

O casamento inevitavelmente envolve grandes e pequenas concessões financeiras. Contas correntes conjuntas ou individuais? Quanto é demais gastar em um carro? Produtos de marca ou genéricos?
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O casamento inevitavelmente envolve grandes e pequenas concessões financeiras. Contas correntes conjuntas ou individuais? Quanto é demais gastar em um carro? Produtos de marca ou genéricos?
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Quando um casal se casa novamente na terceira idade, as apostas aumentam. Como devem ser divididas as despesas com aquelas viagens dos sonhos na aposentadoria? Em nome de quem fica o novo apartamento? Quem herda a casa ou a carteira de ações: o cônjuge sobrevivente ou os filhos do casamento anterior?
Muitos recém-casados aposentados descobrem que as respostas para essas perguntas evoluem com o tempo. Para uma diretora aposentada de uma organização sem fins lucrativos e um profissional de TI aposentado no norte do estado de Nova York, isso significou revisar as expectativas de quem pagaria o quê.
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“Nós apenas conversamos sobre o que cada um de nós estava trazendo financeiramente para o casamento”, disse Elaina Clapper, ex-diretora de uma agência de apoio a vítimas de violência doméstica. Elaina, de 76 anos, disse que esteve divorciada por cerca de 40 anos antes de se casar com David Clapper em 2018.
“Por um tempo, o David me pagava uma certa quantia todo mês” para ajudar nas despesas da casa, disse Elaina. Mas, com o tempo, o casal, que mora em Watertown, nos Estados Unidos, decidiu que seria mais fácil cada um ser responsável por determinadas contas mensais.
“Tem contas que ela paga; tem contas que eu pago”, disse David Clapper, de 67 anos. “Ajustamos de uma forma que ambos consideramos justa.”
À medida que a expectativa de vida aumenta e o estigma em torno do divórcio diminui, norte-americanos com 65 anos ou mais estão contrariando as estatísticas e se casando novamente com mais frequência, segundo pesquisa do Centro Nacional de Pesquisas sobre Família e Casamento da Bowling Green State University, em Ohio. A taxa de recasamento nessa faixa etária subiu de 4,6 para 5,1 por 1.000 pessoas entre 1990 e 2022. Isso contrasta com a população geral, onde a taxa de recasamento caiu pela metade.
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Esse cenário força os casais a considerarem situações potencialmente complicadas sobre como — ou se — devem unir suas finanças.
“Quanto mais tarde na vida você entra em um relacionamento, dependendo da complexidade da sua vida anterior, mais complicado tende a ser unir as finanças”, disse Jean Chatzky, fundadora da HerMoney, uma plataforma de empoderamento financeiro para mulheres.
Casais mais velhos são mais propensos a ter contas de aposentadoria, imóveis e outros bens que podem ser difíceis de mesclar — e ainda mais difíceis de separar depois. Um ou ambos os parceiros podem ter filhos de relacionamentos anteriores, complicando a questão de quem herda o quê.
A estratégia mais simples para evitar complicações não intencionais é surpreendentemente difícil de colocar em prática, segundo um especialista. Lee Meadowcroft, do escritório Skinner Law, em Portland, Oregon, recomenda que os clientes mantenham coisas como contas bancárias separadas, especialmente se quiserem preservar os bens para seus herdeiros.
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“Manter tudo separado parece funcionar melhor, mas é raro um casal conseguir fazer isso por muito tempo”, disse ele.
Pequenas diferenças na administração do dinheiro são bastante comuns entre pessoas que se casam novamente mais tarde na vida, segundo Scott Rick, professor associado de marketing da Universidade de Michigan, que estuda como parceiros românticos lidam com essas diferenças. “Acho que é preciso ser mais compreensivo com hábitos de consumo que talvez pareçam estranhos para você”, afirmou.
Shaun Williams, sócio da Paragon Capital Management, em Denver, disse: “Você costuma lidar com pessoas muito acostumadas aos seus próprios hábitos. É preciso ter bastante tolerância e entender que elas estão fazendo isso há mais de 40 anos. Você não vai mudá-las.”
Embora uma abordagem menos formal funcione para muitos casais, ela pode trazer consequências sérias para viúvas, alerta uma especialista em aposentadoria.
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Cindy Hounsell, presidente do Instituto de Mulheres para uma Aposentadoria Segura (WISER), disse que as mulheres frequentemente entram em segundos casamentos com menos patrimônio acumulado que seus parceiros.
