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Fevereiro trouxe movimentos intensos para algumas ações do Ibovespa. Entre os destaques positivos do mês estão Carrefour (CRFB3), alta de 17,12% Cogna Educação (COGN3), avanço de 7,80%, Usiminas (USIM5), ganhos de 3,63%, Grupo CCR (CCRO3), chegando a +4,19%, e TIM (TIMS3), que subiu 3,99%. Já a Eletrobras (ELET3;ELET6) ganhou 5,70% e 5,37%. A Embraer (EMBR3), que registrou lucro líquido ajustado de R$ 1,093 bilhão no quarto trimestre de 2024, teve alta de 16,92% em fevereiro, segunda maior do Ibovespa. A Ambev (ABEV3), que lucrou R$ 5 bi no 4º trimestre, alta anual de 11%, viu a ação da empresa acelerar 9,74% em fevereiro, terceiro maior ganho do índice da B3.
Já entre as maiores perdas do Ibovespa aparecem Azzas 2154 (AZZA3), recuo de 23,77%, maior queda, Lojas Renner (LREN3), -17%, Automob (AMOB3), -19,35%, Azul Linhas Aéreas (AZUL4), queda de 15,87%, Vivara (VIVA3), -20,29%, e Brava Energia (BRAV3), baixa de 19,71%. Outras ações que derraparam forte em fevereiro foram as da Vamos (VAMO3), recuo de 20,66%, segunda maior queda, a Braskem (BRKM5), que anotou -20,56% e fechou o top 3 das principais baixas, e a MRV (MRVE3), que derreteu 19,33%.
O índice da B3 terminou a sexta (28) com baixa de 1,60%, aos 122.799,09 pontos, com queda mensal de 2,64% – mas, no ano, a Bolsa acumula alta de 2,09%. A questão central para os investidores é: vale a pena apostar em alguma dessas ações agora?
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Segundo os especialistas, as altas do mês no Ibovespa não seguiram um padrão específico. Os analistas Ricardo Faria Franca, da Ágora Investimentos, e Fábio Chiaparini, da Nova Futura Investimentos, explicam que Carrefour, por exemplo, vinha de uma mínima histórica e foi impulsionada pela proposta do Carrefour francês e holandês para tornar a empresa brasileira uma subsidiária integral.
A transação, que envolve a conversão de ações do Atacadão e uma possível migração da empresa para a categoria B da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), levou as ações da supermercadista a se aproximarem do valor proposto de R$ 7,70 por ação.
A TIM apresentou seu balanço do quarto trimestre no início de fevereiro, trazendo números dentro das expectativas do mercado. Além disso, a empresa anunciou um novo programa de recompra de ações de até 67,2 milhões de papéis e convocou uma assembleia geral para deliberar sobre o grupamento e desdobramento de ações. As medidas buscam aumentar a liquidez e gerar valor aos acionistas, o que inicialmente animou o mercado, mas os papéis já devolveram parte dos ganhos.
Cogna, por sua vez, se destacou com perspectivas positivas para seu resultado do quarto trimestre, impulsionado pelo crescimento dos cursos presenciais da Kroton e ganhos de eficiência operacional. A expectativa de margens mais elevadas e fluxo de caixa positivo reforçou o momento positivo da ação, que também foi beneficiada pelo programa de recompra recentemente anunciado. Usiminas avançou mais por um movimento de retração dentro de tendências de queda do que por uma virada consistente. E o Grupo CCR, conforme os analistas, segue sua trajetória lateral, oscilando entre R$ 10 e R$ 14 há mais de uma década.
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“Não acredito que sejam altas sustentáveis, pois, das empresas que subiram desde o início do ano, estão muito mais para uma correção saudável dentro de uma tendência de queda para posteriormente continuar caindo”, diz Chiaparini, da Nova Futura.
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As ações que mais caíram em fevereiro
Já as ações que mais caíram têm um histórico de baixa prolongada, conforme os analistas. “O setor de varejo segue sendo um dos mais impactados com o cenário de juros em nível elevado. Porém, alguns fatores micro também impactaram o desempenho dessas ações neste mês de fevereiro”, observa França.
Azzas está em declínio desde o final de 2022, alcançando em fevereiro o mesmo nível de preços da pandemia. Além disso, rumores recentes sobre a possível saída de Roberto Jatahy, ex-CEO do Grupo Soma e atual segundo executivo mais importante da empresa, trouxeram instabilidade ao papel. Embora Jatahy tenha negado qualquer intenção de deixar a companhia, a especulação aumentou a incerteza em torno da tese de investimentos da Azzas.
