

A isenção sobre o ganho de capital e sobre a remuneração de dividendos alçou os FI-Infras ao posto de investimento queridinho de 2024, em um momento em que os juros altos e a mudança nos fundos exclusivos e nas regras de emissão de ativos incentivados fez o fluxo de investidores redirecionar o capital da renda fixa. Em 2025, nem esses benefícios estão sendo capazes de limitar as perdas desses fundos.
Um levantamento feito pela Economatica mostra que apenas 1 dos 12 FI-Infras ativos há 12 meses teve um retorno positivo no período. Os desempenhos estão bem abaixo da média praticada na indústria – boa parte dos fundos observados apresentou retornos positivos desde o início da série histórica.
Publicidade
A janela de 12 meses mostra uma mudança importante no comportamento do mercado em relação aos FI-Infras. No primeiro trimestre de 2024, os fundos de infraestrutura viveram um verdadeiro boom, na esteira de regras mais apertadas para a emissão de outros títulos isentos, como LCIs e LCAs. Eram os novos queridinhos do mercado, com captação bilionária, aumento no número de ativos e de contas abertas. Tudo isso enquanto ofereciam isenção de Imposto de Renda, liquidez – já que são listados em Bolsa –, e dividendos mensais.
Um ano depois, esta última parte não mudou. Mas a forma como investidores têm olhado para a classe, sim.
O cenário para os FI-Infras começou a se deteriorar em meados de novembro, momento em que a decepção com o anúncio do pacote fiscal do governo levou a uma desvalorização generalizada dos ativos brasileiros na reta final de 2024. A pressão na curva de juros levou a um aumento expressivo das taxas das NTN-Bs, penalizando os ativos IPCA+, como boa parte das debêntures incentivadas que compõem a carteira desses fundos, na marcação a mercado.
“Os títulos atrelados ao IPCA tiveram rendimento prejudicado e, consequentemente, os fundos listados tiveram uma distribuição de rendimento menor, gerando mais insatisfação entre os investidores e uma intensificação nos deságios”, diz Pedro Claudino, analista de fundos da Empiricus Research.
Publicidade
Tudo isso em meio a propostas políticas, de reforma do Imposto de Renda (IR) e tributação de dividendos, que afetam diretamente a classe. “O investidor, saturado com a consistente deterioração das expectativas com macro ao longo do ano, pode ter visto a divulgação do pacote fiscal em conjunto com a isenção de IR como uma gota d’água, levando todo seu portfólio para ativos em CDI”, destaca Claudino.
Gustavo Saula, analista de renda fixa do Grupo SWM, explica que, em um cenário ideal, os preços das cotas deveriam refletir o valor patrimonial dos fundos; coisa que não vem acontecendo. Esse deságio assustou investidores, especialmente o pessoa física que começou a conhecer a indústria de FI-Infras apenas nos últimos anos. A classe de ativos começou a ser negociada no Brasil apenas em 2020.
“Como parte dos investidores não compreende a mecânica de marcação dos fundos, começam a vender suas posições em momentos de volatilidade. Isso faz com que eles se desvalorizem ainda mais do que a cota patrimonial”, afirma Saula. “Além disso, muitos investidores pessoa física são apegados à constância de dividendos pagos. Quando há alguma variação no valor do dividendo, o que é comum nos FI-Infras dado que os títulos presentes nos fundos geralmente não pagam juros mensais, muitos cotistas tendem a se desfazer do produto, sem levar em consideração o fundamento.”
Risco ou oportunidade?
Por serem ativos que compram títulos de dívidas de empresas privadas, os FI-Infras estão sujeitos ao risco de crédito. Isso significa que podem vir a enfrentar problemas de inadimplência na carteira, caso algum dos emissores em que investem não cumpram com as suas obrigações. Um problema dessa magnitude poderia justificar um desconto maior no preço de um fundo ou outro, por exemplo. Mas, segundo os especialistas, este não é o caso.
