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- O "benchmark" é uma comparação utilizada no mercado para que o investidor possa acompanhar se o seu investimento está rendendo em linha com os pares da mesma classe
- Essa métrica de avaliação é muito utilizada pelos fundos de investimento, que costumam ter um índice de referência para as performances – na renda fixa e nos multimercados, o CDI; nas ações, o Ibovespa. Mas bater o benchmark não é tarefa fácil
- Levantamento mostra que, no geral, os fundos perdem para o CDI e para o Ibov no curto prazo; no longo prazo, multimercados vai bem, enquanto os fundos de renda fixa deixam a desejar
No mercado de investimentos, o retorno de um ativo costuma ser analisado em comparação ao de um outro semelhante para medir o custo de oportunidade. O “benchmark”, nome dado a esse índice de referência, é utilizado para que o investidor possa acompanhar se a sua alocação está rendendo em linha com os pares da mesma classe, um indicativo de que está sendo bem gerido e é realmente uma boa opção para se ter na carteira.
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Essa métrica de avaliação é muito utilizada pelos fundos de investimento, que costumam ter um índice de referência para as performances – na renda fixa e nos multimercados, o CDI; nas ações, o Ibovespa.
“O benchmark deve ser um dos fatores avaliados na hora de escolher o investimento, afinal ele vai indicar se o fundo busca um retorno de acordo com o seu objetivo”, diz Caio Canez de Castro, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital. “Ainda é muito comum basearmos o desempenho de um investimento avaliando se ele supera ou não o CDI, já que é a métrica mais conhecida no mercado e também uma exigência da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e Banco Central (BC).”
Os retornos dos fundos de investimentos
Mas bater o benchmark nem sempre é uma tarefa fácil. Um levantamento feito pela Terra Investimentos, com dados da Economatica, mapeou o desempenho de três classes de fundos de investimento em relação aos índices de referência em diferentes janelas de tempo. O objetivo era entender qual a parcela dos fundos multimercados, de renda fixa e de ações disponíveis no mercado tinha um retorno acumulado entre 2 a 10 anos superior ao do CDI e do Ibovespa.
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No geral, os fundos apresentam maior dificuldade em superar o benchmark no curto prazo, em janelas de dois a três anos. Depois desse período, cerca de metade da indústria de fundos de ações consegue bater o Ibovespa, enquanto mais de 70% dos multimercados vence o CDI.
Na renda fixa, no entanto, o cenário é pior: em todas as janelas de retorno analisadas, cerca de 60% dos fundos perde para o CDI – veja mais detalhes aqui. Para Eduardo Montalban, diretor de gestão de recursos da Terra Gestora, isso acontece porque a maioria dos fundos são conservadores e têm pouca flexibilidade para buscar estratégias que rendam mais. Como o Brasil tem juros estruturalmente mais altos, o CDI costuma ser um concorrente "forte" para os gestores.
"Em geral, a classe de renda fixa busca mais estabilidade nos rendimentos e por isso não conseguem ter estratégias que paguem a taxa de administração e superem o seu benchmark (CDI)", explica. Confira aqui o ranking dos fundos de renda fixa que mais perdem do CDI.
Essa diversidade de estratégias e maior flexibilidade de atuação é um dos grandes trunfos dos multimercados. Por serem ativos de volatilidade mais elevada, especialistas preferem analisar essa classe de ativos em janelas de tempo maiores, que permitem avaliar o desempenho dos gestores em diferentes cenários e ciclos do mercado. E é justamente nela que os multimercados se destacam como a classe de fundos que têm maior facilidade para superar o benchmark.
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Christopher Galvão, analista de fundos da Nord Research, explica que os multimercados têm conseguido entregar uma performance mais si10gnificativa em relação ao CDI em grande parte por causa da diversificação das alocações. "Muitas vezes, os multimercados têm a renda fixa presente de forma relevante, ainda mais tratando de Brasil, onde vemos a atuação em juros exercer uma atribuição importante na performance. Mas eles não estão investindo somente nisso, como também em ações, em commodities, em moedas", diz. "Dado a essa maior diversificação, isso garante ao longo do tempo uma rentabilidade mais significativa."
Isso não significa, no entanto, que o retorno acima do CDI é sempre entregue pelos gestores de multimercados. Em 2023, por exemplo, essa classe de fundos teve um dos piores anos de sua história. Segundo o levantamento da Economatica, somente 39% dos 2.188 fundos analisados conseguiram bater o índice de referência.
- Leia também: Fundos de ações recorrem a “investimento do ano” para ganhar mais de 90%
Os fundos de ações, por sua vez, foram os que tiveram o melhor desempenho no ano passado, com 46% dos 1.281 fundos analisados superando o Ibovespa em um ano de ganhos elevados na Bolsa. "Isso mostra como o retorno da classe de fundos varia muito de um ano para o outro, pois depende muito de como o mercado se comporta", diz Eduardo Montalban, diretor de gestão de recursos da Terra Gestora.
"Mas a classe de fundo de ações, na média, apresenta no longo prazo dificuldade em bater o benchmark, porque é um mercado muito difícil de prever. Precisa ter muito preparo e estudo para conseguir superar o Ibovespa no médio e longo prazo, poucos gestores têm essa habilidade".
Por que o benchmark importa?
O benchmark é uma métrica importante para avaliar se um ativo merece ou não o lugar que ocupa na carteira de investimentos. Afinal, se um fundo de renda fixa continuamente perde para o CDI ou um fundo de ações está sempre atrás do Ibovespa, podem existir opções melhores e mais rentáveis para aquela alocação. Mas é preciso se atentar sempre aos retornos acumulados no longo prazo e em diferentes janelas de prazo, para avaliar de forma mais justa o trabalho daquele time de gestão.
"É importante ficar atento aos benchmarks em diferentes janelas. Se um fundo não bate o CDI em dois, três, cinco anos, ou até nunca bateu, é preciso repensar a alocação naquele ativo, porque o investidor estará pagando taxa de administração. Pode valer mais a pena procurar um outro fundo ou até mesmo investir naquele benchmark diretamente, investir no CDI, por exemplo", destaca Christopher Galvão, da Nord. "Mas é preciso fazer uma análise robusta, em diferentes janelas, para ver o que de fato está ocasionando aquela não geração de performance."
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