Investidor conservador deve buscar operações com taxas altas, diversificando a carteira. Foto: AdobeStock
É possível travar ganhos acima dos atuais IPCA+7% dos títulos públicos com ativos de crédito privado isentos de Imposto de Renda, como debêntures incentivadas e Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio (CRIs e CRAs). Esse movimento, no entanto, exige cautela por parte do investidor. “Quando a gente compra um crédito privado, a gente está comprando uma dívida corporativa”, lembra Braian Largura, sócio do escritório VNT Investimentos.
O especialista avalia que, apesar dos sinais de fim do ciclo de alta da Selic, os efeitos dos juros elevados ainda se refletem na saúde financeira de muitas empresas. Por isso, ao buscar rentabilidades mais atrativas em ativos isentos atrelados à inflação é importante redobrar a atenção com o risco de crédito.
Empresas alavancadas ou com problemas de caixa continuam expostas a um ambiente hostil aos negócios, o que pode comprometer sua capacidade de pagamento. “Quando a gente vai alocar nesse tipo de emissor é preciso olhar o ciclo de mercado daquela empresa, olhar o endividamento, como que está a gestão.”
Projeções do mercado para inflação e juros (%)
Ano
2025
2026
Projeção
Atual
Há 4 semanas
Atual
Há 4 semanas
IPCA (%)
5,5
5,57
4,5
4,5
IGP-M (%)
4,95
4,92
4,6
4,52
Selic – final do ano (%)
14,75
15
12,5
12,5
Fonte: Boletim Focus 16 de maio
Jeff Patzlaff, planejador financeiro CFP e especialista em investimentos, lembra que a maioria dos investidores pessoa física não tem o tempo ou conhecimento necessário para analisar empresas ou emissões de crédito privado individualmente. Por isso, ele recomenda fundos de investimentos, que podem diluir riscos com praticidade. “O investidor tradicional não tem tempo para estudar as empresas. Ele vai pegar, olhar a maior taxa e tacar o dinheiro. Por isso que fundos acabam diluindo muito mais o risco. A rentabilidade é um pouquinho menor, mas, na minha opinião, o custo-benefício vale.”
Patzlaff menciona como boas opções os fundos de infraestrutura que trabalham com debêntures incentivadas. Tanto pela isenção de Imposto de Renda – que dá uma boa rentabilidade líquida (hoje em torno de 1% ao mês), quanto pela liquidez, com resgates em cerca de 30 dias. “É diferente de investir num CDB travado por três anos, que, se tirar antes, tem uma marcação a mercado muito forte.”
Gabriel Lago, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital lembra dos fundos multimercado, que podem compor a diversificação da carteira, especialmente para investidores com um perfil mais equilibrado ou moderado. “Na renda variável, o cliente pode ter até uns 10% na carteira. E multimercado até uns 20, 30% que acredito ser uma média boa.”
Diluindo a carteira
Mesmo em fundos de investimento é importante manter a diluição e evitar alocar toda a grana numa única opção. Neste caso, até fundos imobiliários (FIIs) poderiam entrar na estratégia, apesar de suas cotas oscilarem como renda variável. Mas, como a ideia de FII é complementar a renda mensal, essa pode ser uma boa opção, principalmente para os mais velhos. “Você não vai olhar o valor da cota, vai olhar o valor do dividendo pago, que é isento”, argumenta Patzlaff.
No geral, o especialista recomenda que o investidor, principalmente o mais conservador, deve buscar operações com taxas altas, mais longas, travadas, diversificando uma ínfima parte com outros tipos de investimentos mais arriscados com os quais ele se identifique, podendo ser renda variável na Bolsa e até bitcoin. “É importante para o cliente evoluir no conhecimento.”
Patzlaff não acredita em redução forte de Selic e que a taxa livre de risco brasileira ainda vai continuar pagando acima de dois dígitos por muito tempo. Diante disso, ele defende que a carteira conservadora ainda mantenha boa parte dos investimentos em CDI, apimentando o portfólio com bancos médios que podem pagar até 120% do CDI. “O cliente conservador não precisa ficar procurando o melhor investimento. Ele tem que buscar alinhar prazo com objetivos e os investimentos dele. Se eu quero algo daqui a três anos, porque não travar?”, questiona o especialista.
Emissores bancários menores, por outro lado, também demandam atenção, por isso é importante saber sobre a situação financeira e quem está por trás. O episódio envolvendo o Banco Master gerou desconfiança no mercado e levou muitos investidores a questionarem a eficácia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).
Emissão bancária vs. corporativa
Os especialistas ressaltam, no entanto, que o FGC continua sendo uma ferramenta que protege aplicações de até R$ 250 mil por CPF, e que ajuda a promover a diversificação do sistema financeiro. O FGC foi criado justamente para reduzir a concentração bancária e estimular a competição com os grandes bancos. Mas, apesar de oferecer uma camada de segurança, o fundo não deve ser encarado como justificativa para assumir riscos excessivos.
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“A proteção do FGC é um bônus, não uma licença para alocar em qualquer banco só porque promete 130% do CDI”, alerta Braian Largura. Ele diz que o ideal é manter alocações em bancos menores com bons fundamentos e, ainda assim, com percentuais limitados e bem distribuídos dentro da carteira.
Ainda no mundo das emissões bancárias, o sócio da VNT Investimentos defende os produtos isentos emitidos pelos bancões, a exemplo das Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio (LCIs e LCAs) que, mesmo pagando taxas menores, trazem vantagens em relação às já citadas CRIs e CRAs. Títulos isentos dos grandes bancos podem pagar 90% do CDI, mas equivalem, na prática, a um CDB tributado com retorno de cerca de 105% do CDI. “É melhor do que receber 102% do CDI num CRI ou CRA, que carrega risco corporativo”, compara.
O especialista acredita que a maior parte das carteiras de investimento dos brasileiros hoje ainda está concentrada em pós-fixados atrelados ao CDI, e que, para investidores conservadores, priorizar produtos simples, seguros e isentos, mesmo com taxas menores, continua sendo a melhor relação de risco-retorno.