- Para os economistas, o atual patamar entre 5,25% e 5,5% será mantido
- No entanto, dois pontos serão atentamente observados por investidores do mundo todo: o comunicado da reunião e o “dot plot”
- Payroll acima do esperado mostrou que economia americana continua aquecida e pressionando a inflação
Esta não é uma quarta-feira (12) como outra qualquer. O comitê de política monetária da maior economia do mundo, o Federal Reserve (Fed, banco central americano), vai anunciar a nova taxa de juros dos Estados Unidos. Para os economistas, o atual patamar entre 5,25% e 5,5% será mantido, mas o que virá dessa reunião será acompanhado pelo mundo todo — e os impactos podem mexer no bolso do investidor brasileiro.
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André Diniz, economista da Kinea, explica que além da decisão em si, dois pontos serão atentamente observados: o comunicado e o “dot plot”. Ele lembra que o primeiro traz um pouco dos detalhes da reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), sendo seguida pela coletiva de imprensa de Jerome Powell, presidente do Fed.
Já o segundo, divulgado trimestralmente (e será o foco do dia), traz um resumo com as projeções econômicas de cada integrante do comitê em relação ao ano. “Em especial, se eles irão revisar a expectativa de cortes de juros para esse ano, que são chamados ‘dots’, em que no trimestre passado projetou-se 3 para este ano. A grande questão é se eles vão revisar isso para 2 ou para apenas 1 corte esperado”, explica.
Enquanto isso, Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, acredita que os membros do Fed devem de fato revisar para baixo o número de cortes nos juros americanos. “Que a verdade seja dita, nos últimos dois meses todas as intervenções públicas dos diretores do Fed foram na direção de dizer que a inflação ainda está pressionada e que ainda é necessário manter o juro alto”, aponta.
Revisão de cortes pode afetar economias globais – incluindo a brasileira
Embora a decisão seja sobre a política monetária dos Estados Unidos, os seus reflexos são sentidos em outras economias. Alexandre Dellamura, head de conteúdo da Melver, explica que para o mercado brasileiro, a demora na redução dos juros americanos reduz o fluxo de capitais e pressiona o real. Segundo ele, isso também encarece o custo dos empréstimos de empresas brasileiras com dívidas em dólar.
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“O Banco Central do Brasil deverá ajustar a sua política econômica a esse cenário. No mercado de capitais, somado ao cenário político americano e ao fiscal brasileiro, é provável que se observe maior volatilidade”, afirma Dellamura.
A mesma linha é seguida por Paulo Gala, do Banco Master. Ele lembra que, no final do ano passado, com a perspectiva de que o início do corte de juros ocorreria desde março, a Bolsa de Valores brasileira passou por uma forte valorização, assim como o real frente ao dólar. Agora, o caminho promete ser o inverso. “A Bolsa terá dificuldades para subir, o juro longo aqui continuará muito pressionado — hoje está em 12% — e muito provavelmente o Banco Central deve parar de cortar a taxa Selic já na próxima reunião, em 10,5% ao ano.”
Economia americana ainda aquecida
É preciso lembrar que algumas coisas mudaram desde março, quando o último resumo com as projeções do Fomc foi divulgado. “Foi possível observar mudanças importantes, com destaque para a leitura do mercado de trabalho saindo de moderada para forte, enquanto a inflação seguiu classificada como forte e tendo seu desempenho visto como resiliente”, afirma Matheus Pizzani, economista da CM Capital.
Na última sexta-feira (7), o relatório mensal de emprego, também chamado de payroll, mostrou a criação de 272 mil novos postos de trabalho em maio, muito acima da mediana de 185 mil que era prevista pelos analistas consultados pelo Projeções Broadcast. Além disso, a remuneração por hora dos trabalhadores do país variou para cima em 0,4% — superando as estimativas de 0,3%.
“Esses números sugerem a manutenção do comportamento resiliente por parte da demanda, que deve seguir sendo puxada pelo consumo das famílias, trazendo consigo potencial inflacionário significativo à economia americana”, diz Pizzani.
E por falar em dados, o índice de preços ao consumidor (CPI) será divulgado ainda nesta manhã, antes da decisão do Fed. Porém, segundo Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, os números dificilmente devem afetar a decisão dos membros do Fomc. “Historicamente, o CPI é menos importante que o PCE (índice de preço de consumo pessoal), mas na gestão Powell ele ganhou maior relevância visto a ansiedade dos investidores durante a pandemia com as movimentações dos juros.”
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