- O comitê independente de investigações da Americanas (AMER3) confirmou e apontou as fraudes contábeis nos balanços da companhia
- O conselho de administração da varejista orientou a diretoria sobre quais serão os próximos passos das investigações
- As inconsistências contábeis foram relevadas em janeiro de 2023 e desde então seguem em investigação; ex-executivos chegaram a ser presos pela PF
A investigação independente da Americanas (AMER3) confirmou que houve fraudes contábeis nos balanços da varejista. Em comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o comitê independente informou que os fatos já foram repassados ao conselho de administração que, agora, orienta quais serão os próximos passos nesse processo.
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No fato relevante, o comitê independente informa que as fraudes contábeis na Americanas identificadas ocorreram, principalmente, por meio de lançamentos indevidos na conta de fornecedores, que ocorreram graças a contratos fictícios de verbas de propaganda cooperada (VPC). Além disso, foram identificadas operações financeiras com a antecipação de recebíveis — chamada de “risco sacado” —, junto a outras operações fraudulentas e incorretamente refletidas no balanço da varejista.
“Os responsáveis por comandar ou orquestrar as fraudes identificadas não mais integram os quadros da companhia”, frisa o comunicado. Vale lembrar que, no final de junho, ex-executivos da Americanas foram acusados de fraude e tiveram mandados de prisão expedidos pela Polícia Federal (PF), incluindo o ex-CEO Miguel Gutierrez.
Os próximos passos da investigação de fraude na Americanas
No fato relevante, a Americanas afirma que continuará colaborando integralmente com as investigações em curso. Com o resultado apresentado pelo comitê independente, os próximos passos da varejista serão os seguintes:
- O conselho de administração orientou que a atual diretoria da Americanas, junto a advogados, comunique às autoridades competentes as fraudes encontradas;
- Entre as autoridades que devem ser comunicadas estão: Ministério Público Federal (MPF), Polícia Federal (PF) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM);
- O conselho também orientou que a diretoria avalie as medidas a serem adotadas para a defesa dos interesses sociais da Americanas e o ressarcimento pelos prejuízos a ela causados.
Relembre o caso Americanas
No dia 11 de janeiro de 2023, a Americanas enviou um comunicado ao mercado reportando “inconsistências contábeis” de R$ 43 bilhões nos balanços. Oito dias depois do anúncio do rombo financeiro, em 19 de janeiro de 2023, a Americanas entrou em recuperação judicial.
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Após a divulgação do rombo – que no início era de R$ 20 bilhões e em junho de 2023 foi reconhecido como um rombo de R$ 25,3 bilhões –, Sérgio Rial deixou o cargo de presidente da varejista acompanhado do então diretor de Relações com Investidores, André Covre. Os executivos haviam tomado posse há menos de dez dias. Atualmente, Leonardo Coelho é o CEO da empresa.
No dia seguinte à descoberta, Rial declarou em evento do BTG Pactual que o impacto bilionário da companhia estava relacionado ao “risco sacado, que não era lançado como dívida”.
Segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o “risco sacado” consiste em uma modalidade de antecipação de recebíveis. Ou seja, “a companhia vendedora emite uma fatura que contempla o prazo a ser financiado pelo banco, porém não reconhece em sua contabilidade a venda pelo valor presente. E com isso apresenta um Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) maior”.
Assim, a empresa compradora consegue distorcer sua real situação financeira. O Ebitda, por sua vez, serve como “um indicador bastante útil para medir o potencial de geração de caixa da empresa”, afirmou a Rico Investimentos, em relatório.
A PwC, empresa que realizava as auditorias da Americanas, negou responsabilidade por “inconsistências contábeis” da varejista na ação civil pública proposta pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor e Trabalhador (Abradecont). No processo, a Abradecont pede a responsabilização da auditoria e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por omissão e negligência. Entretanto, no final de junho deste ano, a auditoria foi substituída pela BDO.
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Vale destacar também que a CVM abriu processos administrativos para investigar a Americanas, além de ter recebido uma denúncia contra a companhia. Bancos e corretoras colocaram as ações da varejista sob revisão e as principais agências de classificação de risco – Moody’s, Fitch e S&P Global Ratings – rebaixaram os ratings da companhia após a descoberta do rombo contábil.
Funcionários da Americanas e sindicatos protestaram em frente a uma loja da empresa no Centro do Rio de Janeiro, em fevereiro. O grupo reclamava de demissões e temiam perda de direitos trabalhistas em meio ao turbilhão judicial do caso. Em junho de 2023, a Americanas divulgou a lista de quais seriam os executivos que seriam investigados.