Nesta sexta-feira, as bolsas no exterior fecharam em alta impulsionadas por uma combinação de diversos fatores, tais como avanços nos estudos de tratamentos para a Covid-19, a programação de reabertura da economia dos Estados Unidos e queda menor que o previsto do PIB da China no primeiro trimestre. O PIB do país caiu 6,8% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado, quando a expectativa do mercado era de uma queda maior, de 8,3%.
Nos EUA, o plano de ativação da economia apresentado pelo presidente norte-americano a governadores, prevê que 29 estados americanos estarão prontos para reabrir relativamente em breve, exceto NY, que prorrogou as medidas de isolamento social até 15 de maio.
Aqui no Brasil, apesar da cautela por conta de incertezas no front político, o Ibovespa fechou em alta, refletindo o tom mais positivo do exterior. Ao término do pregão, o Ibovespa tinha alta de 1,51% aos 78.990 pontos com giro financeiro de R$ 19,6 bilhões. Na semana que vem, com o feriado na terça-feira, a agenda de indicadores será esvaziada e o dado do setor externo em março é a única divulgação da agenda doméstica. Na agenda internacional, indicadores preliminares de atividade na Europa e nos EUA serão destaque. São os primeiros indicadores de abril e devem contribuir para mensurar o tamanho do impacto das medidas de distanciamento social.
Setores em foco:
Alimentos:
A produção de carne suína da China no primeiro trimestre caiu 29% na comparação com o 1T19 para 10,38 milhões de toneladas, segundo mostraram dados oficiais na sexta-feira, enquanto o maior produtor do mundo continua sentindo o impacto da peste suína africana que dizimou seu rebanho de suínos. Os agricultores estão tentando reconstruir, mas o reabastecimento leva tempo e a produção de suínos deverá cair ainda este ano. Ainda assim, os preços da carne suína continuam altos, com um salto de 116% em março, impulsionando a inflação ao consumidor. O departamento de estatística chinês disse que o rebanho de porcos da China caiu 14% na comparação anual para 321,2 milhões de cabeças no final do primeiro trimestre, mas estava acima dos 310 milhões de cabeças registrados no final de dezembro, enquanto o rebanho de porcas era de 34 milhões de cabeças.
Nossa visão: embora continuemos monitorando os impactos do surto de coronavírus na recuperação do rebanho de suínos da China após a ASF (um impacto que não se reflete em nosso caso base), esta notícia sugere que o ritmo de recuperação foi semelhante ao pré -coronavírus. Por exemplo, o rebanho suíno da China cresceu 3,5% entre o final de dezembro de 2019 e o final do 1T20. No setor, temos recomendação de Compra para JBS (preço-alvo de R$ 28,00) e BRF (preço-alvo de R$ 22,00).
Bancos:
Os dias de pânico que devastaram os mercados financeiros globais diminuíram ainda mais a participação de investidores estrangeiros na bolsa de valores brasileira. Segundo os dados da B3, esses investidores agora detêm 39,7% do volume médio de negociação diária (ADTV) do mercado; o nível mais baixo desde abril de 2014. A menor participação de estrangeiros ocorre desde meados de 2017 e foi intensificada em 2020 pela maior aversão ao risco causada pelo surto de covid-19; vale ressaltar
que eles retiraram aproximadamente R$ 65,5 bilhões em valor líquido da bolsa em 2020.
Nossa visão: a tendência de redirecionar o fluxo de investimentos de ativos mais arriscados, como ações, para opções mais seguras, como ouro e dólar, é absolutamente natural em tempos incertos. Além disso, as condições macroeconômicas e políticas gerais também não têm ajudado, levando os investidores internacionais a escolher outros mercados. Em um período pós-crise, acreditamos que alguns fatores devem desempenhar papéis cada vez mais importantes para os volumes no mercado de ações local:
(i) é a primeira vez que o Brasil enfrenta uma crise econômica com taxas de juros baixas. Os investidores locais não têm um lugar para se esconder, pois os retornos em renda fixa não são atraentes, como costumavam ser em situações de angústia;
(ii) depois que o nível de gastos do governo subir materialmente, pesando sobre a dívida bruta do Brasil, a atenção do mercado deve voltar para as reformas estruturais há muito esperadas, que incluem as fiscais e tributárias;
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(iii) até 2022, quando os efeitos da atual crise já deveriam ter sido digeridos, teremos as próximas eleições presidenciais. O mercado deve acompanhar de perto seus desenvolvimentos, dada a importância de ter uma administração com uma abordagem pró-mercado e liberal.