No primeiro trimestre de 2025, o BB registrou lucro líquido ajustado de R$ 7,374 bilhões, uma queda de 20,7% em relação a igual período de 2024. Em relação ao quarto trimestre, o resultado do banco caiu 23%. O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE, na sigla em inglês) foi de 16,7% no trimestre, queda de 4,98 pontos percentuais em base anual e de 4,16 pontos percentuais em três meses.
Diferentes bancos e corretoras concordaram que o resultado foi negativo. “Dado que a qualidade dos ativos na carteira agrícola (onde o BB tem uma participação muito maior que seus pares) continuou se deteriorando ao longo do trimestre, somado à implementação da Resolução CMN nº 4.966 – que impactou o BB muito mais do que seus concorrentes –, o resultado foi uma grande frustração no lucro”, destacam os analistas do BTG Pactual.
De forma geral, a chamada Resolução nº 4.966 do Conselho Monetário Nacional (CMN) trouxe mudanças na forma como as instituições financeiras registram seus instrumentos financeiros. Durante a divulgação dos resultados do quarto trimestre, a empresa já havia antecipado que os três primeiros meses de 2025 seriam um período de transição devido à adoção da medida, dada a abrangência das mudanças em diversas linhas do demonstrativo de resultados.
Outro fator que pesou no balanço do Banco do Brasil foi a inadimplência da carteira de agronegócio, que atingiu 3,04%, uma alta de 0,6 pontos percentuais na comparação trimestral e de 1,9 ponto percentual na comparação anual. Em um vídeo divulgado em conjunto com os resultados, a administração do BB destacou que sua prioridade para o resto do ano será conter a deterioração da inadimplência – particularmente na carteira agro – e restaurar gradualmente a rentabilidade por meio da rotação da carteira e de iniciativas de cobrança mais agressivas.
Na visão da Genial Investimentos, o que também pressionou o balanço foi a Receita Líquida de Juros (NII), que totalizou R$ 23,9 bilhões no primeiro trimestre, recuando 7,2% na comparação anual. Ela foi negativamente impactada pelo descasamento entre ativos prefixados e passivos pós-fixados, situação agravada pelo cenário de Selic elevada. Mudanças contábeis geradas pela Resolução 4.966 também afetaram esse resultado e reduziram cerca de R$ 1 bilhão do NII, segundo os cálculos da corretora.
O Goldman Sachs concorda que a NII foi pressionada pelo novo padrão contábil e por juros mais altos. “Penso que as principais questões sobre o BB daqui para frente serão: como reconstruir o NII antes que os juros eventualmente caiam no Brasil, qual será a extensão da deterioração da qualidade dos ativos no segmento rural e se o ROE conseguirá se recuperar para próximo de 20%”, afirma o banco.
Diante do desempenho aquém do esperado, o Banco do Brasil também anunciou a revisão de parte relevante do seu guidance (projeção), abrangendo as projeções de NII, custo de crédito e, consequentemente, do lucro líquido ajustado. “Diferentemente das atualizações anteriores, o banco não apresentou novos parâmetros numéricos, optando por deixar essas variáveis em aberto até uma reavaliação prevista para o segundo trimestre, que dependerá da estabilização da inadimplência no agronegócio, potencialmente beneficiada pela colheita do período”, destaca a Genial.
Vale a pena comprar as ações do BB agora?
Apesar de considerar os resultados negativos, a XP Investimentos ainda mantém recomendação de compra para BBAS3. “Estamos nos tornando mais cautelosos em relação às perspectivas do BB para este ano. Ainda assim, mantemos nossa classificação de compra devido ao valuation e aos dividendos atraentes”, diz a corretora.
Quem também recomenda a compra para os papéis BBAS3 é o BTG. “Nossa primeira reação ao olhar os resultados foi considerar rebaixar a recomendação. Mas não achamos que isso ajudaria a nós ou aos nossos clientes. A mudança contábil provavelmente apenas antecipou a constatação de que o BB não tem um ROE recorrente ou sustentável acima de 20%. Por outro lado, ninguém precificava a ação com base nisso, nem de perto”, destaca.
O BTG acredita que o BB ainda tem um valuation modesto, que provavelmente se tornará ainda mais atrativo após a sessão desta sexta-feira. especialmente em comparação com outras opções na Bolsa após o forte rali do Ibovespa no ano. “Vamos digerir os números, a mensagem da gestão e, com sorte, voltar na próxima semana com uma análise mais clara sobre o que fazer com a ação. Por ora, mantemos nossa recomendação de compra com base no valuation, mas com viés negativo”, ressalta.
A Genial Investimentos, por sua vez, revisou a recomendação de compra para manter (equivalente a neutro). “Diante de um cenário mais desafiador e incerto, vemos possibilidade de deterioração adicional dos resultados ao longo de 2025, especialmente com a expectativa de agravamento do ciclo de inadimplência em algumas carteiras no segundo semestre, pressões persistentes sobre a qualidade dos ativos no agronegócio e maior dificuldade de crescimento de receita”, sinaliza.
Outras casas que também rebaixaram a recomendação de BBAS3 de compra para neutro foram Ágora Investimentos e Bradesco BBI, que ainda reduziram suas estimativas de lucro líquido para a instituição em 19% para 2025 e 2026, para R$ 32,6 bilhões e R$ 36,1 bilhões (16% abaixo do consenso para 2025 e 13% abaixo para 2026). “Nosso rebaixamento é reflexo das novas mudanças contábeis e da revisão do guidance do banco para 2025, enquanto as preocupações com a qualidade dos ativos aumentaram, com a deterioração de todos os segmentos”, explicam.
Analistas consultados pelo E-Investidor também se dividem nas opiniões sobre as ações do Banco do Brasil. Felipe Sant’Anna, especialista em investimentos do grupo Axia Investing, afirma que a instituição é sólida e que o movimento de hoje é um misto de especulação com realização de lucros.
“O lucro de mais de R$ 7 bilhões parece ter sido deixado de lado pelos investidores, que passaram a observar mais a queda percentual em relação ao período anterior e as projeções futuras, do que apreciar o número extraordinário do balanço”, pontua. “Evidente que o aumento da inadimplência, as preocupações com o agro e o aumento das despesas merecem cautela e observação, mas deixar totalmente de lado R$ 7 bilhões em lucro é no mínimo insano.”
Por outro lado, Ricardo Pompermaier, estrategista-chefe da Davos Investimentos, acredita que o balanço foi um sinal de alerta aos investidores. “O resultado veio abaixo do esperado, bastante afetado pela inadimplência do agronegócio – que domina a carteira de crédito do Banco do Brasil – e também pela nova regra de contabilidade. Para ‘completar a festa’, retiraram guidances futuros, mostrando que não têm conhecimento das potenciais perdas futuras”, afirma.
Matheus Lima, analista de investimentos e sócio da casa de análise Top Gain, tem uma visão diferente e acredita que a queda das ações do BB pode gerar uma oportunidade para comprar barato papéis de um banco sólido. “Conforme os estresses vão causando uma desvalorização nos papéis e você compra os ativos, em um cenário de eventual valorização, é possível se beneficiar com recebimento de dividendos futuros”, diz. “Com certeza ainda vejo o Banco do Brasil como uma oportunidade para quem tem interesse em receber dividendos, ainda que esteja passando por esses problemas agora.”