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- Com 22% no mercado de recarga pré-paga no Brasil, o Nubank deve chegar ao mercado de telefonia móvel com vantagens
- A chegada do banco pode tornar o mercado ainda mais competitivo e obrigar os outros players a ajustarem os preços dos seus planos
- Para especialistas, o objetivo do banco vai além da diversificação das suas fontes de receitas. O roxinho busca atrair e conhecer melhor a sua base de clientes
Sem fazer grandes alardes, o Nubank (ROXO34), que se tornou o maior banco da América Latina na última terça-feira (28) ao ultrapassar o Itaú (ITUB3; ITUB4) em valor de mercado, avança em direção ao setor de telecomunicações por meio de uma parceria com a Claro. A movimentação silenciosa virou preocupação para as companhias do setor listadas na Bolsa – principalmente Telefonica Brasil (VIVT3) e TIM (TIMS3) – que acompanham a chegada de um concorrente de peso, ao mesmo tempo que os investidores tentam decifrar o objetivo final do banco digital com a empreitada.
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O setor possui custos elevados e a ausência de casos de sucesso para os estreantes no segmento de operadora móvel virtual tornam a aposta do Nubank ainda mais ousada. Com 22% no mercado de recarga pré-paga no Brasil, a fintech obteve a aprovação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para se tornar uma operadora móvel virtual (MVNO, na sigla em inglês).
A entrada do banco digital no setor de telecomunicação não começará do zero. O roxinho vai utilizar a infraestrutura já existente da Claro para oferecer planos de telefonia móvel no varejo, o que lhe traz vantagens em termos de custos. Já para a Claro, o benefício está no aumento da sua receita com o “empréstimo” de parte da sua rede.
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Para os analistas da XP, a estratégia pode garantir ao Nubank uma relevância importante neste mercado nos próximos trimestres. ”O Nu desafiou as normas convencionais neste mercado com um modelo de contratação distinto, não baseado apenas na capacidade da rede, envolvendo provavelmente um acordo de partilha de receitas com o seu parceiro de telecomunicações”, escreveram os analistas da XP em relatório.
A corretora avalia ainda que a estratégia de execução com custos mais baixos e um forte canal de interação com o cliente podem se tornar os elementos-chave para o bom desempenho do neobanco entre as teles. “As capacidades únicas da Nu aumentam a probabilidade de sucesso”, ressaltaram os analistas.
A decisão de entrar em um segmento fora do seu “core business” (negócio principal) vai além da ideia de diversificação das fontes de receitas. O foco do Nubank, para o diretor do Núcleo de Inovação e Tecnologias Digitais da Fundação Dom Cabral, Hugo Tadeu, ainda se volta para a sua principal linha de receita: desenvolver novos produtos financeiros.
Com a oferta do novo serviço, a companhia terá mais dados para conhecer a fundo a sua base de clientes e ter condições de desenvolver produtos que possam atender as dores dos correntistas. “Trata-se de uma estratégia de aquisição de dados. O Nubank não quer ser uma Claro. Ele quer ter uma base de clientes maior para desenvolver os seus produtos digitais para que isso resulte em um aumento da sua rentabilidade e, consequentemente, consiga crescer mais”, avalia Tadeu.
Segundo o balanço operacional do Nubank referente ao primeiro trimestre deste ano, o roxinho conseguiu adicionar na carteira 5,5 milhões de clientes nos três primeiros meses de 2024 após registrar outros 20,2 milhões em 2023. Com esses acréscimos, o neobanco esbanja uma base de 99,3 milhões de correntistas até o momento.
O que é MVNO?
A nova linha de negócio do Nubank, após a aprovação da Anatel, vai oferecer plano de telefonia móvel e de rede para os seus clientes. Para o consumidor final, o serviço chega igual aos pacotes vendidos pelas companhias do setor de telecomunicação, como Claro, TIM e Vivo. A diferença está na estruturação do negócio.
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Alexandre Caramelo Pinto, coordenador executivo e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), explica que o trabalho da fintech ficará concentrado apenas na estruturação dos planos de serviços sem a necessidade de construir uma infraestrutura física, como torres de radiofrequência, para viabilizar a oferta. “A parceria consiste em ‘alugar’ a capacidade ociosa da rede de uma operadora tradicional, conhecida como operadora de rede hospedeira”, diz Caramelo Pinto. “É de certa forma, uma maneira inteligente de dividir os investimentos e riscos do negócio”, complementa o especialista.
Com essa vantagem, as empresas MVNO podem oferecer planos mais personalizados a preços competitivos. Na outra ponta, as operadoras de rede hospedeira, como a Claro, se beneficiam com ganho de receita proveniente do aumento do uso da capacidade da sua infraestrutura de rede, como a redução de custos em aéreas de baixa demanda. Esse bônus compensa a concorrência com uma nova comercializadora de planos de telefonia móvel e de internet no mercado.
