As bolsas de Nova York fecharam em alta nesta terça-feira (4), em mais uma sessão na qual os desdobramentos das disputas comerciais desencadeadas pelo presidente Donald Trump foram destaque. Após o republicano acordar uma pausa nas tarifas ante o Canadá, a China anunciou retaliações aos produtos americanos, incluindo taxas de até 15%. Neste contexto, houve expectativa por um contato entre Trump e o líder chinês, Xi Jinping, para tratar o tema, no entanto, a ligação não ocorreu nesta terça-feira. Os impactos de uma escalada nas disputas comerciais para a inflação e a postura do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) seguem observados co atenção. Hoje, investidores receberam ainda uma série de balanços, alguns levando a movimentações expressivas nas ações. Os títulos de renda fixa de dívida pública do governo norte-americano (Treasuries), o dólar e o bitcoin, por outro lado, recuaram hoje.
O índice Dow Jones subiu 0,30%, a 44.556,04 pontos, o S&P 500 avançou 0,72%, a 6.037,88 pontos, enquanto o Nasdaq teve alta de 1,35%, a 19.654,02 pontos.
Dentre as retaliações chinesas, a Administração Estatal de Regulamentação do Mercado da China iniciou uma investigação sobre o Google por suspeita de violação da lei antitruste. A Fitch alertou que o impacto inflacionário das tarifas, caso aplicadas após o período de pausa de um mês anunciado ontem, pode retardar ainda mais os cortes nas taxas de juros pelo Fed.
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
Hoje, a presidente da distrital de São Francisco, Mary Daly, chamou atenção para os progressos no combate à inflação, mas disse que a autoridade monetária não precisa ser “precipitada” no ciclo de relaxamento monetário. Mais cedo, dado de abertura de vagas nos EUA mais fraco renovou esperança por cortes de juros à frente. As ações de farmacêuticas enfrentaram forte pressão hoje, após a Merck projetar vendas menores este ano por conta de problemas com as exportações à China. A ação da empresa despencou 9,07%, enquanto Pfizer perdeu 1,26%, apesar de publicar lucro acima da expectativa. Já os papéis da Pepsico caíram 4,51%, após a empresa decepcionar em receita no balanço divulgado nesta manhã.
A ação da Estée Lauder desabou 16,07%, enquanto investidores acompanhavam a notícia de que a empresa pode cortar até sete mil empregos até o ano fiscal de 2026. O número representa mais de 11% da força de trabalho e o anúncio acontece depois que a fabricante global de cosméticos relatou uma queda de 6% nas vendas. A Palantir Technologies disparou 23,99%, depois que superou as expectativas do mercado, uma vez que a demanda por seus produtos de inteligência artificial continuou a se expandir.
Juros dos EUA recuam
Os juros dos Treasuries operaram em queda, depois que dados mais fracos do que o esperado sobre a criação de vagas nos EUA, os Jolts, reforçaram a pressão sobre os rendimentos dos títulos do Tesouro americano. O cenário de incerteza em relação à relação entre o governo americano e China também contribuiu para o movimento de baixa. No fim da tarde (horário de Brasília), o presidente dos EUA, Donald Trump, disse que não tem pressa para conversar com o líder da China, Xi Jinping.
No fim da tarde, perto do horário de fechamento da bolsa de Nova York, o retorno da T-note de 2 anos cedia a 4,215%. O rendimento de 10 anos tinha queda a 4,512%. O juro do T-bond de 30 anos recuava a 4,746%.
Mais cedo, a presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, alertou que alterar a política monetária de maneira “precipitada” pode levar a erros que com impacto na economia dos EUA. A dirigente ressaltou a importância de avaliar os efeitos das novas políticas econômicas de Trump, incluindo as tarifas impostas a outros países, para compreender “a magnitude real” de seu impacto na atividade econômica americana antes de tomar novas decisões.
Publicidade
Em paralelo, a Capital Economics destaca que, com base na reação silenciosa do mercado de títulos até o momento, os investidores ainda apostam em mais um ou dois cortes nas taxas do Fed, somando cerca de 40 pontos-base. “Se essas tarifas realmente se mantiverem, isso nos parece muito improvável”, observa. Para a consultoria, se o cenário atual persistir, a inflação nos EUA deverá acelerar mais rapidamente do que o esperado, em consequência das tarifas impostas no fim de semana e de outras medidas semelhantes, como as ameaças de Trump à União Europeia.
Mercado segue no aguardo de uma potencial conversa entre Trump e Xi à luz da possibilidade de uma guerra tarifária entre os dois países, gerando expectativas de que as tarifas anunciadas por Trump possam ser suspensas. O Société Générale explica que as barreiras comerciais e as retaliações, ao prejudicar o crescimento e a confiança entre os parceiros comerciais, têm efeitos negativos sobre os rendimentos dos Treasuries – como os vistos hoje.
