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- Nesta terça-feira (18), a cotação do dólar atingiu um novo recorde. A moeda fechou o dia em R$ 6,26, o maior valor nominal da história, após acumular uma valorização de 2,78% na sessão
- Os juros futuros também seguem no pico, em uma situação que fica transparente no avanço das taxas oferecidas pelos títulos públicos do Tesouro Direto
- Desde o fim de novembro, quando o ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT) apresentou o pacote de corte de gastos junto com a isenção de Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil, o mercado entrou em uma espiral de pessimismo
Nesta terça-feira (18), a cotação do dólar atingiu um novo recorde. A moeda fechou o dia em R$ 6,26, o maior valor nominal da história, após acumular uma valorização de 2,78% na sessão. Os juros futuros também seguem no pico, em uma situação que fica transparente no avanço das taxas oferecidas pelos títulos públicos do Tesouro Direto. No fim desta tarde, o Tesouro Prefixado 2027, de vencimento mais curto, pagava 15,68% de juro ao ano – um patamar raro de rendimento. O Tesouro IPCA+ 2029 também estava nas máximas, com um juro real de 7,86% ao ano. Essa volatilidade fez com que a plataforma do Tesouro Nacional paralisasse as negociações dos papéis por pelo menos três vezes.
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Hoje, a principal fonte de estresse foi a notícia de que o Congresso Nacional aprovou a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), mas com proteção às emendas parlamentares. Limitar essas emendas era uma das propostas do Governo para reduzir os gastos públicos e, tal rejeição, alimentou os temores em relação à trajetória da dívida. Desde o fim de novembro, quando o ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT) apresentou o pacote de corte de gastos junto com a isenção de Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil, o mercado entrou em uma espiral de pessimismo.
A leitura é de que a isenção de IR mina a efetividade das medidas fiscais anunciadas no pacote. A divulgação das duas propostas juntas, uma voltada a corte de gastos e outra para expansão fiscal, também passou uma mensagem de falta de compromisso do Governo com as contas públicas. Essas incertezas fiscais tiram visibilidade sobre o futuro, o que afasta os investidores estrangeiros e impulsionam os juros futuros e o dólar, que já está em tendência de alta globalmente, ainda mais para cima. Executivos como Nicholas McCarthy, diretor da área de Estratégias de Investimentos do Itaú, enxergam que a saída para que o “mundo” volte a se interessar pelo Brasil passa inevitavelmente pelo comprometimento do Executivo com as questões fiscais.
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“O calcanhar de Aquiles é nossa dívida. Precisamos de um choque de confiança para os investidores internacionais voltarem a investir”, diz McCarthy, em coletiva de imprensa realizada na manhã desta quarta, em São Paulo (SP). Essa também é a visão de André Matos, CEO da MA7 Negócios. “O silêncio do governo em relação a medidas fiscais claras aumenta a incerteza entre os investidores, mesmo com a taxa de juros em 12,25% ao ano, uma das mais altas do mundo.”
Para tentar estabilizar a moeda, o Banco Central tem realizado leilões de câmbio. Mesmo assim, as ofertas não estão sendo suficientes para conter a alta, o que demonstra a percepção de que os investidores enxergam o País imerso em uma grande fragilidade fiscal. “Esse ambiente de incerteza impacta diretamente o custo de importações, insumos e produtos dolarizados, pressionando ainda mais a inflação, e exige maior atenção dos investidores na escolha de ativos de proteção, como renda fixa atrelada à inflação e exportadoras, para se posicionar frente a um cenário de volatilidade prolongada”, diz Carlos Braga Monteiro, CEO do Grupo Studio.
Cenário global é de dólar forte
O cenário doméstico já impulsiona o dólar, mas a conjuntura internacional também tem peso nesse movimento. Lá fora, a tendência já é de que a moeda norte-americana se fortaleça devido a um conjunto de fatores: a economia norte-americana ainda está pujante e com juros atrativos, o que atrai investidores globais para a renda fixa dos EUA e fortalece a divisa perante às demais moedas. Essa migração de capital é acelerada pela expectativa de que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) siga cortando juros nos próximos meses – nesta terça, a autoridade monetária baixou as taxas em 0,25 ponto percentual, para o intervalo entre 4,25% a 4,50% ao ano, que ainda é atrativo. Fora isso, como mostramos nesta matéria, as preocupações com o novo mandato de Donald Trump também geram uma corrida para proteção em moeda forte.
Portanto, mercado externo e doméstico formam uma “tempestade perfeita” para a alta do dólar. “Apesar das taxas de juros em patamares historicamente elevados, a incerteza continua dominando o cenário doméstico. Com investidores buscando ativos mais seguros, a pressão sobre o câmbio se intensifica, e o Ibovespa recua para 122 mil pontos, em um movimento que reforça a volatilidade do mercado brasileiro”, aponta Felipe Vasconcellos, Sócio da Equus Capital.