A Lojas Renner não conseguiu retomar uma trajetória ascendente desde 2020 e teve seu desempenho prejudicado pelos números do quarto trimestre. Os resultados abaixo do esperado decepcionaram, com a lucratividade do varejo pressionada, margens bruta e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) em 0,2 e 0,5 pontos percentuais abaixo das projeções. O fraco desempenho reforçou as preocupações sobre o setor para este ano, em um cenário macroeconômico ainda cercado de entraves.
Automob, além de ser uma empresa recente na bolsa, tem baixa liquidez e pouca atenção de investidores. Azul ainda sente os efeitos da pandemia e continua em tendência de queda, com perspectivas de preços ainda menores no longo prazo. Brava Energia, após uma tentativa frustrada de recuperação, renovou sua tendência de baixa, abrindo espaço para novos patamares inferiores.
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Já a Vivara enfrenta uma transformação intensa, que ainda gera incertezas sobre o futuro da companhia em 2025 e nos anos seguintes. A alta rotatividade na administração tem preocupado investidores, especialmente após a renúncia do diretor de Marketing Leonardo Bichara em fevereiro, fator que pesou sobre o desempenho das ações. Além disso, espera-se uma desaceleração no crescimento das vendas nos próximos trimestres, o que pode impactar ainda mais a confiança do mercado na empresa.
Vale a pena investir nessas ações?
A questão central é se há espaço para recuperação ou se a tendência negativa dessas ações deve continuar. Chiaparini diz que, embora alguns papéis possam parecer baratos em relação ao histórico, ainda não há sinais claros de reversão que justifiquem uma aposta em recuperação. Enquanto a tendência se mantém negativa, o risco de novas quedas continua alto. “Comprar essas facas caindo é pedir para se cortar feio”, compara.
A recomendação geral para quem tem a intenção de comprar ações é de extrema prudência. O ideal é alocar apenas uma fração muito pequena do capital disponível para renda variável, algo entre 0,5% e 1% do patrimônio, considerando o risco envolvido.
Uma estratégia sugerida é iniciar com um valor simbólico e esperar por sinais concretos de reversão antes de aumentar a posição. Por exemplo, se esse 1% representa R$ 1 mil para o investidor, a recomendação é começar comprando apenas R$ 100 e observar se o ativo mostra inclinação para cima antes de novas aquisições.
Um dos erros mais comuns no mercado, lembra Chiaparini, é o chamado “preço médio para baixo”, quando o investidor continua comprando um ativo que segue caindo na esperança de reduzir o preço médio de entrada. Essa prática pode levar a perdas ainda maiores. Em vez disso, a orientação é reforçar posições apenas em ações que mostram sinais positivos, ou seja, regar a planta que dá frutos, não insistir naquela que já demonstra estar comprometida.
Recomendações para março
Em fevereiro, os setores de consumo e imobiliário estiveram entre os mais voláteis e sofreram fortes oscilações. A expectativa de juros elevados pesou sobre essas ações, tornando a renda fixa uma alternativa mais atrativa para investidores, com títulos já pagando acima de 15% ao ano. Esse cenário afastou o apetite por risco na Bolsa, especialmente em empresas mais dependentes do crédito e da confiança do consumidor.
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Danielle Lopes, sócia e analista de ações da Nord Investimentos, cita a MRV (MRVE3) como uma dessas empresas do setor imobiliário que se destacaram negativamente. Segundo ela, o mercado tem demonstrado cautela com o setor de incorporação imobiliária, especialmente em relação à expansão da MRV no exterior. A empresa enfrenta dificuldades para crescer fora do Brasil e precisa lidar com desafios financeiros que elevam a desconfiança dos investidores. Apesar de ter conseguido avanços em volume de vendas e controle de custos, a estratégia de crescimento da subsidiária Resia ainda preocupa.
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Para março, os analistas dizem que a tendência é que essa dinâmica continue influenciando o mercado, a menos que haja uma mudança relevante na política monetária ou nos indicadores econômicos. Por outro lado, setores mais consistentes, como financeiro e energia, seguem como apostas mais seguras. Bancos como Itaú (ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3) tendem a se beneficiar com juros altos, assim como seguradoras como Porto Seguro (PSSA3) e BB Seguridade (BBSE3), que investem os prêmios recebidos em ativos de renda fixa.
No setor elétrico, empresas como CPFL Energia (CPFE3) e Cemig (CMIG4) são vistas como boas opções de ações no Ibovespa para quem busca menor exposição à volatilidade e um horizonte de médio a longo prazo. Para investidores que priorizam segurança, a estratégia mais eficiente continua sendo diversificar em empresas com fundamentos sólidos e tendência de alta, em vez de arriscar em ações que seguem em queda, apostando em uma recuperação incerta.