O Banco Central (BC) aumentou a sua estimativa de taxa de juros real neutra, de 4,5% para 4,75%. A alteração foi informada nesta terça-feira (25), por meio da ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). A projeção do BC era estável desde meados do ano passado.
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“Em função da incerteza intrínseca e da própria natureza da variável, o Comitê reforçou que a taxa neutra não é uma variável que deve ser atualizada em frequência alta e que tampouco deveria ter movimentos abruptos, salvo em casos excepcionais. Nesse contexto, o Comitê elevou marginalmente a hipótese de taxa de juros real neutra em seus modelos para 4,75%”, diz a ata.
Economistas do mercado vinham debatendo a possibilidade de um ajuste da taxa neutra de juros desde o início deste ano. Mesmo com o ajuste divulgado nesta terça-feira (25), a estimativa do BC permanece abaixo das projeções da maior parte do mercado, que trabalha com um valor mais próximo de 5% para a variável. Alguns profissionais consideram que a taxa neutra do Brasil pode estar mais próxima de 6%.
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O Copom informou que, na discussão para definir a taxa Selic, avaliou cenários com um juro real neutro de 4,5% a 5%. Também reforçou que alguns fatores podem fazer a taxa neutra subir, citando o “esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública.”
Um aumento na taxa neutra de juros, segundo o comitê, teria impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade.
Selic no patamar atual
O Copom afirmou ainda que a manutenção da taxa Selic em 10,5% é compatível com a sua estratégia para fazer a inflação convergir a um nível “ao redor” da meta no horizonte relevante, que inclui o ano de 2025.
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“A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, ampliação da desancoragem das expectativas de inflação e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária”, afirma o comitê.
“A política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, diz a ata.
Ministro da Fazenda
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, classificou a ata do Copom como “muito aderente” ao comunicado. Para Haddad, o documento transmite a ideia de que a autoridade monetária promove uma “interrupção” do ciclo de cortes para que possa avaliar os cenários externo e interno e tomar decisões a partir de novos dados, o que, na avaliação do ministro, é uma indicação importante de se “frisar”.
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“Eu dei uma passada de olho agora pela manhã e penso que a ata está muito aderente ao comunicado, não tem nada de muito diferente do comunicado, o que é bom, e transmite a ideia de que está havendo interrupção para avaliar o cenário externo e interno para que o Copom fique à vontade para tomar decisões a partir de novos dados”, disse Haddad à imprensa ao ser perguntado sobre o documento.
Haddad foi questionado então sobre a mensagem do Copom de que eventuais ajustes futuros na Selic serão ditados pelo “firme compromisso de convergência da inflação à meta”, e se isso não significaria que o BC pode elevar o patamar de juros. O ministro, por sua vez, reforçou sua ênfase em torno da “interrupção” do ciclo de cortes.
O que dizem os especialistas
O tom da ata de junho do Copom em geral foi neutro, mas o documento trouxe algumas evidências um pouco mais duras, avalia o economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale. “A direção principal é que o ambiente ficou mais complexo, e que rodando o modelo com juros caindo, a inflação fica acima da meta, mas com juros parado, fica na meta. Então eles vão deixar parado”, resume o economista.
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Para o Bradesco, a principal mensagem da ata do Copom é que o colegiado está comprometido em reancorar as expectativas de inflação, afirma. Para o banco, esse sinal deve ser suficiente para levar o IPCA para próximo da meta no ano que vem. “Em nosso cenário, o firme compromisso do Copom com a meta de inflação de 3,0% vai dar resultado”, diz o Bradesco, em relatório. “Projetamos inflação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 3,1% no ano de 2025, abrindo espaço para retomar o ciclo de afrouxamento monetário no segundo semestre do ano que vem.”
Na avaliação da economista para Brasil do BNP Paribas, Laiz Carvalho, o tom da ata da reunião de junho do Copom veio parecido com o do comunicado, e sinaliza que o Banco Central deixa “a porta bem aberta” para os próximos passos. “A comunicação do BC será de manter a porta aberta. Ou seja, a depender do que aconteça com as expectativas de inflação, esse é o compromisso do BC – que deve agir em cima disso”, afirma. “As decisões serão totalmente baseadas em dados, reiterando o compromisso de trazer a inflação para a meta”, emenda.