

O Magazine Luiza (MGLU3) registrou lucro líquido de R$ 294,8 milhões nos últimos três meses de 2024, alta de 38,9% frente ao mesmo período de 2023. Na base ajustada, o lucro somou R$ 139,2 milhões, alta anual de 37,1%. As ações da empresa disparam hoje no Ibovespa, com alta de 13,48%, a R$ 9,60, no fechamento, refletindo o otimismo com o balanço trimestral. Mas, para analistas do mercado financeiro, o resultado pode ser considerado misto: apesar dos ganhos, o balanço pode indicar um pontapé inicial para a desaceleração da companhia ao longo de 2025, o que pesou na recomendação dos analistas ouvidos pela reportagem.
Para a XP Investimentos, o desempenho da receita do Magazine Luiza foi fraco, pois mostrou uma desaceleração em relação ao terceiro trimestre de 2024. Do lado positivo, a empresa reportou uma boa rentabilidade operacional, medida pela margem lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), além de ter melhorado sua geração de caixa.
Os especialistas lembram que, na questão da rentabilidade, a margem bruta recuou 0,2 ponto porcentual entre o quarto trimestre de 2023 e igual intervalo um ano depois. A equipe de XP lembra que esse recuo aconteceu por conta do mix de canais, com a penetração de serviços caindo 0,4 ponto porcentual.
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“Ainda assim, a margem líquida cresceu 0,7 ponto porcentual devido ao resultado da Luiza Cred. O lucro líquido ajustado alcançou R$ 139 milhões e cresceu 37,1%, por melhores resultados financeiros e Imposto de Renda, enquanto a geração de caixa atingiu R$ 1,8 bilhão, principalmente por fornecedores”, dizem Danniela Eiger, Gustavo Senday e Laryssa Sumer, que assinam o relatório da XP.
Os analistas da Genial Investimentos lembram que o Volume Bruto de Mercadorias (GMV, na sigla em inglês) aumentou 2,6%, desacelerando em relação ao ritmo do terceiro trimestre de 2024. As vendas das mesmas lojas (SSS, na sigla em inglês) apresentaram crescimento de 8% no quarto trimestre de 2024, ante um crescimento de 15% no terceiro trimestre de 2024.
“A nossa hipótese para a desaceleração é que a sua principal concorrente, Casas Bahia (BHIA3), após o processo que culminou na reestruturação de lojas (e fechamento de mais de 60 unidades), tem sido bem agressiva em oferecer crédito para recuperar parte do market share (fatia de mercado) doado durante os últimos meses. Enquanto a carteira de crédito da Luiza Cred não variou ano contra ano, a Casas Bahia aumentou em 17,0% em um ano o seu portfólio”, dizem Iago Souza e Nina Mirazon, que assinam o relatório da Genial.
Para Caroline Sanchez, analista da Levante Inside Corp, os números da receita mostram que a empresa demonstra sinais de desaceleração do canal físico e uma maior dificuldade de crescer o negócio marketplace. Segundo ela, a concorrência bastante acirrada do setor de e-commerce pode dificultar essa recuperação das vendas no curto prazo.
Veja os principais destaques do balanço do Magazine Luiza
- Lucro líquido de R$ 294,8 milhões nos últimos três meses de 2024, alta de 38,9%;
- Ebitda de R$ 842,4 milhões, alta anual de 53,6%;
- Margem líquida de 2,7%, alta anual de 0,7 ponto porcentual;
- Margem Ebitda de 7,8%, crescimento de 2,6 pontos porcentuais;
- Vendas totais de R$ 18,4 bilhões, avanço de 2,6% na comparação entre o quarto trimestre de 2024 e o quarto trimestre de 2023.
O que resultados dizem sobre o Magazine Luiza em 2025?
Para 2025, os analistas comentam que o desempenho do Magazine Luiza está atrelado a diversos fatores. Na visão de João Daronco, analista da Suno Research, a companhia vai depender de como o Brasil vai performar ao longo desse ano, visto que existe uma dependência macroeconômica bastante forte da ação MGLU3.