Pedro Claudino, da Empiricus, destaca que, dentro do universo de cobertura da casa, não há nenhum caso relevante de deterioração da carteira ou inadimplência. Os ativos continuam saudáveis, apenas descontados por causa da marcação a mercado.
Publicidade
“A alta nos juros naturalmente aumenta o risco do crédito, seja ele incentivado ou não, exigindo maior cautela por parte dos gestores na seleção de ativos. Muitos gestores estão aproveitando para montar carteiras mais alocadas em ativos exclusivos, de originação própria, ou com poucos players – menos afetados por uma possível piora nos spreads gerais da indústria”, diz. “Para o investidor, é importante estar alocado em fundos com histórico de gestores experientes e com sucesso comprovado.”
Por investirem em debêntures incentivadas, os FI-Infras acabam menos expostos aos nomes mais sensíveis às oscilações macroeconômicas. Os ativos que têm na carteira são ligados a setores regulados de infraestrutura, que em muitos dos casos possuem as receitas corrigidas pela inflação. Uma combinação que faz os especialistas verem os descontos atuais como uma oportunidade de investimento; e não como um alerta.
O analista de fundos da Empiricus diz ainda que, mesmo que a proposta de alíquota mínima de 10% de Imposto de Renda para rendimentos acima de R$ 50 mil mensais – incluída dentro da reforma do IR do governo e que poderia abarcar os dividendos dos FI-Infras – seja aprovada, o processo seria demorado e não afetaria todos os investidores. “Os fundamentos da classe permanecem sólidos, as carteiras dos fundos recomendados estão adimplentes e, portanto, não justificam o deságio generalizados dos fundos. Em nossa visão, há uma oportunidade de compra”, afirma Claudino.
Como escolher um bom FI-Infra
Ainda que considerem os FI-Infras como boas oportunidades, os especialistas recomendam cautela na hora de selecionar os ativos. No geral, a recomendação é de buscar por gestoras com bom histórico no segmento de infraestrutura, fundos com carteiras diversificadas, e que tenham uma boa liquidez a mercado.
Para Cristina Tamaso e Sofia Caccuri, co-gestoras de infraestrutura da Valora, dada a volatilidade do cenário macro, é importante que a carteira do fundo seja pulverizada. Ou seja, que invista em muitos ativos de forma a reduzir o risco de crédito. “Fundos bem pulverizados têm exposição máxima ao redor de 5% em um determinado risco em relação ao PL do fundo”, pontuam.
Publicidade
A qualidade e expertise da equipe de gestão é outro grande diferencial em momentos de mercado mais desafiadores. “Gestores que conhecem com maior profundidade o setor podem se antecipar movimentando a carteira de forma a sair de papéis que tenham maior potencial de risco, ou mesmo, podem ser mais ativos em processos de reestruturação, permitindo que garantias sejam acionadas com maior agilidade”, afirma as co-gestoras da Valora.
Outro ponto importante de atenção é a exposição a subsetores específicos. Ainda que o mercado de infraestrutura como um todo seja mais resiliente, há alguns nomes passando por dificuldades específicas. O setor elétrico, por exemplo, vem sofrendo com eventos de curtaillment; nome dado à interrupção de geração de energia solar e eólica por parte do Operador Nacional do Sistema (ONS).
“No geral, os títulos detidos pelos FI-Infra, em sua maioria, são de empresas em que sua atividade possui pouca correlação com o ambiente macro, e de setores regulados, então tendem a ser menos impactadas com o ciclo de alta dos juros. Alguns setores específicos de infraestrutura vêm sofrendo por outros motivos – entretanto, as carteiras no geral tendem a ser diversificadas em setores”, explica Gustavo Saula, do Grupo SWM. Para investidores que desejam menos volatilidade, uma boa alternativa, segundo o especialista, é buscar por fundos que façam hedge ativo para o CDI.