Nubank ameaça empresas de telecomunicação?
A possibilidade do Nubank ser bastante assertivo na sua estratégia de oferecer um serviço de operadora móvel virtual pode tornar o ambiente de mercado mais difícil para as teles. Embora ainda seja cedo para estimar esse impacto, a XP avalia que a TIM e a Vivo são as principais prejudicadas com a entrada do banco do setor de telecomunicações.
“Consideramos que a TIM poderá ser marginalmente mais afetada devido à sua relevância no segmento pré-pago e à maior base de clientes no segmento controle”, destacaram os analistas da XP. A Vivo pode estar mais protegida no segmento pós-pago, ainda conforme a análise da corretora. O motivo se deve aos seus pacotes de serviços, que podem dificultar a intenção do cliente migrar para uma empresa concorrente.
Victor Ary, gestor de investimentos e sócio da Grifo Asset, estima que o Nubank possa capturar 7% do mercado de telefonia móvel em três anos com a oferta de preços mais competitivos e com a ausência de investimentos em infraestrutura. Antes do setor entrar no radar do Nubank e de outras companhias, como a Brisanet (BRIT3), os outros players do mercado conseguiram ajustar os preços de planos e repassar os custos. “A competição pela captura de clientes promete ser acirrada, o que leva as operadoras a diminuírem os preços de seus planos para não perderem clientes”, ressalta Ary.
Hora de investir em Nubank?
A entrada do Nubank no setor de telefonia móvel é vista com bons olhos pelo mercado por adicionar valor ao banco no médio prazo, principalmente, em um momento em que a carteira de crédito segue forte em expansão. “Dada a capilaridade da base de clientes e o nívelB de informações que as empresas de telecomunicação têm sobre os seus clientes, o Nubank está fazendo esse movimento em um nível que pode se tornar uma avenida de crescimento no futuro”, afirma Matheus Nascimento, analista da Levante.
Com essa perspectiva, a Levante mantém recomendação de compra para os BDRs (título emitido no Brasil que representa uma ação de companhia aberta sediada no exterior) do Nubank com um preço-alvo de R$ 11. O Itaú BBA também segue na mesma linha de pensamento ao passo de reiterar a recomendação “outperform” (equivalente a compra) para o papel.
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Em relatório publicado nesta segunda (27), os analistas do Itaú ressaltaram que as tendências de crédito da fintech continuam saudáveis e que o cenário macroeconômico é favorável. “O Nu continuou a aumentar o índice de crédito por cliente em um ritmo rápido, como visto no primeiro trimestre”, afirma a equipe do analista Pedro Leduc.
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Larissa Quaresma, analista da Empiricus, ressalta que o Nubank caminha para se tornar um dos líderes do setor financeiro da América Latina – o segmento de telefonia móvel ainda é pequeno para o negócio da empresa. Apesar dos aspectos positivos, não enxerga o papel como uma oportunidade de investimento. “Entendemos que isso já está precificado na ação. Por isso, temos uma visão neutra única e dada exclusivamente pelo valuation (valor de mercado)”, explica Quaresma.
Crescimento acima da inflação
Para as empresas de telefonia, o mercado possui boas perspectivas para o setor. A Vivo se destaca pelo seu crescimento acima da inflação. No balanço referente ao primeiro trimestre deste ano, a companhia reportou um aumento de 6,5% na sua receita líquida em um ano. O aumento foi impulsionado pelo avanço de 9,3% na receita de serviços móveis durante o mesmo período.
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Apesar desse ritmo positivo, há um ponto de atenção, citado pelos analistas da Genial Investimentos: a empresa entregou um lucro líquido de R$ 897 milhões, abaixo das expectativas da corretora diante de despesas acima do esperado. “Apesar do lucro ter decepcionado, acreditamos que não afeta a tese, portanto, seguimos com recomendação de compra, com preço-alvo de R$58”, destacou a corretora em relatório. A Levante Investimentos também mantém recomendação de compra para as ações da Vivo, com um preço-alvo de R$ 57.
A recomendação é a mesma para as ações da TIM. Para a Genial, os números referente ao primeiro trimestre mostraram que a empresa conseguiu entregar um desempenho sólido. A receita líquida da companhia subiu 7,3% em um ano, com o impulso do segmento móvel. O lucro líquido, ao contrário da Vivo, seguiu o mesmo ritmo. Avançou 19% nos meses de janeiro a março deste ano em comparação ao mesmo período de 2023. Os números sustentam a projeção de alta de 28,2% das ações ao estimar um preço-alvo de R$ 21.
O BTG Pactual mantém recomendação de compra para TIM, mas estima um preço-alvo de R$ 20 para os próximos 12 meses.