Ele lembra que o momento atual é difícil pelo atual ciclo de alta de juros. Atualmente, a Selic está em 13,25% ao ano e o mais recente boletim Focus estima que a taxa deve encerrar 2025 cotada a 15% ao ano. “À medida que essa taxa de juros sobe e tenha algum tipo de impacto na economia, podemos ver alguma questão de retração das vendas do Magalu. O foco da companhia deveria ser ganhos de eficiência e melhores margens, o que traria uma melhor atratividade do papel”, diz Daronco.
Já Caroline Sanchez, da Levante, diz que o Magazine Luiza segue em trajetória de recuperação em 2025. No entanto, ela aponta que essa evolução tende a levar um tempo maior que o esperado, justamente por causa do ciclo de alta de juros e também por questões internas da empresa, devido à concorrência mais acirrada.
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“No caso do Magalu, mesmo que eles tenham reduzido o endividamento e estejam melhorando a estrutura de capital, o custo da dívida ainda impacta negativamente as despesas financeiras, que subiram quase 10% acima das nossas estimativas. Em meio a esse cenário, o crescimento das vendas e o marketplace seguem bem moderados, o que acaba não compensando, visto que o marketplace poderia ser o motor de expansão e rentabilidade, o que não aconteceu”, salienta Sanchez.
Vendas nas lojas físicas devem desacelerar
Para a Genial, as vendas de lojas físicas devem desacelerar, dado que o ambiente macroeconômico para o varejo discricionário de alto ticket tende a ser mais desafiador em 2025 do que foi em 2024. Eles comentam que apesar do impulso inicial gerado pelo aumento da renda disponível no início do ano, o cenário se torna mais complexo adiante, com um câmbio elevado pressionando a inflação, dificultando o trabalho do Banco Central (BC) na ancoragem das expectativas e ampliando os desafios fiscais do governo.
“Ainda, vemos Casas Bahia sendo agressiva na oferta de crédito, o que pode minar o faturamento do Magazine Luiza no cenário onde a mesma não adote a mesma estratégia. Acreditamos que Magalu ainda registre lucro em 2025. Apesar de uma desaceleração, dado o crescimento de despesas financeiras projetadas para o ano, estimamos ganhos em margem bruta”, explicam Iago Souza e Nina Mirazon, da Genial Investimentos.
O que fazer com as ações do Magazine Luiza?
Sendo assim, os quarto analistas são conservadores em relação ao papel e possuem recomendação neutra. A Genial Investimentos diz que, dado o cenário pouco otimista para o setor discricionário no segundo semestre de 2025, eles estão atualizando as estimativas para a tese. Eles até recomendavam compra para a ação, mas após o resultado desse trimestre, decidiram rebaixar a recomendação da ação do Magazine Luiza para “manter”, que é equivalente à recomendação neutra. O preço-alvo é de R$ 10,00 para o fim de 2025, uma alta de 18,20% em relação ao fechamento de quinta-feira (13), quando a ação encerrou o pregão a R$ 8,46.
Carolina Sanchez, da Levante, também tem recomendação neutra. Ela comenta que a empresa de fato está no caminho de recuperação, mas a desaceleração de lojas físicas e a performance mais fraca do e-commerce, combinado com o impacto da Selic, ainda são “desafios muito expressivos”.
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“Na nossa visão, existem nomes que possuem um risco-retorno mais equilibrado no varejo e e-commerce, como o Mercado Livre (MELI34). A companhia é a nossa ação favorita do setor de e-commerce. Preferimos o ativo pelo fato de a empresa ter uma melhor operação e ter conseguido navegar por esse período desafiador, com crescimento no varejo e na parte financeira com o Mercado Pago”, diz a analista da Levante.
A XP tem recomendação neutra com preço-alvo R$ 7,50 para o fim de 2025, uma queda de 11,35% em relação ao fechamento de quinta-feira (13), quando a ação encerrou o pregão a R$ 8,46. Eles também comentam que o cenário macroeconômico e a forte concorrência do setor são os fatores fundamentais para o investidor não comprar a ação. Essa mesma tese é defendida por João Daronco, analista da Suno Research, que afirma preferir ficar de fora da ação do Magazine Luiza (MGLU3).
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