

O Grupo Casas Bahia (BHIA3) reportou prejuízo de R$ 452 milhões no quarto trimestre de 2024, uma redução de 54,8% ante o prejuízo de R$ 1 bilhão apurado um ano antes. Para analistas do mercado financeiro, o resultado pode ser considerado “misto”, com melhora no resultado operacional, mas ainda deixa a desejar em questões como o alto endividamento e o próprio prejuízo na última linha do balanço.
Na visão dos analistas da XP Investimentos, o Grupo Casas Bahia apresentou tendências de crescimento de receita e rentabilidade, porém a empresa ainda está pressionada pela alavancagem alta. Eles comentam que o Volume Bruto de Mercadorias (GMV, na sigla em inglês) cresceu 10% na comparação anual, puxado pela recuperação das lojas físicas, que tiveram alta de 17% na vendas das mesmas lojas.
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“A rentabilidade foi novamente o destaque, com a margem bruta da Casas Bahia expandindo 3,2 pontos porcentuais na comparação entre o quarto trimestre de 2023 e igual período de 2024, refletindo a maior qualidade dos estoques, o mix de produtos e o aumento da penetração de serviços e soluções financeiras“, dizem Danniela Eiger, Gustavo Senday e Laryssa Sumer, que assinam o relatório da XP.
Para os analistas da Genial Investimentos, o balanço da Casas Bahia mostra uma consistente evolução na performance de lojas físicas, impulsionado pela sazonalidade positiva (Black Friday e Natal) somada a um crescimento muito maior do que o esperado para carteira de crédito neste trimestre. Eles lembram também que o crescimento anual de 300% do lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) mostra que a varejista está em forte recuperação.
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Caroline Sanchez, analista da Levante Inside Corp, diz que embora o plano de transformação esteja avançando com a redução do prejuízo da Casas Bahia, ele ainda está longe de ser concluído. “O investidor deve avaliar os próximos balanços para ver a eficácia das medidas que estão sendo implementadas e a capacidade das empresa de conseguir retornar a lucratividade”, explica.
Endividamento é um dos desafios da Casas Bahia
Os analistas da Genial apontam que as questões de endividamento e custos financeiros ainda pesam sobre a empresa. Os especialistas apontam que o fato de a companhia ter aumentado o uso do risco sacado, o mesmo que a Americanas (AMER3) utilizou antes de entrar em recuperação judicial, chamou a atenção.
No modelo de fornecedores convênio (risco sacado), a companhia negocia com fornecedores para que eles recebam os pagamentos antecipadamente via bancos parceiros, enquanto a companhia alonga seus prazos de pagamento. O uso dessa ferramenta vem evoluindo a taxas de 20% há dois trimestres consecutivos.
“Apesar dos alardes após o evento Americanas, frisamos que não existe problema nenhum em realizar esse tipo de operação, afinal é uma ferramenta fundamental para a gestão de capital de giro no varejo, principalmente em empresas que operam com ciclo de caixa longo, como a Casas Bahia. Isso melhora temporariamente o capital de giro da empresa, mas pode estar escondendo fragilidades financeiras se for usado de forma excessiva”, dizem Iago Souza e Nina Mirazon, que assinam o relatório da Genial.
A dupla salienta que o resultado financeiro da Casas Bahia seguiu como um obstáculo significativo, com despesas financeiras líquidas de R$ 921 milhões, crescimento anual de 25,5% na comparação entre o quarto trimestre de 2024 e igual intervalo de 2023. Segundo os analistas, isso eleva o comprometimento da receita com juros e custos de capital, sendo um dos fatores principais para a empresa ter dado prejuízo.
Veja o resumo dos destaques do balanço da Casas Bahia
- GMV Total Consolidado cresceu 10% no acumulado de 1 ano;
- A rentabilidade foi novamente o destaque, com a margem bruta expandindo 3,2 pontos porcentuais entre o 4T23 e o 4T24;
- Crescimento de 300% do Ebitda ajustado entre o quarto trimestre de 2024 e o quarto trimestre de 2023, para R$ 640 milhões;
- Redução do prejuízo de R$ 1,045 bilhão no quarto trimestre de 2023 para R$ 452 milhões no quarto trimestre de 2024.
O que fazer com as ações BHIA3?
A estimativa dos analistas é unanime: as ações de Casas Bahia devem cair até o fim de 2025. Para Caroline Sanchez, da Levante, a alta recente dos ativos, de mais de 100% desde o dia 5 de março, não significa que o papel seja uma boa alternativa para investir agora. “Essa alta foi mais uma questão de especulação do papel em si do que uma alta com fundamentos. Nesse momento, pedimos cautela para o investidor. O melhor seria esperar uma melhor recuperação da empresa”, diz Sanchez.
Os analistas da Genial Investimentos dizem que a fotografia de curto prazo parece promissora, entretanto, é preciso ponderar que a carência de juros da dívida (e principal) dão um certo conforto à empresa varejista em acelerar o crédito para impulsionar o faturamento e levar o operacional a uma curva de crescimento mais rápido do que o cenário esperado.
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“O verdadeiro teste virá em 2025: a Casas Bahia conseguirá sustentar essa margem operacional sem comprometer a qualidade do crédito? Monitorar essa evolução será essencial, especialmente considerando um ambiente macroeconômico mais desafiador no segundo semestre, com inflação pressionada e Selic ainda maior do que foi em 2024″, indagam Iago Souza e Nina Mirazon.
Desse modo a Genial tem recomendação de venda para as ações da Casas Bahia com preço-alvo de R$ 4,00 para o fim de 2025, queda de 26,74% na comparação com o fechamento de quarta-feira (12), quando o papel encerrou o pregão a R$ 5,46. A XP tem recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 4 para o fim de 2025, queda de 26,74% em relação ao último fechamento.
“Nossa visão cautelosa para a empresa é baseada no atual momento de transformação estratégica e financeira da companhia, que têm pressionado os últimos resultados, além do cenário macroeconômico ainda desafiador para a demanda do segmento de bens duráveis”, concluem Danniela Eiger, Gustavo Senday e Laryssa Sumer, que assinam o relatório da XP sobre a Casas Bahia.