pode estar impulsionando o fluxo de investidores para a classe.
Fonseca destaca que o JGP-Idex (índice de debêntures de infraestrutura) entregou um retorno acima de 17% nos últimos 12 meses, bastante superior ao CDI de 12,35% do período, e à inflação de 3,93%. “Isso ocorreu, pois os spreads de crédito diminuíram substancialmente, dado o ambiente mais brando para mercado de dívida em 2024 quando comparado com 2023, ano de pico de spreads com os pedido de recuperação judicial de empresas participantes do mercado de capitais. Acredito que a rentabilidade também influenciou positivamente a captação dos fundos de infraestrutura.”
Para além da rentabilidade e do momento de mercado, os FI-Infras têm se popularizado em meio às vantagens oferecidas ao investidor. Segundo os especialistas, a combinação de liquidez, isenção de Imposto de Renda e dividendos mensais está fazendo com que a classe de ativos ganhe espaço nas carteiras.
Dividendos, isenção de IR e liquidez
Os FI-Infras são fundos de investimento que investem em ativos relacionados à captação de recursos para investimento em infraestrutura. Na prática, a gestão ativa dos fundos compra títulos de dívidas de empresas privadas, como debêntures incentivadas e certificados de recebíveis.
Os ativos são negociados em Bolsa, então, para investir, é preciso comprar as cotas e negociá-las no mercado secundário. Isso garante maior liquidez para o investimento, o que é um dos grandes benefícios dos FI-Infra – tanto para os investidores, quanto para os gestores.
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“O FI-Infra é ‘matador’ em relação à liquidez se comparado com outros ativos mais comuns da carteira do brasileiro, como bancários, CDBs ou até o fundo de renda fixa tradicional”, destaca Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos. “A partir do momento que um ativo é listado na B3 um ativo e passa a ser livremente negociado, o que o investidor faz é comprar ou vender cotas para outro acionista. Isso faz com que o gestor do fundo não precise desinvestir recursos ou vender ativos quando sofre um grande resgate, o que gera uma ineficiência de custos para o ativo.”
Mas, para além da liquidez, os FI-Infras têm outras duas vantagens que se destacam tanto na visão dos analistas, quanto dos investidores. A primeira delas é a isenção de Imposto de Renda, mais ampla do que em outros produtos. Esses fundos são isentos tanto nos rendimentos distribuídos, quanto no ganho de capital, em caso de venda de cotas com lucro – no caso dos FIIs, Fiagros e ações, a isenção ocorre apenas nos rendimentos, por exemplo.
Com liquidez e isenção de IR, os FI-Infras ainda pagam dividendos mensais. Amanda Coura, diretora da Suno Asset, explica que o pagamento de proventos não é obrigatório, como acontece nos Fundos Imobiliários (FIIs), que precisam distribuir 95% de seus resultados semestralmente. Ainda assim, para manter os ativos atrativos frente à “concorrência” já conhecida e bem quista pelos investidores brasileiros, como os FIIs, instituiu-se a dinâmica de pagamento mensal de rendimentos também nos FI-Infras.
“Os FI-infras investem em títulos de dívida de renda fixa que incorporam diariamente a marcação em seu preço, além do pagamento do cupom (juros e amortização) normalmente em janelas semestrais. Com essa dinâmica, conseguem pagar rendimentos todos os meses, com uma combinação de juros e amortização das cotas”, diz Coura. “Muitos já deixam previsto esse pagamento mensal de rendimento no próprio regulamento, outros simplesmente seguem essa dinâmica mensalmente.”
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Um levantamento feito pela Com Dinheiro, a pedido do E-Investidor, mapeou os dividend yields dos ativos listados na B3. As taxas variam: é possível encontrar yields de 3,5%, mas também de 15,8% em 12 meses. Em janelas maiores, de 24 meses, alguns FIIs acumularam um yield superior a 25%.
"Os FI-Infras podem ser aliados a uma carteira com foco em dividendos, dado a recorrência mensal do pagamento de dividendos. O investidor deve levar em consideração alguns fatores para a escolha dos ativos, como: perfil de risco da carteira do fundo, pulverização da carteira, concentração setorial, carrego médio (taxa dos ativos dentro da carteira) e volume negociado dos fundos em questão", destaca Gustavo Saula, analista de investimentos na Solutions MFO; do Grupo SWM.
Como escolher um FI-Infra na Bolsa
Os FI-Infras começaram a ser negociados no Brasil apenas em 2020. Por ser um mercado que está apenas começando, existem hoje poucos ativos disponíveis na Bolsa; 14 ao todo, segundo a B3. Isso significa que é preciso atenção na hora de escolher por um ativo ou outro.
Para Beto Saadia, da Nomos, um bom caminho para o investidor pessoa física é escolher um fundo de volume relevante e casas de gestão renomadas. "O volume do fundo é importante porque, geralmente, diz respeito à liquidez. Dado que o investidor vai precisar comprar e vender o ativo na Bolsa, então é importante ter liquidez tanto na hora da compra quanto na hora da saída", diz. "E por fim buscar casas de boa reputação no mercado, que tradicionalmente sempre fizeram renda fixa."
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Mas também é preciso ficar atento ao risco de crédito. Por serem ativos que investem em títulos de dívida, os FI-Infras estão expostos ao temido calote; quando um emissor não consegue honrar com as suas obrigações financeiras. Por isso, o investidor também deve prestar atenção na qualidade do portfólio daquele ativo, destaca Amanda Coura, da Suno.
"Concentração diversificação, perfil dos devedores e relação risco versus retorno", elenca. "Além disso, é importante também o investidor analisar a performance do fundo, com a combinação de retornos consistentes e oscilação da cota a mercado, comparando esse indicador com outros fundos do mercado e indexadores que sejam compatíveis com a carteira."