Moedas globais: dólar recua
O dólar operou em queda hoje ante a maioria das moedas, com grande atenção aos desdobramentos dos conflitos comerciais desencadeados pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O acordo com o Canadá para a suspensão das tarifas, assim como foi feito com o México aliviou parte dos temores com uma escalada para uma guerra comercial. Por sua vez, depois que foi negado que o republicano conversaria com o líder Xi Jinping sobre o tema hoje, algo que havia sido confirmado pela Casa Branca, certos ativos foram mais pressionados, com destaque para o peso mexicano.
O índice DXY, que mede a variação do dólar ante seis principais moedas, fechou em queda de 0,89%, a 107,96 pontos. Ao final do dia em Nova York, o dólar era cotado em queda a 154,31 ienes. A libra esterlina avançava a US$ 1,2485. O euro subia a US$ 1,0385. A moeda americana tinha alta a 20,5155 pesos mexicanos e caia a 1,4318 dólar canadenses.
Para o Société Générale, a tendência de alta da volatilidade deverá continuar pelo menos durante a primavera do Hemisfério Norte, uma vez que as ameaças tarifárias estão agora evoluindo no sentido de preocupações com a escalada da guerra cambial. No início, Trump sugeriu que as tarifas sobre a China eram improváveis, depois anunciou tarifas imediatas sobre os três principais parceiros comerciais dos EUA neste fim de semana e, mais recentemente, adiou as tarifas sobre o Canadá e o México por um mês. “Estes anúncios contraditórios podem ser táticas de negociação comercial, mas estão aumentando significativamente a incerteza global e a volatilidade do dólar”, avalia.
Publicidade
“As métricas de risco de cauda do euro na comparação com o dólar são atualmente as mais elevadas dos últimos dois anos, mas ainda estão longe dos máximos de 2022, deixando espaço para mais tensões de volatilidade num cenário em que o protecionismo dos EUA envolveria ainda mais ganhos do dólar”, avalia o banco.
Sobre a libra, até o momento a moeda vem sendo menos afetada pelas perspectivas de tarifas, mas a semana conta com decisão do Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês), quando o ING espera um corte de juros de 25 pontos-base, que pode pressionar o ativo. Já o presidente da Argentina, Javier Milei, confirmou que os controles cambiais no país, conhecidos localmente como “cepo”, serão eliminados a partir do próximo ano. Ele também indicou que, caso o país receba um desembolso do Fundo Monetário Internacional (FMI) adequado às suas necessidades financeiras, a “saída do cepo cambiário” poderá ocorrer ainda em 2025.
Bitcoin recua
O bitcoin operava em queda, em sessão com grande volatilidade, enfrentando dificuldades para definir uma tendência clara. Investidores ainda avaliam os impactos das políticas comerciais de Donald Trump sobre o mercado de criptomoedas e aguardam novos posicionamentos dos Estados Unidos sobre os ativos digitais, que podem ser apresentados em participação de David Sacks, líder de IA e cripto do governo americano, em evento no Senado.
O bitcoin era negociado a US$ 100.595,23, em queda de 0,30% nas 24 horas até 16h30 (de Brasília), segundo a Binance. Já o ethereum avançava 3,69%, a US$ 2.847,12.
Nomeado “czar das criptomoedas dos EUA, Sacks iniciou há pouco coletiva com o objetivo de reforçar a liderança dos Estados Unidos no setor global de criptomoedas. Espera-se que o evento descreva as principais prioridades de Sacks para a indústria de ativos digitais, incluindo a meta do governo Trump de estabelecer os EUA como um líder global no espaço.
Publicidade
Para Ryan Lee, da Bitget Research, as novas políticas de Trump podem representar uma “faca de dois gumes” para os ativos digitais. Ele destacou que a criação de um fundo soberano nos EUA poderia impulsionar os preços das criptos no longo prazo, mas alertou que as tensões comerciais “podem desencadear grandes vendas no mercado, e o bitcoin não está totalmente imune a essas correções”.
Segundo a analista técnica da Ripio Ana de Mattos, a criação de um “estoque” de bitcoin pelo governo dos EUA gerou incertezas no mercado cripto. Embora houvesse expectativa pela formação de uma reserva de bitcoin, a decisão anunciada pelo governo envolveu apenas a manutenção de ativos já apreendidos, o que, para a analista, “é mais estratégico do que parece”. Mattos ressalta que isso não implica necessariamente novos aportes, levantando dúvidas sobre os próximos passos da política americana para as criptomoedas.
Para fevereiro, a especialista destaca que o mercado seguirá atento a “novos avanços regulatórios e institucionais”, além da reação às políticas monetárias dos EUA, em um cenário de juros ainda elevados. Com a volatilidade permanecendo como fator central, ela alerta que “cautela e estratégia serão essenciais para negociar cripto”.