Desde que Donald Trump foi empossado novamente como presidente dos Estados Unidos, o dólar registrou quedas consecutivas e chegou ao seu menor nível desde novembro de 2024. O enfraquecimento da moeda foi impulsionado por dados econômicos, discursos de Trump e expectativas de um possível acordo comercial entre os Estados Unidos e a China, o que trouxe alívio para os mercados globais.
Nesse contexto, Caio Fasanella, diretor e head de investimentos da Nomad, explica que a desvalorização do real frente ao dólar está ligada a questões estruturais da economia brasileira, como os entraves fiscais e a inflação mais elevada em comparação com países desenvolvidos. “A diferença inflacionária entre Brasil e EUA gera uma pressão natural sobre o real. Além disso, a frustração com medidas recentes do governo, como a isenção do imposto de renda, contribuiu para a piora da percepção de risco”, afirma.
Para quem planeja viagens ao exterior ou deseja se proteger das oscilações da moeda, Fasanella recomenda adotar uma estratégia de dollar cost averaging, que consiste em comprar moeda estrangeira aos poucos.
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O diretor da Nomad também reforça a importância da diversificação de investimentos, incluindo exposição a moedas fortes como o dólar. “Ter parte do patrimônio em ativos internacionais é uma forma de reduzir riscos e aproveitar oportunidades em mercados mais estáveis. No atual contexto, essa estratégia se torna ainda mais relevante para proteger o poder de compra e garantir segurança financeira”, diz.
E-Investidor – Por que o real tem se desvalorizado tanto em relação ao dólar nos últimos anos?
Caio Fasanella – Essa desvalorização tem a ver com questões estruturais da nossa economia, que vão além de políticas momentâneas. Enfrentamos desafios fiscais sérios, principalmente quando comparado com economias desenvolvidas. Isso acaba impactando diretamente na inflação, que no Brasil é mais alta do que nos EUA. Essa diferença inflacionária gera, naturalmente, uma desvalorização da nossa moeda no médio e longo prazo. Além disso, nos últimos meses, a percepção de risco aumentou muito. O mercado esperava uma guinada em direção à austeridade fiscal, mas isso não aconteceu. A frustração com os anúncios do governo piorou a situação.
Quais fatores podem aliviar essa pressão sobre o câmbio?
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É preciso ficar atento aos sinais do governo brasileiro sobre uma possível virada em direção à austeridade fiscal. Qualquer anúncio nesse sentido, especialmente com medidas concretas, seria muito positivo, já que o mercado está estressado. Se houver frustração e nada for feito, a pressão sobre o dólar deve aumentar. No geral, como há pouca expectativa de grandes medidas, o real deve continuar pressionado, com risco de desvalorização nas próximas semanas.
Em paralelo, a posse e os discursos de Trump trouxeram uma certa pressão sobre o dólar globalmente. Se ele implementar propostas agressivas, como a tributação de importações e o estímulo às empresas locais, a moeda norte-americana tende a se fortalecer, pressionando ainda mais o real. O mercado está em um momento de “esperar para ver”, mas é crucial monitorar se essas medidas serão realmente colocadas em prática e com que intensidade, pois isso definirá o rumo do dólar e, consequentemente, do real.
Qual é a perspectiva para o valor do dólar nos próximos meses?
Internamente, a discussão é que a probabilidade de ele ficar sustentavelmente acima de R$ 6 é maior do que abaixo disso. Para quem está pensando em viajar ou fazer algum investimento, é bom já se preparar para um cenário em que o dólar continue pressionado. A tendência é que ele fique mais volátil, principalmente com os desafios fiscais que a gente tem aqui e os impactos da mudança de governo nos EUA.
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Qual é a melhor estratégia para quem está planejando uma viagem ao exterior e quer se proteger da variação do dólar?
Recomendamos que as pessoas se programem com antecedência e adotem uma estratégia chamada dollar cost averaging, que é comprar dólares aos poucos, criando uma poupança em moeda estrangeira. Dessa forma, você faz um preço médio e não fica refém das oscilações do câmbio na hora da viagem. O efeito prático é que, quando você estiver viajando, já terá os dólares na conta, sem preocupação com a cotação atual. Além disso, usar dólares já guardados ajuda a economizar no cartão de crédito brasileiro, evitando conversões na hora do gasto. Essa estratégia é muito mais saudável do que esperar para ver se o dólar vai cair, o que raramente acontece.
E para quem quer investir em dólares, qual é o melhor caminho?
A dica é enviar o dinheiro para uma conta de investimentos no exterior, pois o IOF [Imposto sobre Operações Financeiras] cai para 0,38% (em vez de 1,1% para envios comuns). Depois, invista em títulos seguros de curto prazo, como os da zona do dólar, que hoje rendem em torno de 4,20% a 4,50% ao ano. Se você está se programando com seis a oito meses de antecedência, dá para ganhar um rendimento interessante enquanto acumula dólares. Quando for viajar, basta resgatar o investimento e usar o dinheiro. Essa estratégia é muito mais econômica do que deixar para comprar dólar em cima da hora ou usar o cartão de crédito e se preocupar com a cotação do dólar turismo na fatura.
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O que é preciso considerar ao escolher uma instituição para enviar ou investir dinheiro no exterior?
A primeira atenção que devemos ter é se ela é regulamentada e oferece proteção ao dinheiro. Instituições sérias, como bancos ou corretoras associadas ao FDIC [Federal Deposit Insurance Corporation], garantem segurança em caso de problemas. Por exemplo, a Nomad custodia recursos em bancos e corretoras regulamentadas, com proteção de até US$ 250 mil ou US$ 500 mil, dependendo da natureza do investimento. Além disso, sempre leia as análises de segurança e proteção contra fraudes fornecidas pela instituição antes de enviar qualquer valor.