

O mercado conheceu nesta terça-feira (25) a prévia da inflação de fevereiro. Apesar da surpresa positiva em janeiro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) mostrou uma aceleração importante, pressionado pela alta na conta de luz e no reajuste das mensalidades escolares. O IPCA-15 de fevereiro ficou em 1,23%, uma alta de 1,12 ponto percentual (p.p.) acima da taxa registrada em janeiro (0,11%).
O resultado veio abaixo das projeções do mercado, que esperava por uma alta de 1,37% no IPCA-15. Ainda assim, é a maior alta para o mês de fevereiro desde 2016.
A aceleração da inflação vai em linha com um cenário de maior cautela em relação à alta dos preços adotada por agentes econômicos mesmo após o IPCA de janeiro ser o menor para o mês de toda a série histórica do Plano Real. Segundo especialistas, no mês passado, o indicador foi beneficiado por um desconto de 14,21% nas tarifas de energia elétrica, por causa do bônus de Itaipu. “Sem esse desconto, o IPCA de janeiro teria sido de 0,77% e não de 0,16%”, diz Julio Ortiz Neto CEO e co-fundador da CX3 Investimentos.
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Além do fim do desconto na energia elétrica, alguns itens que compõem o IPCA não tiveram reajuste em janeiro. Para fevereiro, essas correções ajudaram a elevar o índice do mês. Veja aqui quais foram os itens que mais subiram de preço.
O Focus desta segunda-feira (24) trouxe pela 19ª semana seguida uma alta na projeção de inflação para 2025, agora em 5,65%. A meta a ser perseguida pelo Banco Central é de 3%.
Para Pedro Ros, CEO da Referência Capital, a revisão para cima das projeções do IPCA sinaliza que a dinâmica inflacionária, especialmente em serviços e alimentos, continua resistente, mesmo diante de uma Selic já elevada. No cenário global, as incertezas sobre os juros nos EUA e a possibilidade de revisões na política fiscal brasileira adicionam volatilidade ao mercado. “O desafio agora é equilibrar a necessidade de desinflação sem comprometer o crescimento, especialmente diante de um cenário em que os juros reais já estão elevados, limitando o espaço para novas altas sem efeitos colaterais severos na atividade econômica”, afirma.
Como a inflação em alta impacta seus investimentos
A alta da inflação tem um caminho claro: juros mais altos. O BC já sinalizou que vai subir a taxa Selic em mais um ponto percentual, para 14,25% ao ano, na reunião de março, mas há gestores no mercado vendo a taxa básica de juros acima de 15% ao ano. Um cenário que pesa no bolso, mas abre espaço para ganhos maiores na renda fixa.
“Os gestores estão certos. O atual ciclo de alta do juro deve continuar por um bom tempo por conta do descontrole fiscal, beneficiando investimentos atrelados ao CDI”, pontua Julio Ortiz, da CX3 Investimentos.
Ele explica que o momento é para ativos atrelados ao CDI, que vão acompanhar a taxa de juros e sofrer menos oscilações de mercado. Mas, para investidores de longo prazo, ativos IPCA+ estão pagando rentabilidade historicamente atraente, o que pode ser uma boa opção para quem levar até o vencimento. “Historicamente, é um momento muito atrativo para entrar em papéis IPCA+, inclusive os do próprio governo. São sempre os mais indicados, pois protegem o poder de compra do investidor”, destaca Lucas Ghilardi, da The Hill Capital.
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O risco nesse caso é a marcação a mercado. Se os juros continuarem a subir, novos títulos podem ser emitidos com prêmios maiores. Nesse caso, o ativo passa por uma desvalorização e o investidor pode ter um prejuízo se precisar vendê-lo no mercado secundário.
Essa também é a premissa que faz os especialistas verem os títulos prefixados com maior cautela. “A inflação elevada afeta os ativos de investimento de várias formas, dependendo da natureza de cada ativo, mas pode-se se dizer que o que mais sofre é a renda fixa prefixada, pois a taxa comprada perde valor real”, explica Ghilardi.
Na renda variável, a alta de juros causada pelo ambiente de inflação elevada costuma ter um impacto negativo ainda mais expressivo. Encarece a dívida das empresas e aumenta o desconto de muitos ativos, especialmente aqueles dependentes de maior crescimento.
“Na Bolsa, empresas exportadoras e setores que conseguem repassar custos tendem a se sair melhor, enquanto negócios mais dependentes do consumo das famílias podem enfrentar dificuldades”, reforça Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike. “Diante desse cenário, a diversificação é essencial para reduzir riscos em períodos de inflação alta”, recomenda.
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