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Renda fixa: janela dos juros altos estaria perto de fechar?

Mercado tem a tendência de exagerar na leitura dos cenários, criando oportunidades transitórias, aponta Gabriela Joubert

Renda fixa: janela dos juros altos estaria perto de fechar?
Caso corte de gastos de Haddad decepcione, o risco é de mais juros. (Foto: Lula Marques/Agência Brasil)
  • Renda fixa pagando quase 7% de juros real é um preço de cenário de forte crise, como a do impeachment de Dilma, defende profissional
  • Estrategista reconhece, no entanto, que há o risco de o plano de corte de despesas do governo decepcionar, o que resultaria em mais juros
  • Nos EUA renda fixa ainda paga taxas interessantes em dólar, mas janela também estaria se fechando

A desconfiança do mercado com o plano de corte de gastos do governo Lula e a percepção de novos riscos inflacionários associados ao retorno de Donald Trump à presidência americana são eventos que pressionam a alta dos juros. Por isso, o investidor deve aproveitar a janela de prêmios gordos da renda fixa brasileira agora, pois a oportunidade pode estar se fechando.

Essa é a opinião de Gabriela Joubert, estrategista-chefe do Banco Inter, autora de um relatório abordando como a volatilidade de curto prazo gerada pelas eleições americanas tem um impacto pequeno na robusta estrutura da economia americana.

Segundo ela, tanto lá, quanto aqui, há uma tendência de o mercado exagerar na leitura dos cenários, o que, no caso do Brasil, cria essa oportunidade transitória de renda fixa pagando quase 7% de juros real (acima da inflação).

“Esse é um preço de calamidade, como visto na crise de 2008 ou no impeachment de Dilma Rousseff”, avalia a diretora. “Estamos falando de um PIB que surpreende positivamente, desemprego em queda e inflação controlada, ainda que alta para os padrões históricos do país”, defende. Em 12 meses o IPCA registrou uma inflação de 4,76%, 0,16 pontos acima da banda superior da meta de 4,5%.

Ruim para o emissor, bom para o investidor

Neste contexto, Joubert considera que o governo será compelido a reorganizar suas finanças. Em sua avaliação, taxas prefixadas de quase 13% em títulos de longo prazo são “desfavoráveis para a administração pública e para quem necessita emitir dívida, mas representam uma oportunidade para investidores no curto prazo.” O título do Tesouro Prefixado com vencimento em 2031 pagava nesta terça (12) 12,95% ao ano.

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A estrategista considera que o pacote de cortes de gastos do governo pode ser um catalisador para correção dos prêmios da renda fixa, ainda mais no contexto  de acomodação do período pós-eleição dos EUA. “Temos taxas de oportunidade neste momento, considerando as variáveis macroeconômicas e os resultados satisfatórios das empresas. Não é um momento que justifique incertezas nesses patamares”, defende.

É importante lembrar que montar uma alocação em títulos de renda fixa prefixados e atrelados à inflação pensando no longo prazo não livra o investimento da volatilidade de mercado.

O investidor que apostou no IPCA + no início do ano, por exemplo, vê seu título hoje com um valor de face menor, pois os juros estão maiores agora. Para quem leva o investimento até o vencimento, no entanto, o retorno será o contratado. “Quem comprou IPCA+ em 2004 e resgatou agora obteve mais de 1.300% de retorno, ou seja, 14 vezes o valor investido.”

A profissional reconhece que há um risco de curto prazo, no caso de o plano de corte de despesas do governo decepcionar, o que resultaria em mais prêmio de risco. “Apesar de possíveis pressões imediatas, elas tendem a se estabilizar e convergir. Não veremos um estresse contínuo”. Na sua visão o ano de 2025 representa uma oportunidade para o governo implementar medidas “menos populistas”, já que não se trata de um ano eleitoral.

Aportar na segurança do dólar

Assim como na renda fixa brasileira, a lógica de diversificação se aplica à renda fixa nos Estados Unidos. Com o dólar na faixa dos R$ 5,80, investidores têm oportunidades de alocar recursos em moeda forte, aproveitando retornos da variação cambial, com  taxas de juros ainda atrativas. Este mês, o Federal Reserve (Fed) reduziu a taxa de juros dos Estados Unidos em 0,25 ponto percentual, estabelecendo a faixa de 4,50% a 4,75% ao ano. O corte anterior, em setembro, havia sido de 0,50 ponto, quando teve início o atual ciclo de corte.

“O fato de Trump ter vencido as eleições não impedirá o Fed de cortar juros, apenas não será na magnitude esperada. A janela está se fechando”, defende, lembrando que é importante manter exposição no dólar. Desde 1994, o real perdeu 80% de seu valor frente à moeda americana.

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