- A possibilidade de o Banco Central retomar o ciclo de altas na taxa básica de juros brasileira, a Selic, já em setembro poderia parecer impensável há alguns meses, mas vem ganhando cada vez mais respaldo no mercado financeiro desde a última semana
- Nesta terça-feira (20), a tese ganhou um outro respaldo de peso: alguns dos maiores gestores do País defenderam no Macro Day, evento promovido pelo BTG Pactual, a necessidade de voltar a elevar os juros
- Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX Capital; André Jakurski, sócio-fundador da JGP; e Luis Stuhlberger, sócio-fundador da Verde Asset, veem desafio de credibilidade para o BC, para além da inflação
A possibilidade de o Banco Central retomar o ciclo de altas na taxa básica de juros brasileira, a Selic, já em setembro poderia parecer impensável há alguns meses, mas esse movimento vem ganhando cada vez mais respaldo no mercado financeiro desde a última semana. Algumas gestoras e bancos de investimento revisaram nos últimos dias a previsão de Selic terminal em 2024 de 10,5% para 12% ao ano, com o início dos ajustes acontecendo já no próximo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), marcado para os dias 17 e 18 do próximo mês. Nesta terça-feira (20), a tese ganhou um outro respaldo de peso: alguns dos maiores gestores do País defenderam no Macro Day, evento promovido pelo BTG Pactual, a necessidade de voltar a elevar os juros.
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Em um painel mediado por André Esteves, chairman e sócio sênior do banco, Rogério Xavier, sócio-fundador da SPX Capital; André Jakurski, sócio-fundador da JGP; e Luis Stuhlberger, sócio-fundador da Verde Asset, deram a elevação da Selic como certa. Nos dois sentidos: de que a alta deve, sim, acontecer e de que essa é a melhor decisão a ser tomada pelo Banco Central no momento.
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Há algum tempo, as expectativas de inflação estão desancoradas em meio ao ceticismo do mercado com a capacidade de o governo de entregar as metas estabelecidas pelo arcabouço fiscal.
Alta da Selic: “BC não pode ser o cão que ladra e não morde”
“Chegamos aqui por uma descredibilidade do governo, que começou com o Orçamento para 2025, com premissas de arrecadação otimistas e de gastos subestimadas”, explicou Stuhlberger, da Verde. Esse movimento bateu primeiro no dólar, que chegou a ser negociado na casa de R$ 5,90 ao final de julho. Para o gestor, a disparada do câmbio “assustou Brasília” e obrigou o Executivo a trabalhar em duas frentes para reestabelecer a confiança de investidores, fortalecer a credibilidade do BC e se esforçar no controle do déficit fiscal.
“Não acho que subiríamos os juros somente pela inflação estar fora da meta, talvez esperássemos um pouco. Mas com a transição no BC e as falas de Gabriel Galípolo, que espontaneamente tem dito que vai subir a Selic, o BC ficou ’em corner‘”, disse o sócio-fundador da Verde. “O Banco Central não pode ser o cão que ladra e não morde”.
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Este é um ponto comum que tem aparecido nas análises do mercado e que foi bastante reforçado pelos gestores no painel. Mais do que o desafio de perseguir a meta de inflação de 3% ao ano, o BC tem pela frente uma missão para reforçar sua credibilidade em um momento de transição na instituição. O mandato do atual presidente Roberto Campos Neto se encerra no dia 31 de dezembro e, ao que tudo indica, o diretor de política monetária do BC, Gabriel Galípolo, é o favorito ao posto.
Por ser um economista de carreira heterodoxa, vertente mais favorável ao aumento de gastos, GG enfrenta desconfiança do mercado desde que foi indicado ao cargo na instituição monetária, em meados de 2023. Agora, precisa provar ao mercado que é capaz de conciliar a pressão política vinda do Planalto para manter a independência nas decisões do BC; contamos esse cenário aqui.
Rogério Xavier, da SPX Capital, ressaltou que o próprio Campos Neto teve que conquistar sua credibilidade no comando da instituição. A situação de Galípolo agora, segundo ele, é mais confortável.
“A alta de juros já foi comunicada pelo BC. Está na imprensa, Lula já sabe, a inflação ficou acima da meta e as projeções ainda estão distantes. Não fazer (subir a Selic) é loucura”, disse no evento. “Nunca mais vamos precisar discutir se o BC do Galípolo será capaz de subir ou não os juros no futuro, nem passar os próximos quatro anos pensando se esse BC será independente ou não; e isso tem um valor gigantesco.”
Como investir nesse cenário?
Ainda que a curva de juros brasileira tenha passado por uma abertura, o que costuma penalizar o desempenho da Bolsa, o Ibovespa engatou um verdadeiro rali nos últimos dias. Aos 136 mil pontos, o índice de referência da Bolsa brasileira já sobe mais de 6% em agosto, zerando o resultado negativo que vinha acumulando em 2024 e atraindo mais uma vez o apetite de investidores.
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Mas é a hora de comprar? André Jakurski, sócio-fundador da JGP, tem suas ressalvas. No evento do BTG, ele lembrou que, desde o início do Plano Real, a Bolsa só rendeu 45% do desempenho do CDI no período. E, com a perspectiva de novas altas de juros, pode ser que continue para trás. “A Bolsa subiu 14 mil pontos desde a mínima do ano. Foi bonito, mas quem pegou, pegou. Quem não pegou, não adianta sair comprando agora”, afirmou ao comentar sobre os efeitos da Selic. “Para quem não tem ajuda profissional, é melhor ficar na renda fixa.”