O dólar renovou na sessão desta quinta-feira (28) o maior valor de fechamento da história. A moeda americana encerrou o pregão em alta de 1,29% cotada a R$ 5,9895, depois de chegar a atingir máxima a R$ 6,0036. A forte valorização ocorreu diante do descontentamento do mercado com a proposta de pacote fiscal, anunciada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em rede nacional na noite de quarta-feira (27).
O ministro destacou que as propostas devem gerar uma economia de R$ 70 bilhões nos próximos dois anos. Entre as medidas anunciadas, estão o aperfeiçoamento dos mecanismos de controle para as políticas públicas e a busca por maior igualdade nas aposentadorias de militares, incluindo a limitação de transferência de pensões.
Conforme explicamos nesta reportagem, diferentes pontos do pacote preocuparam os investidores. Uma das questões se refere ao fato de as propostas parecerem “pouco direcionadas” e apresentarem um rendimento incerto, na visão do diretor de pesquisa macroeconômica para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos. Ele ainda acredita que o plano se mostra “muito atrasado” para as atuais necessidades da economia brasileira.
Outro fator de tensão foi a proposta de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem recebe até R$ 5 mil por mês. A medida foi anunciada junto com o detalhamento do pacote fiscal. Em seu discurso, Haddad afirmou que o benefício não trará impacto fiscal, porque será compensado por quem recebe mais de R$ 50 mil mensais, que “pagará um pouco mais”. As contas do governo, porém, ainda geram dúvidas no mercado, que estima uma despesa de R$ 40 a 50 bilhões com a mudança na faixa de isenção do IR.
“A própria demora no anúncio da contenção de despesas já vinha gerando volatilidade e aumentando a busca por posições defensivas, contra o real e a favor do dólar. Incluir a pauta do IR no mesmo anúncio trouxe a sensação de que o governo teme perda de popularidade”, diz Paula Zogbi, gerente de research e head de conteúdo da Nomad.
De acordo com o governo, as medidas serão enviadas ao Congresso em dois blocos – por meio de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) e de projeto de lei (a quantidade de propostas legislativas ainda não foi confirmada). Na visão de Zogbi, uma possível desidratação durante a tramitação das medidas também teria consequências negativas para o câmbio e para os mercados, podendo levar a moeda americana para patamares ainda acima do atual nível próximo a R$ 6.
Em meio à forte valorização da divisa, a Quantum Finance realizou, a pedido do E-Investidor, um levantamento com os dez maiores valores nominais de fechamento do dólar comercial na história. Chama a atenção que quatro deles foram registrados neste ano, justamente no mês de novembro. Confira abaixo:
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Os outros seis maiores valores citados foram observados em 2020, quando o mundo enfrentava a pandemia de coronavírus. O então recorde de fechamento da moeda – superado no pregão de quarta-feira (27), antes do anúncio do pacote fiscal, e no desta quinta-feira (28) – havia sido alcançado em 13 de maio de 2020, no auge da crise sanitária. Naquela data, o Banco Central chegou a tentar controlar o movimento de alta do dólar, com a venda de contratos de swap cambial (venda de dólares no mercado futuro) de US$ 500 milhões.