- Te desafio a conversar com algum investidor que tenha ficado de fora do case, enquanto todos duvidavam do seu potencial, e que não tenha se arrependido amargamente
- A companhia acumula R$ 177 bilhões em valor de mercado, equivalentes a uma valorização de 47.000% nos últimos 3 anos ou de 700 vezes nos últimos 5 anos
- Para compreender a situação, é preciso que o leitor esteja familiarizado com o novo conceito de empresa inteligente, interligada em um sistema de redes, dentro de um ecossistema digital
Qual será a próxima Magazine Luiza (MGLU3)? Essa pergunta se tornou jargão de mercado e título certo para os mais chamativos vídeos de YouTube, dedicados àqueles que buscam as pechinchas que se multiplicarão exponencialmente.
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Te desafio a conversar com algum investidor que tenha ficado de fora do case, enquanto todos duvidavam do seu potencial, e que não tenha se arrependido amargamente. Não é para menos, afinal a companhia acumula R$ 177 bilhões em valor de mercado, equivalentes a uma valorização de 47.000% nos últimos 3 anos ou de 700 vezes nos últimos 5 anos.
“Ah, se eu tivesse comprado MGLU3 em 2015, estaria rico!” Será?
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Antes, vamos entender ao que podemos atribuir o sucesso da empresa, sem entrar no mérito de “caro ou barato”. Para compreender a situação, é preciso que o leitor esteja familiarizado com o novo conceito de empresa inteligente, interligada em um sistema de redes, dentro de um ecossistema digital.
Veja também: Magazine Luiza (MGLU3): Bradesco BBI eleva preço-alvo para R$ 30
Foi Ming Zeng, ex-estrategista chefe do Alibaba e braço direito de Jack Ma por mais de 10 anos, o responsável por atualizar o tradicional modelo de estratégia competitiva consolidada por Porter. Analisar, planejar e executar já não é mais suficiente, sobrevive aquele que se adapta.
Ming divide as empresas em três categorias, cada uma com um papel neste ecossistema. Tipo ponto, ou empresas nichadas; tipo linha, aqueles que dominam uma cadeia de produção, e empresas plano, que conectam todas elas.
Veja este trecho de um press release de 2019: “Durante 18 anos, nós, do Magalu, montamos um bem-sucedido modelo estratégico de linha. Nos tornamos uma empresa multicanal e lucrativa no ramo de bens duráveis. Mas, em 2018, decidimos que nosso formato nesse novo mundo seria o de plano. Passaríamos a ser um ecossistema, com foco em varejo.”
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Ou seja, a Magalu quer ser o Alibaba e está sendo precificada como tal. Boa parte do valor da companhia está, então, em sua perpetuidade. Cada vez que o mercado julgar que seu objetivo está mais próximo de se tornar realidade, o preço tende a subir. Com a pandemia, a aceleração da cultura digital se tornou irreversível.
Poderíamos então assumir que todas as empresas em processo de digitalização, principalmente varejo, terão uma vertente enorme de crescimento e, consequentemente, de rentabilidade para seus acionistas, certo? Pode não ser bem assim! Benjamin Graham, o autor mais citado e menos lido do mercado financeiro, em sua obra “O Investidor Inteligente”, é enfático:
“Perspectivas óbvias de crescimento físico em um negócio não significam lucros óbvios para os investidores”.
Outro trecho que trata do assunto responde também a várias perguntas do nosso público em relação ao investimento em empresas chamadas de crescimento: “Embora pareça fácil prever qual setor crescerá mais rapidamente, essa previsão não tem valor real se a maioria dos outros investidores já espera a mesma coisa. Quando todo mundo decidir que um certo setor é obviamente o melhor para se investir, os preços de suas ações já subiram tanto que os rendimentos futuros não terão para onde ir, a não ser para baixo.”
Obviamente, Graham não poderia ter previsto o rumo das empresas ditas da nova economia em 1949. Mas, 70 anos depois, será que seus ensinamentos estão obsoletos? Em certa medida, os controladores da Magalu parecem ter feito bom proveito desta leitura. Desde a oferta de ações no fim do ano passado, a família Trajano tem vendido ações consistentemente no mercado. Os valores somam pouco mais de R$ 650 milhões entre novembro de 2019 e agosto de 2020, segundo dados divulgados nos Formulários Consolidados.
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Agora que você está devidamente contextualizado, vamos à pergunta do milhão: quem realmente ganhou dinheiro, ficou rico com MGLU3? Primeiro, quem comprou o projeto quando seu potencial de sucesso ainda era questionado (e muitas vezes motivo de chacota) pela maioria. Segundo, quem não vendeu! Basicamente os Controladores e alguns fundos.
Percebem que há uma inconsistência aqui com a ideia de retornos rápidos? E é justamente por isso que somos tão críticos àqueles que entram na Bolsa em busca da “nova Magazine Luiza”… Simplesmente porque é um canto da sereia para a grande maioria.
Um exercício simples, pense e seja sincero: se uma ação da sua carteira valorizasse 500%, você estaria satisfeito com esse retorno e realizaria a venda? Provavelmente, se você foi honesto, a resposta foi sim.
Outra provocação: e se você fosse acionista desde o início, no IPO em 2011, aguentaria ficar todos esses anos esperando o case (que aparentemente ninguém acredita que dará certo), enquanto outras empresas sobem e você está deixando de ganhar?
Esses são dilemas não muito distintos do que passamos como investidores previdenciários; claro, cada um com objetivos diferentes. Mas, em ambos os casos, seja na busca por valorização do papel, ou dividendos, os perfis têm algo em comum: ninguém tem pressa. Se você vendesse nos 500% de rentabilidade, teria perdido os outros 65.500% que estariam por vir.
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Obviamente, tudo parece muito simples quando olhamos pelo retrovisor. Mas na prática, enquanto você vive essa experiência, é extremamente difícil de saber a hora de vender ou de não fazer nada. Na verdade, muitas das minhas melhores decisões no mercado foi não ter feito nada… Não fazer nada também é uma decisão.