

O Tesouro Nacional anunciou um aumento na oferta de títulos públicos atrelados à taxa básica de juros – as LFTs, conhecidas como Tesouro Selic – em 2025, diante de um cenário de incerteza fiscal. O movimento acontece em um momento de abertura da curva de juros e menor apetite do mercado por títulos prefixados e atrelados à inflação, que estão exigindo prêmios mais altos. Mas o que isso significa para o investidor?
Primeiro é importante ter em mente que o Tesouro Selic serve para momentos de juros elevados ou em alta, pois é um título pós-fixado que permite capturar esses movimentos. Atualmente com a Selic em 13,25% ao ano, o mercado precifica que os juros básicos fechem em 15% ao final de dezembro próximo. “Se o investidor ainda não tem uma boa posição em pós-fixados, pode ser interessante reforçá-la”, observa Guilherme Almeida, head de Renda Fixa da Suno.
O especialista pondera que a rentabilidade, no entanto, não é o único critério a ser observado na renda fixa. O investidor precisa balancear o retorno com o risco e a liquidez, análise que pode ser traduzida pelo objetivo da aplicação – ou seja, o que ele quer? “Para aposentadoria, títulos longos como o Tesouro Renda Mais fazem sentido. Já para metas de médio prazo, como compra de um imóvel, o Tesouro IPCA+ pode ser uma alternativa interessante”, defende.
Governo amplia oferta de Tesouro Selic: o que isso significa?
No início do mês, o Tesouro Nacional apresentou o Plano Anual de Financiamento (PAF), que define os limites mínimo e máximo para a participação de cada tipo de título na dívida pública — prefixado, indexado à inflação ou à Selic. Em 2018, o PAF estipulava que os títulos atrelados à Selic representassem entre 31% e 35% da dívida. Com a revisão, essa faixa foi ampliada para 33% a 37%. No entanto, a participação das LFTs na dívida pública pode chegar a 52% em 2025.
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A ampliação da oferta de Tesouro Selic pode ser interpretada como um sinal de maior cautela do mercado e do próprio governo, observa Angelo Belitardo Neto, da Hike Capital. Em momentos de incerteza fiscal e dúvidas sobre o ritmo da queda de juros, investidores tendem a preferir ativos mais seguros e menos voláteis, como a LFT.
“O fato de o Tesouro aumentar a oferta desse título pode ser uma estratégia para garantir que a dívida pública continue sendo bem aceita pelo mercado financeiro sem precisar elevar exageradamente o prêmio oferecido nos papéis prefixados e atrelados à inflação“, comenta o especialista da Hike Capital.
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Rafael Winalda, especialista de Renda Fixa no Inter, diz que o cenário para 2025 ainda é o de alta de juros, “pelo menos até o primeiro semestre”. “Por isso, e entre outros fatores como a oferta e a demanda dos títulos públicos, o governo tem mudado o mix da composição da dívida.”
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Para o investidor, afirma, a orientação vai na linha de seguir o seu perfil de risco e a estratégia da carteira. “Para os mais conservadores e aqueles que buscam maior retorno no curto prazo, os títulos pós-fixados se destacam como uma escolha atrativa, já que a Selic deve continuar em patamares superiores às demais opções”.
Alternativas ao Tesouro Selic: vale diversificar?
Winalda aponta que os investidores de longo prazo têm no Tesouro IPCA+ uma excelente alternativa. “Embora tenda a continuar não performando bem com o cenário ainda de elevação de juros, um IPCA+ acima de 7% é praticamente imbatível no longo prazo”, diz, lembrando que essa rentabilidade pode ser pensada para contribuir na aposentadoria do investidor ou, num curto prazo, numa eventual marcação a mercado, “caso os juros voltem a cair.”
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Marcação a mercado: veja como aproveitar oscilações da renda fixa
Marcação a mercado é a atualização diária do valor de um investimento em renda fixa, refletindo seu preço de venda atual. Quem trava um rendimento de 7%, por exemplo, verá seu título valorizar se os juros caírem, pois continuará recebendo uma taxa maior do que a nova oferecida pelo mercado.
Títulos IPCA + com taxas próximas a 7,5% são historicamente raras, comparáveis apenas a períodos de intensa incerteza, como o impeachment e crises anteriores, lembra o especialista da Suno. “Esses títulos protegem o poder de compra do investidor”, lembra. Mas como carregam um componente prefixado, o investidor deve considerar essa aposta apenas com um dinheiro que não lhe fará falta. “É importante considerar o prazo e, no pior cenário, estar preparado para manter os títulos até o vencimento”. Leia mais sobre Tesouro Selic e outros títulos de renda fixa aqui.