- O impacto da religião sobre a vida financeira de uma pessoa pode se manifestar de diversas maneiras, de religião para religião
- Existem crenças que atrelam o dinheiro a algo negativo e relacionam a pessoa que o possui ao egoísmo e pecado
- No cristianismo, além dos pecados capitais, a ideia sobre o dinheiro está muito atrelada ao conceito do dízimo, a contribuição que os fiéis dão à igreja
O dinheiro e os investimentos estão diretamente ligados à fé – mesmo para aqueles que são ateus. Você não guarda dinheiro hoje e o investe em determinado ativo se não acreditar que, no futuro, terá um retorno vantajoso em relação a isso. Ter fé é acreditar em algo, ver sentido na vida e dar um propósito para ela. Sonhar é ter fé. E, sem sonhos, não há motivos para investir – buscar apenas se prevenir de possíveis emergências não o levará muito à frente no mundo dos investimentos.
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Mas se a fé pode te levar mais longe em relação ao dinheiro, ela também pode te colocar atrás. Tudo depende da sua crença: ela te limita ou te impulsiona quando o assunto é prosperidade?
“O Brasil é um país muito religioso e, nesse sentido, especialmente nas religiões católicas – não nas protestantes, mas nas católicas – o dinheiro está mais visto como algo sujo e ligado ao pecado”, diz Valéria Meirelles, psicóloga especialista em Psicologia do Dinheiro e colaboradora da Multiplicando Sonhos.
Qual a relação entre religião e dinheiro?
O impacto da religião sobre a vida financeira de uma pessoa pode se manifestar de diversas maneiras – e, por vezes, contraditórias – de religião para religião. Existem crenças que atrelam o dinheiro a algo negativo. Ter muito dinheiro o coloca como alguém egoísta e pecadora, já que há tanta pobreza no mundo.
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Ao mesmo tempo, em outras religiões, o dinheiro é uma recompensa para aqueles que trabalham e “merecem” uma vida próspera. É algo divino, ao qual se deve agradecer e não para sentir culpa. No cristianismo, além dos pecados capitais (mais especificamente, a avareza e a luxúria), a ideia sobre o dinheiro está muito atrelada ao conceito do dízimo, a contribuição que os fiéis dão à igreja.
O dízimo nasceu como uma contribuição voluntária dos fiéis para manter os sacerdotes e templos religiosos. Faziam isso em agradecimento à deus e pelo entendimento de que era graças a ele que conseguiam o sustento. Com o tempo, o dízimo passou a ser dado por meio do temor. As pessoas tinham medo de não entrar nos portões do céu caso não dessem parte de suas rendas à igreja. Também tinham medo de serem julgadas e excluídas socialmente por isso.
Conforme a igreja católica perdeu poder, o dízimo também deixou de ter tanta força. As pessoas começaram a contribuir de forma mais flexível e voluntária. Por outro lado, o dízimo foi ganhando força nas igrejas protestantes, em especial as pentecostais. O dízimo na igreja protestante não funciona pelo temor, mas sim pela promessa de que, ao dar, se receberá em dobro. É uma mentalidade focada no dinheiro, que não o demoniza, mas muitas vezes cria ambição. “É o dinheiro como forma de sucesso”, define Valéria.
Já na umbanda, religião que mistura as de matrizes africanas com o cristianismo, algumas entidades estão atreladas ao dinheiro e à prosperidade, como Oxum, Oxossi e Exu do Ouro.
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Nesta religião, o dinheiro não é algo negativo, mas também não é, na maioria das vezes, a finalidade. O foco se dá na prosperidade de forma mais ampla. É por isso que as oferendas são feitas com riqueza em comida, por exemplo. Oxum, representada pela cor dourada, é a orixá do amor, sentimento relacionado à prosperidade nesta religião. E Oxossi é o orixá do sustento, do trabalho – ou seja, o dinheiro é ligado à nutrição do ser, sempre em acordo com a natureza, e não para ostentação.
Independentemente da religião que se segue, meu objetivo com este artigo é mostrar que a nossa concepção sobre dinheiro é, muitas vezes, moldada pela cultura ao nosso redor. E a religião tem um papel fundamental nisso.
“Esta cultura religiosa a respeito do dinheiro molda como a família enxerga o dinheiro. É o que ela vai transmitir para os filhos”, diz Valéria. “Se a família transmite que dinheiro é algo sujo e complicado e também tem experiências negativas com dinheiro, os filhos vão assimilar isso. E, na contramão, no sucesso, também.”
Isso não quer dizer que uma religião seja melhor que a outra no ponto de vista financeiro. Mas sim que é importante entender como o seu comportamento e as suas crenças impactam o seu dia a dia e decisões. Equilibrar a sua crença religiosa com sua concepção de mundo e necessidades e desejos materiais, sem tantos julgamentos, pode ser a chave para uma relação mais saudável e independente com as suas finanças.
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Para isso, é importante se perguntar: para você, o que é o dinheiro? O que ele te desperta? Culpa, medo, alegria, satisfação? Identificar todos esses fatores é tão importante para a sua educação financeira, quanto fazer uma tabela de gastos e escolher investimentos.