Hounsell relatou que, muitas vezes, essas mulheres contribuem — às vezes significativamente — com os custos da casa, mas ao ficarem viúvas, enfrentam situações financeiras precárias por não terem nenhum direito legal sobre o imóvel, que pode acabar nas mãos dos enteados. Em alguns casos, mesmo tendo contribuído para a compra, o nome delas não está na escritura.
“O que ouvimos com frequência em nossos workshops é: ‘Minha mãe deu parte do valor de entrada, mas agora não pode morar lá’”, disse ela. “A situação é que a mãe não tem onde morar.” E se os herdeiros venderem a casa, o cônjuge não tem nenhum direito legal sobre o dinheiro.
Esses cenários são um dos motivos pelos quais especialistas em planejamento sucessório recomendam acordos pré-nupciais, seguros de vida e trusts (fundos fiduciários). “Ter um acordo pré-nupcial é importante porque força uma conversa sobre o que acontece se o casamento acabar por morte e quem recebe o quê”, disse Ginger Skinner, fundadora de um escritório de advocacia em Portland, Oregon.
Segundo Skinner, discutir um acordo pré-nupcial, mesmo que desconfortável, pode revelar suposições e diferenças não ditas. Por exemplo, se ambos têm filhos de relacionamentos anteriores, podem ter ideias diferentes sobre quem deve herdar o quê após a morte de cada um.
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O seguro de vida é uma forma comum de direcionar heranças para cônjuges ou filhos de outros casamentos. Diferenças significativas de riqueza podem levar o casal a contribuir proporcionalmente com os custos da casa, em vez de dividir tudo igualmente.
Williams, da Paragon Capital, contou sobre uma cliente muito mais rica que o segundo marido. Ele criou uma fórmula para calcular a parte dele na casa. Se ele sobreviver a ela e a casa for vendida, ele receberá uma parte proporcional às contribuições financeiras feitas para a manutenção do imóvel.
Para quem tem muitos bens, trusts podem proteger o patrimônio caso o novo cônjuge venha a ter altos custos com saúde não cobertos pelo Medicare.
Elaina Clapper disse que atualizou seu testamento logo após o casamento por esse motivo. Queria garantir que as contribuições de David para as despesas da casa fossem reconhecidas caso ela morresse primeiro. “Quase tudo vai para meus filhos e netos, mas também há uma cláusula que destina algo ao David”, contou.
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David Clapper disse que não esperava ser incluído como beneficiário no testamento da esposa, mas ficou agradecido. “Agradeci por ela querer me incluir”, disse ele.
Planejadores financeiros afirmam que essas estruturas legais, embora pareçam frias ou transacionais, criam uma rede de proteção para o cônjuge sobrevivente, caso precise sair da casa após a morte do parceiro e sua venda pelos herdeiros. Ainda assim, dizem que o planejamento patrimonial pode ser difícil quando há imóveis envolvidos.
“Casas são complicadas”, disse Michael Fiffik, sócio do Fiffik Law Group, em Pittsburgh. O apego emocional, especialmente a casas familiares antigas, pode tornar o planejamento mais delicado.
Meadowcroft relatou que conflitos surgem quando o dono de uma casa concede ao cônjuge o direito legal de continuar morando nela até a própria morte. “Quando há uma casa envolvida e o novo cônjuge está morando nela, os filhos às vezes só estão esperando a outra pessoa morrer.”
Alguns casais mais velhos, ao analisar os números, podem concluir que a melhor decisão financeira é não se casar legalmente, segundo Meadowcroft. “Pode ficar muito complicado e causar muitos problemas”, disse.
Por exemplo, o casamento aciona regras legais de herança sobre certos ativos de aposentadoria. Se um dos cônjuges tiver uma conta desse tipo, pode ser obrigado a nomear o outro como beneficiário. E se quiser deixar esse bem para outra pessoa, como um filho, o novo cônjuge terá que renunciar legalmente ao direito sobre ele. “Contas de aposentadoria sempre exigem atenção especial”, disse Fiffik.
Para algumas viúvas e viúvos, o recasamento pode significar perder pensões ou benefícios da Previdência Social. “Se a pessoa recebe uma pensão, talvez não queira se casar novamente, pois pode perder esse benefício”, afirmou Williams.
Meadowcroft lembrou de um casal, ambos com mais de 80 anos, que decidiu se casar novamente. Eles fizeram uma cerimônia religiosa, mas mantiveram seus patrimônios separados ao não registrarem o casamento oficialmente.
“Eles disseram que, aos olhos de Deus, estão casados”, contou Meadowcroft. “Mas para o Estado, o casamento serve apenas para decidir quem fica com seus bens quando você morre.”
Esta história foi originalmente publicada no The New York Times.
c.2025 The New York Times Company
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