

O dólar americano à vista bateu o menor patamar desde outubro de 2024 nesta semana, quando encerrou a quarta-feira (19) a R$ 5,64. Desde então, passou por um movimento de correção que leva investidores a se questionar qual será a tendência da moeda no curto prazo. Podemos continuar a ver o real se valorizando ou este é um movimento que está chegando ao final?
Especialistas explicam que o câmbio é uma das variáveis mais difíceis de se prever. Mas, no curto prazo, veem espaço para que o real continue se fortalecendo ante o dólar. Nesta sexta-feira (21), a cotação do dólar estacionou em R$ 5,71 no fechamento do pregão, com baixa de 0,45% na semana e e queda de 3,36% em março.
- De inflação para deflação: a crise nos EUA que derrubou o dólar (e pode avançar mais)
Pedro Ros, CEO da Referência Capital, destaca que apesar da alta dos últimos dois dias a moeda americana ainda acumula queda de cerca de 8% em 2025. “O movimento atual parece ser uma correção técnica e não necessariamente uma reversão. Para o Brasil, o diferencial de juros continua atraindo capital estrangeiro, o que sustenta o real”, pontua.
O dólar passa por um movimento de enfraquecimento global, refletindo as incertezas com a política tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o impacto das medidas na economia americana. Mas há também um outro fator doméstico, lembra Luiz Arthur Fioreze, diretor de Gestão de Fundos da Oryx Capital: os leilões de dólar realizados pelo Banco Central (BC).
Publicidade
“A intervenção do Banco Central vendeu quase 10% das reservas cambiais para conter o overshooting (reação exagerada) da moeda. Essa ação funciona como “subsídio” temporário, proporcionando um dólar mais barato no curto prazo”, diz. “Enquanto medidas de curto prazo podem oferecer alívios temporários, os desafios de médio e longo prazo exigem políticas estruturais.”
Cotação do dólar no médio e longo prazo com incertezas
Graças às quedas recentes, aos poucos, o mercado está começando a revisar as projeções para o dólar em 2025 traçadas no início do ano. A mediana do Boletim Focus teve dois ajustes para baixo e agora está em R$ 5,98; há um mês, era de R$ 6.
Mas outras revisões mais expressivas estão acontecendo. Na segunda-feira (17), o Itaú BBA reduziu a projeção do dólar para 2025 de R$ 5,90 para R$ 5,75 em linha com uma tendência global de enfraquecimento da moeda americana em meio às tarifas de Trump nos EUA.
“Essa mudança de cenário levou a um enfraquecimento do dólar, mas acreditamos que o risco inflacionário vindo das tarifas e a estabilização do crescimento americano devem limitar uma continuação desse movimento”, diz Mario Mesquita, analista do BBA, em relatório.
- Investir no exterior: como escolher a melhor corretora e ativos fora do Brasil
Depois, na quinta-feira (20), o BTG Pactual também revisou a projeção para o câmbio de R$ 6,25 para R$ 6,00. Ainda assim, se o banco estiver certo, a moeda americana deve engatar uma valorização acima de 5% ao longo do ano.
O entendimento é que os ativos locais vêm sendo beneficiados por um movimento global de realocação da carteira de investidores, com otimismo especial para emergentes dado à expansão fiscal na China. Mas que quedas adicionais no câmbio vão depender da melhora das incertezas domésticas ligadas à questão fiscal.
Publicidade
“Há diversos fatores que podem alterar essa expectativa; o que podemos afirmar é que nunca o Brasil teve números tão fortes e consistentes de balança comercial. Assim, sinais mais claros do avanço do ajuste fiscal neste ou no próximo governo poderia ser um driver para uma valorização mais forte de real”, diz o economista-chefe do BTG, Mansueto Almeida, em relatório.
O que vai acontecer com o dólar no segundo semestre de 2025?
Esse receio com a perspectiva de médio e longo prazo prevalece entre especialistas. Em um cenário com muitos fatores de incerteza no radar, vai ser preciso acompanhar o desenrolar da guerra de tarifas de Trump e o impacto disso na economia dos EUA e no ciclo de aperto monetário, as respostas da economia da China aos estímulos concedidos pelo governo, além da aproximação do “trade de eleição” no Brasil.
É por causa desse pacote que a Hedgepoint Global Markets também se mantém cautelosa em relação ao desempenho do real a partir do segundo semestre de 2025.
“A melhora das últimas semanas se deve não só a fundamentos locais, mas muito vem do exterior. Por isso, acreditamos que há riscos relevantes de depreciação do real que precisam ficar no radar para o médio e longo prazo”, destacou o economista Victor Arduin em conferência realizada pela Hedgepoint nesta sexta-feira (21). “O déficit fiscal ainda é alta e os ajustes na Selic impactam as contas.”